Negócios
Por que o ‘Ibovespa’ da sustentabilidade viu sua carteira crescer quase 50%?
Principal índice ESG do mercado brasileiro, o ISE viu sua carteira saltar de 47 ações para 70 em 2023.
O sobe e desce da bolsa brasileira não representa em sua totalidade o desempenho das ações negociadas na B3, mas sim, do seu principal índice acionário: o Ibovespa. Quando uma empresa passa a fazer parte de sua carteira, ela automaticamente ganha mais liquidez e notoriedade – uma vez que gestores de grandes fundos institucionais, ao sair às compras, “levam” as empresas contidas no índice.
Hoje, a B3 conta com mais de 26 índices divididos em índices amplos. E o principal índice ESG do mercado brasileiro, o Índice de Sustentabilidade Empresarial (ISE), viu sua carteira saltar de 47 ações para 70 em 2023. Um aumento de quase 50% em comparação a 2022. Nenhuma ação saiu do índice. Já o Ibovespa teve a retirada de duas companhias da carteira [que passou a valer em janeiro deste ano até abril] e conta agora com 89 ativos.
Entre as empresas que entraram este ano no ISE, estão Aeris (AERI3), Aliansce Sonae (ALSO3), Ambev (ABEV3), BRF (BRFS3), Dasa (DASA3), Eneva (ENEV3), Gafisa (GFSA3), Grendene (GRND3), Guararapes (GUAR3), Hypera (HYPE3), Rede D’Or (RDOR3), SLC Agricola (SLCE3), Santos Brasil (STBP3), Vamos (VAMO3), entre outras.
As ações de maior peso no índice, são Vivo, Renner, Klabin, Bradesco e Engie – representatividade mantida igual a da lista de 2022.
Rigor nas métricas ESG
Para Liliane Rocha, consultora de sustentabilidade e diversidade e colunista do InvestNews, ao ver a inclusão de 23 empresas no índice de sustentabilidade da B3, a pergunta a ser respondida é se haveria baixado o rigor quanto as métricas ambientais, sociais e de governança, em especial, de diversidade.
“Algumas das empresas que constam nessa lista de acréscimo, tiveram ao longo de 2022, mais de um caso público, notificado e midiático de situações relacionadas a racismo”.
liliane rocha, Especialista em Sustentabilidade e Diversidade
Segundo Liliane, uma das varejistas da lista teve pelo menos dois casos em suas lojas de acusação de racismo. Mas ainda que a empresa esteja em processo para melhorar suas práticas, se notificações e ocorrências públicas de racismo fossem um critério, “essas empresas não estariam na carteira”, aponta.
Segundo a fundadora da gestão Kairós, apesar de ter um incentivo por parte da B3 que as empresas melhorem suas práticas ESG, há de se levar em conta o quanto essas métricas estão sendo flexibilizadas ou estejam negligenciando alguns critérios dentro de diversidade, por exemplo.
“O que é preferível: ter uma avaliação mais rigorosa e com menor participação de empresas, ou, uma avaliação flexível com uma maior participação?”
liliane rocha, Especialista em Sustentabilidade e Diversidade
Rocha aponta ser preferível, na sua opinião, mais rigor e menos empresas participando, uma vez que padrões de mercado mais rígidos estimulam as empresas a irem além das práticas atuais de sustentabilidade.
Fabio Alperowitch, gestor do fundo Fama FIC FIA – referência em ESG na América Latina – , também levanta questionamentos sobre o nível de exigência do índice para que as empresas façam parte. Para ele, empresas não sustentáveis estão sendo consideradas como sustentáveis, o que compromete a agenda ESG.
“Um índice de sustentabilidade que tem a metodologia ‘best in class’ em um mercado com universo tão reduzido traz como consequência os níveis de exigência serem baixos, levando a empresas não sustentáveis serem consideradas como sustentáveis, implicando negativamente na agenda da sustentabilidade” .
Para Alexandre Furtado, Presidente do Comitê de Informações ESG da Fundação Getúlio Vargas e Sócio e Diretor de ESG da Grant Thornton, o ISE cumpriu seu papel nesses anos, aumentando o grau de maturidade da governança corporativa das empresas listadas.
“Engana-se quem acha que o aumento do número de empresas componentes do ISE se deu por conta de um conjunto de regras mais brandas […] hoje, a grande maioria das empresas listadas cumprem requisitos de governança que as candidatam a participar do índice.”
Furtado complementa que a metodologia do índice evoluiu para um maior número de quesitos de governança, ambientais e sociais a serem cumpridos pelas empresas.
Metodologia do ISE
Segundo a B3, a metodologia do ISE, que foi alterada em 2021 devido investidores apontarem falta de clareza para a inclusão e exclusão de papéis, ao menos seis dimensões são avaliadas: capital humano, governança corporativa e alta gestão, modelo de negócio e inovação, capital social, meio-ambiente e mudança climática.
E para fazer parte da carteira, as empresas precisam pontuar acima de uma nota de corte e não zerar em nenhum destes quesitos. Apenas as empresas mais líquidas da B3 podem fazer parte do processo composto por um questionário organizado em cinco dimensões, subdivididas em 28 temas segundo a área de atuação.
Questionada, a B3 disse que o número recorde de empresas que participaram do processo seletivo (+38%) para 2023 foi o que motivou o aumento de quase 50% da 18ª carteira do ISE. No entanto, passaram a integrar o índice mais empresas do que as aprovadas no processo.
Veja abaixo a lista completa dos integrantes da carteira do ISE que entrou em vigor em 2 de janeiro:
Ticker | Empresa | Tipo da ação | Part. % |
AERI3 | AERIS | ON NM | 702 |
AESB3 | AES BRASIL | ON NM | 8,334 |
ALSO3 | ALIANSCSONAE | ON NM | 5,701 |
ABEV3 | AMBEV S/A | ON EJ | 19,186 |
AMBP3 | AMBIPAR | ON NM | 2,507 |
AMER3 | AMERICANAS | ON NM | 16,144 |
ARZZ3 | AREZZO CO | ON NM | 13,013 |
ASAI3 | ASSAI | ON EJ NM | 19,293 |
AZUL4 | AZUL | PN N2 | 9,874 |
B3SA3 | B3 | ON ED NM | 2,085 |
BPAN4 | BANCO PAN | PN EJ N1 | 5,674 |
BBDC4 | BRADESCO | PN N1 | 23,379 |
BBAS3 | BRASIL | ON NM | 22,058 |
BRKM5 | BRASKEM | PNA N1 | 17,248 |
BRFS3 | BRF SA | ON ATZ NM | 23,924 |
BPAC11 | BTGP BANCO | UNT N2 | 22,465 |
CBAV3 | CBA | ON NM | 6,049 |
CCRO3 | CCR SA | ON NM | 22,578 |
CMIG4 | CEMIG | PN EJ N1 | 22,289 |
CIEL3 | CIELO | ON EJ NM | 15,711 |
COGN3 | COGNA ON | ON NM | 10,563 |
CPLE6 | COPEL | PNB N2 | 23,063 |
CSAN3 | COSAN | ON NM | 21,069 |
CPFE3 | CPFL ENERGIA | ON NM | 1,706 |
DASA3 | DASA | ON EJ NM | 2,699 |
DXCO3 | DEXCO | ON EB NM | 5,101 |
ECOR3 | ECORODOVIAS | ON NM | 3,776 |
ELET3 | ELETROBRAS | ON N1 | 21,691 |
ENBR3 | ENERGIAS BR | ON NM | 1,4 |
ENEV3 | ENEVA | ON NM | 21,576 |
EGIE3 | ENGIE BRASIL | ON EJ NM | 22,745 |
FLRY3 | FLEURY | ON EJ NM | 14,883 |
GFSA3 | GAFISA | ON NM | 1,628 |
GRND3 | GRENDENE | ON NM | 4,419 |
NTCO3 | GRUPO NATURA | ON NM | 23,244 |
GUAR3 | GUARARAPES | ON NM | 1,461 |
HYPE3 | HYPERA | ON EJ NM | 18,414 |
MYPK3 | IOCHP-MAXION | ON NM | 4,229 |
RANI3 | IRANI | ON NM | 2,203 |
ITSA4 | ITAUSA | PN N1 | 22,087 |
ITUB4 | ITAUUNIBANCO | PN N1 | 22,241 |
KLBN11 | KLABIN S/A | UNT EJ N2 | 23,964 |
LIGT3 | LIGHT S/A | ON NM | 4,715 |
LREN3 | LOJAS RENNER | ON EJ NM | 2,374 |
MDIA3 | M.DIASBRANCO | ON NM | 6,795 |
MGLU3 | MAGAZ LUIZA | ON NM | 21,556 |
MRFG3 | MARFRIG | ON ED NM | 7,542 |
BEEF3 | MINERVA | ON NM | 9,235 |
MOVI3 | MOVIDA | ON EJ NM | 2,757 |
MRVE3 | MRV | ON NM | 6,358 |
NEOE3 | NEOENERGIA | ON NM | 8,299 |
PCAR3 | P.ACUCAR-CBD | ON NM | 7,139 |
RADL3 | RAIADROGASIL | ON NM | 20,794 |
RAIZ4 | RAIZEN | PN N2 | 12,289 |
RDOR3 | REDE D OR | ON EJ NM | 1,903 |
RAIL3 | RUMO S.A. | ON NM | 21,027 |
SAPR11 | SANEPAR | UNT N2 | 9,503 |
SANB11 | SANTANDER BR | UNT | 22,311 |
STBP3 | SANTOS BRP | ON EJ NM | 17,637 |
SIMH3 | SIMPAR | ON EJ NM | 4,197 |
SLCE3 | SLC AGRICOLA | ON EJ NM | 12,361 |
SUZB3 | SUZANO S.A. | ON NM | 22,652 |
VIVT3 | TELEF BRASIL | ON | 23,887 |
TIMS3 | TIM | ON EJ NM | 22,713 |
TRPL4 | TRAN PAULIST | PN EJ N1 | 22,256 |
USIM5 | USIMINAS | PNA N1 | 10,093 |
VAMO3 | VAMOS | ON EJ NM | 10,888 |
VIIA3 | VIA | ON NM | 10,359 |
VBBR3 | VIBRA | ON EJ NM | 20,093 |
WEGE3 | WEG | ON NM | 20,642 |
Veja também
- BB Asset busca parcerias para alcançar R$ 2 trilhões em ativos
- Imóveis mundiais perderão 9% do seu valor por conta de tragédias climáticas
- A boiada passa, chega a conta e fica a pergunta: quem vai pagar?
- Desastres climáticos: a função social das empresas e o novo papel do investidor
- Cadeia produtiva é pilar para estabelecer círculo virtuoso da agenda ESG