Se a Petrobras (PETR3; PETR4) aumentar seus investimentos em cerca de 18% nos próximos cinco anos, como prevê o mercado, a estatal pode ter que reduzir o valor pago em dividendos na ordem de US$ 8 bilhões para o período de 2022 a 2026, segundo o BTG Pactual. A petroleira anuncia seu plano estratégico de investimentos nesta quinta-feira (25).
Na última sexta-feira, a Petrobras confirmou as previsões de que seu plano plurianual (capex) deve ficar mais robusto frente aos cinco anos anteriores – em torno de US$ 60 bilhões e US$ 70 bilhões – valor que será confirmado no encontro com investidores esta semana. O programa deve ficar até US$ 15 bilhões acima do projetado no final de 2020, quando a intenção era preservar o caixa da empresa, em meio à pandemia.
Enquanto nos anos anteriores a petroleira focou seus investimentos na produção em ativos do pré-sal, enquanto outras áreas receberam menos recursos, o novo plano deve ser mais focado em acelerar a exploração, que caiu nos últimos anos, conforme a Petrobras optou pela desalavancagem (redução do nível de endividamento).
Em relatório, os analistas do BTG Pedro Soares, Thiago Duarte e Daniel Guardiola afirmam que a mudança de foco seria um importante indício da alocação de capital da Petrobras no médio prazo, “sinalizando que a empresa mais uma vez se vê em boa posição para reacender o crescimento da produção com base na sua estrutura de capital mais enxuta e expectativas sólidas do preço do petróleo.”
A equipe do banco ressalta que essa mudança de foco deve ser vista com “bons olhos”, já que os retornos da companhia melhoraram nos últimos anos e uma boa parcela disso pode ser atribuída, segundo os analistas, à maior participação em operações lucrativas na área do pré-sal.
“Além disso, com um dos custos de equilíbrio mais baixos do mundo, o pré-sal desempenha um papel importante na preparação da PBR para se tornar um dos players mais eficientes e duradouros em um cenário de preços baixos do petróleo no longo prazo”, diz o relatório do BTG.
Para a Levante Investimentos, o plano não deverá afetar o endividamento da companhia no longo prazo, “uma vez que a Petrobras já vem progredindo em seu processo de desalavancagem com uma forte geração de caixa (aproveitando a alta de preços do petróleo no mercado internacional) e seu programa de desinvestimentos”.
Segundo os analistas da casa, esses fatores permitiram à empresa aprovar uma nova rodada de dividendos, no valor de R$ 31 bilhões”. A cotação do barril de petróleo no mercado internacional (Brent), por exemplo, é negociada hoje em torno de US$ 80, um aumento em torno de 60% em relação ao patamar de um ano atrás..
No terceiro trimestre, a Petrobras reverteu um prejuízo de R$ 1,5 bilhão do mesmo período do ano passado, ao registrar um lucro líquido R$ 31,14 bilhões.Já a receita da empresa subiu 71,9% no período, para R$ 121,5 bilhões, beneficiada pela valorização do petróleo tipo Brent (negociado em Londres), pelo aumento dos volumes e preços de derivados no mercado interno e pela maior receita de gás natural e energia elétrica.
No ano até o fechamento desta terça-feira (23), a ação preferencial da Petrobras (PETR4) acumula alta de 7,42%, enquanto o Ibovespa recua 12,9% no mesmo período.
Por que Petrobras pode reduzir seus dividendos
Um dos efeitos colaterais de um aumento nos investimentos em cerca de 18% seria uma redução dos proventos distribuídos aos acionistas no futuro, conclui o BTG em seu documento. Com base na cotação de fechamento de PETR4 no dia 21 de novembro, o banco prevê que para cada 10% de elevação nos investimentos esperados para 2022, o dividend yield potencial da petroleira (retorno da ação medido pelo pagamento dos proventos) pode cair 1,3 ponto percentual.
O BTG considerou um aumento da ordem de 20% nos investimentos para os próximos cinco anos, além da atual curva dos preços futuros do petróleo, para concluir que o plano de investimentos da Petrobras pode resultar em um corte de US$ 8 bilhões nos dividendos (ou uma redução anual de 2,7 pontos percentuais do dividend yield).
“Embora isso seja negativo, acreditamos que não mudará materialmente a percepção dos investidores em relação ao histórico da ‘política de dividendos’ da Petrobras, dada a posição atual das ações”, disseram os analistas do banco.
Analistas da Levante Investimentos concordam com a visão do BTG. “Apesar de um investimento maior em capex poder reduzir o pagamento de dividendos, a Petrobras possui hoje uma alavancagem saudável, tendo inclusive atingido sua meta de endividamento antes do previsto, o que a deixa melhor posicionada para os próximos anos”, disseram em relatório na semana passada.
Na visão do BTG, as ações da petroleira são negociadas hoje acima de 20% do dividend yield previsto para 2022, consideradas baratas. No entanto, eles acrescentaram que preferem manter uma visão neutra até que os riscos políticos continuem se sobrepondo aos fundamentos da empresa.
“Embora concordemos que o balanço da Petrobras agora permite que a empresa aumente os investimentos em exploração e produção, achamos que os investidores não estarão dispostos a perpetuar as vantagens potenciais de tais projetos nem distribuição de dividendos, pelo menos até o ruído sobre a política de preços e estratégia da empresa se dissipar, o que não esperamos que aconteça antes da eleição do Brasil no ano que vem”, concluíram os analistas.
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