Se você estava na expectativa de saber quem vai comprar a empresa de diagnósticos médicos Alliar (AALR3), sentimos muito por não ter uma resposta. Embora a companhia tenha tomado os holofotes das notícias do mercado financeiro nas últimas semanas, após um vai e vem de anúncios envolvendo a Rede D´Or (RDOR3), o empresário Nelson Tanure, e por último, o grupo Fleury (FLRY3), ainda não há nada concreto.
O fato é que a Alliar ganhou visibilidade depois que a Rede D’Or anunciou uma oferta de aquisição de ações (OPA) para adquirir 100% de seu controle ao preço de R$ 11,50 por papel. Entretanto, a operação não foi adiante. No meio do caminho, os fundos de investimentos geridos pelo Pátria venderam a fatia de 21% que tinham na Alliar – um pouco mais de 25 milhões de ações – para o fundo Fonte de Saúde, sob gestão da MAM Asset Management, do empresário Nelson Tanure, conhecido por atuar na reestruturação de empresas.
Além disso, os acionistas controladores (que incluem, dentre outros investidores, os fundadores da Alliar e Luis Barsi Filho, o maior investidor pessoa física da bolsa) fizeram um pacto vinculando as suas ações, que representam aproximadamente 50,46% do capital da companhia, a um bloco controlador.
No documento, os acionistas incluíram, dentre outras obrigações, não vender as ações da Alliar por um período de 180 dias. Com a decisão, a Rede D’Or, que queria o controle da empresa, recuou e desistiu do processo.
“A Rede D’Or desistiu porque dificilmente conseguiria obter o controle, a não ser que negociasse a compra de ações com Tanure, que tinha acabado de entrar na empresa, ou com o bloco de controle que queria um valor maior do que a empresa estava disposta a pagar. Além disso, também demoraria para efetivar a negociação, porque as ações não poderiam ser vendidas por um período de 180 dias”, reitera Carlos Herrera, analista da casa de investimentos Condor Insider.
O analista explica ainda que este processo só contribuiu para os acionistas controladores entenderem que a companhia poderia custar mais do que os R$ 11,50 por ação que a rede de hospitais queria pagar na oferta de aquisições. De acordo com fontes do mercado, o Pátria pode ter embolsado entre R$ 12 e R$ 14 por papel no processo de venda de sua fatia ao Tanure. “Juntos os controladores viram que estão mais preparados para maximizar o valor da venda e que outras empresas também estão dispostas a comprar a Alliar”, disse o analista.
Essas movimentações são um indício de que a Alliar será adquirida em algum momento por algum grande player do setor de saúde. Mas não se sabe por quem, nem quando isso deve ocorrer. “Há uma probabilidade alta dela ser comprada. E é até normal que isso ocorra em razão do processo de consolidação de companhias do segmento de saúde”, explica Herrera. Nessa semana, por exemplo, a SulAmérica (SULA11) apresentou uma proposta para a aquisição de até 100% do capital da operadora HB Saúde. Veja mais informações aqui.
Em relatório que trata sobre a desistência da oferta de compra das ações da empresa pela Rede D’Or, Samuel Alves e Yan Cesquim, analistas do BTG Pactual, afirmam que a “saga da aquisição dos ativos da Alliar ainda não chegou ao fim”, já que o Fleury publicou recentemente um fato relevante confirmando que “iniciou estudos preliminares visando uma potencial combinação de negócios”.
Empresa mais evidente
Ainda de acordo com Herrera, a Alliar deve ganhar maior evidência perante o mercado, já que desde 2019, quando iniciou um processo de turnaround (recuperação) com diversas mudanças – dentre eles a troca de executivos-, seus resultados têm evoluído.
No segundo trimestre de 2021, por exemplo, a empresa reverteu o prejuízo de R$ 84 milhões apurado no mesmo período do ano passado e registrou lucro líquido de R$ 10,4 milhões.
“Diante desses fatores, é provável que o papel suba e o mercado pague um múltiplo (relação entre o preço do mercado de uma ação e suas variáveis operacionais) mais alto”, explicou o especialista da Condor, que tem recomendação de compra para os papéis da companhia e preço-alvo de R$ 18 em 12 meses.
Entretanto, ainda existe uma preocupação das casas de investimentos em relação à performance da companhia. Após divulgação do balanço referente ao segundo trimestre, os analistas do BTG Pactual saudaram a recuperação da empresa, mas afirmaram acreditar que “os resultados provavelmente foram ajudados pelos testes da covid-19”, e que, em comparação com o segundo trimestre de 2019, os números não foram tão impressionantes.
“Continuamos neutros em relação à Alliar devido à incerteza em torno de uma recuperação sustentável na receita e aos riscos associados ao seu balanço patrimonial”, afirmaram Samuel Alves Brazil e Yan Cesquim do BTG. Na ocasião, o banco de investimento manteve recomendação neutra para os papéis da empresa, mas elevou o preço-alvo de R$ 10 para R$ 11.
Analistas do Itaú BBA também afirmam em relatório que há algum tempo a Alliar enfrenta um cenário desafiador para retomar o crescimento em seu negócio principal e repassar aumentos de custos.
Isso porque a empresa precisa lidar com os planos de saúde que querem impor condições comerciais para reduzir seus próprios custos e, na outra ponta, o aumento da concorrência, já que os hospitais verticalizados (que também atuam com laboratórios próprios) ganham participação de mercado ao oferecer cada vez mais serviços para abraçar toda a jornada dos pacientes.
“Diante disso, acreditamos que a Alliar provavelmente continuaria a enfrentar tempos difíceis no curto prazo e que as fusões e aquisições seriam necessárias em algum momento no futuro”, explicaram Gustavo Miele, Emerson Vieira e Lucca Generali Marquezini.
Veja os fatos que movimentaram a companhia nos últimos dias:
Anúncio da OPA pela Rede D’Or
No dia 15 de agosto, a Rede D’Or informou, por meio de fato relevante, que seu conselho de administração aprovou uma oferta pública voluntária de aquisição de ações (OPA, na sigla em inglês), com o objeto de adquirir até 118.292.816 ações ordinárias da Alliar, que representam 100% do capital social.
A companhia pretendia pagar o preço de R$ 11,50 por ação, o que representava um prêmio de aproximadamente 21,8% em relação à cotação de fechamento dos papéis da Alliar no pregão anterior da B3, e de 12,6% em relação ao preço médio de fechamento ponderado por volume dos 30 dias anteriores. O valor de desembolso seria de R$ 1,36 bilhão. Naquele dia, os papéis da Alliar tiveram uma valorização de quase 20%.
Compra de ações
Nos dias 17 e 18, a Rede D’Or anunciou por três vezes a compra de papéis da Alliar. Primeiro, a empresa comprou 2.538.600 ações, ao preço de R$ 11,25 cada, o que representou um total de R$ 28,5 milhões. Depois, adquiriu mais 1.106.500 ações, por R$ 11,42 por papel, ou R$ 12,6 milhões e, por fim, comprou mais 63.000 papéis, por R$ 1,46 cada, o que gerou um desembolso de R$ 721,9 mil.
Ao somar todas as operações, a companhia passou a ter 3,708 milhões de ações da Alliar, o que correspondeu a um investimento de R$ 42 milhões.
Venda para os fundos do Tanure
No dia 19 de agosto, a Alliar informou que os fundos de investimentos geridos pelo Pátria venderam a fatia de 21% que tinham na Alliar – um pouco mais de 25 milhões de ações- para o fundo Fonte de Saúde, sob gestão da MAM Asset Management, do empresário Nelson Tanure, conhecido por atuar na reestruturação de empresas.
Acordo de acionistas
No dia 20 de agosto, a Alliar comunicou a realização de um acordo de acionistas, que inclui, dentre outros investidores, os fundadores Sergio Tufik e Roberto Kalil Issa, vinculando todas as ações detidas por eles, que atualmente totalizam cerca de 50,46%, em um único bloco controlador.
Fleury na jogada
No dia 30, o grupo de medicina diagnóstica Fleury (FLRY3) afirmou que iniciou estudos preliminares para avaliar uma potencial transação envolvendo a Alliar.
Desistência da OPA pela Rede D’Or
No dia 31, a Rede D’Or informou que não iria proceder com o lançamento da oferta pública (OPA) “tendo em vista a ocorrência de eventos que resultaram na impossibilidade lógica de uma oferta para aquisição do controle”.
A companhia mencionou o acordo de acionistas vinculando ações representativas de aproximadamente 50,46% do capital social, que envolvia a obrigação de não vender as ações por um período de 180 dias, além da “redução da dispersão das ações”, em razão de aquisições realizadas recentemente “por certos acionistas”, neste caso o fundo de Nelson Tanure. Com a desistência, os papéis da Alliar caíram mais de 16% no dia.
Ações da Alliar desde 13 de agosto
Os papéis da Alliar estão abaixo do preço do IPO em R$ 20. No ano, a companhia acumula valorização de 3,60%, mas recua 22,35% na semana e cai 9,16% no mês.*
13/08/2021 | R$ 9,44 |
16/08/2021 | R$ 11,32 |
17/08/2021 | R$ 11,49 |
18/08/2021 | R$ 12,33 |
19/08/2021 | R$13,06 |
20/08/2021 | R$ 14,50 |
23/08/2021 | R$ 14,69 |
24/08/2021 | R$ 14,6 |
25/08/2021 | R$ 15,31 |
26/08/2021 | R$ 15,04 |
27/08/2021 | R$ 14,81 |
30/08/2021 | R$ 15,25 |
31/08/2021 | R$ 12,66 |
01/09/2021 | R$ 12,02 |
02/09/2021 | R$ 11,93 |
03/09/2021 | R$ 11,50 |
*dados levam em conta o fechamento do pregão do dia 03 de setembro.