A distribuição de R$ 1,49 bilhão em dividendos e juros sobre capital próprio da Guararapes, dona da Riachuelo, garantiu um fim de ano generoso para a família Rocha, fundadora e controladora da varejista de moda.

Do total anunciado nesta quarta-feira (17), cerca de R$ 1,1 bilhão deve ficar com os três principais integrantes do bloco controlador — Élvio, Flávio e Lisiane Gurgel Rocha — que juntos concentram aproximadamente 74,6% das ações ordinárias da empresa.

A decisão ocorre em meio a uma corrida de companhias brasileiras para antecipar o pagamento de dividendos ainda em 2025, antes da mudança na legislação tributária que entra em vigor no próximo ano.

A partir de 1º de janeiro de 2026, lucros e dividendos pagos a uma mesma pessoa física acima de R$ 50 mil por mês passarão a ser tributados em 10% de imposto de renda na fonte, encerrando décadas de isenção. Para preservar a eficiência tributária, empresas interessadas precisam formalizar a distribuição até 31 de dezembro de 2025, mesmo que o pagamento em dinheiro ocorra posteriormente.

Nesse contexto, a Guararapes aparece entre as companhias mais agressivas na antecipação de proventos, ao decidir praticamente devolver aos acionistas os recursos obtidos com a venda do Midway Mall, shopping localizado em Natal (RN).

O ativo foi vendido por R$ 1,61 bilhão, e parte do valor — que originalmente seria recebida em parcelas — foi antecipada por meio de uma operação financeira estruturada, permitindo concentrar a distribuição ainda neste ano.

Para efeito de comparação, entre 2023 e julho de 2025, a Guararapes distribuiu cerca de R$ 120 milhões em dividendos e JCP. O pacote anunciado agora, de R$ 1,49 bilhão, é mais de 12 vezes esse montante, evidenciando o caráter extraordinário da operação, ancorada na venda do Midway Mall.

Os Rocha

Os principais beneficiários do dividendo são herdeiros de Nevaldo Rocha, fundador da Riachuelo e um dos nomes mais emblemáticos do varejo brasileiro.

Élvio Gurgel Rocha e Flávio Rocha (ex-CEO e hoje chairman da empresa), filhos do empresário morto em 2020, são hoje os dois maiores acionistas individuais da Guararapes e concentram juntos mais da metade do capital da companhia, com pouco mais de 27% cada. Lisiane Gurgel Rocha também integra o bloco familiar controlador e detém uma participação de 19,85%.

A concentração acionária garante à família não apenas o controle da empresa, mas também a maior fatia dos proventos agora aprovados.

Flávio Rocha, presidente do conselho da Guararapes, dona da Riachuelo
Flávio Rocha, presidente do conselho da Guararapes, dona da Riachuelo (Bloomberg)

Pelas participações atuais, Élvio deve receber cerca de R$ 409 milhões, Flávio, aproximadamente R$ 406 milhões, e Lisiane, outros R$ 296 milhões, enquanto os demais acionistas ficam com cerca de R$ 378 milhões.

O anúncio foi bem recebido pelo mercado, com as ações da Guararapes reagindo em alta após a divulgação. As ações sobem mais de 10% nesta quinta-feira (18).