As expectativas do mercado apontam para uma safra agrícola recorde no país neste ano, um cenário favorável para o Banco do Brasil, de acordo com a CEO da instituição, Tarciana Medeiros. O BB, que é o segundo maior banco do país e o principal financiador do agronegócio do país, espera expandir seus negócios e reduzir a inadimplência em sua carteira de R$ 400 bilhões destinada ao setor.
Depois de um ambiente climático desafiador, com fortes secas e enchentes em 2024, as chuvas se normalizaram. Isso deve ampliar a oferta de produtos agrícolas, garantindo custos mais previsíveis para o produtor rural, explica Tarciana. “Quando se observa o histórico de anos com safra recorde, vê-se uma cesta básica mais controlada.”
O desempenho do agronegócio tem impacto direto sobre a carteira do BB. Em 2024, a taxa de inadimplência para créditos com mais de 90 dias em atraso subiu para 3,32%, em grande parte por conta de empréstimos ao setor rural. “O ano passado foi difícil para muitos produtores, mas esperamos que as taxas de default diminuam em 2025”, afirma Medeiros.
Perspectivas
A produção agrícola brasileira deve crescer 9,4%, chegando a 325,7 milhões de toneladas na temporada 2024/25, impulsionada especialmente pela soja, mas também pelo milho, arroz, trigo e feijão. No ano anterior, os produtores sofreram com queda de preços e juros elevados, o que resultou em um salto nos pedidos de recuperação judicial.
Apesar da expectativa de safra recorde, alguns produtores ainda devem recorrer a instrumentos de proteção contra credores, como a recuperação judicial, já que os custos de financiamento permanecem altos, diz André Pessôa, da consultoria Agroconsult.
Por conta dos problemas na safra anterior, a inflação de alimentos subiu e golpeou a popularidade do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que atingiu seu menor nível histórico em três mandatos.
O aumento nos preços contribuiu também para que o Banco Central voltasse a elevar a taxa básica de juros. Os formuladores de política monetária, liderados por Gabriel Galípolo, subiram a taxa Selic para 13,25% neste mês e prometeram um terceiro aumento de um ponto percentual integral no mês que vem.
Lula pediu à sua equipe econômica que apresentasse medidas para baixar os preços e facilitar o acesso dos brasileiros ao crédito. Diversos ministérios, incluindo Fazenda, Agricultura e Desenvolvimento e Comércio, discutem alternativas como a redução de tarifas de importação para alguns itens. Ainda assim, o governo também conta com a safra recorde para trazer algum alívio.
Por enquanto, o governo anunciou um plano para expandir o crédito consignado a funcionários de empresas privadas, visando reduzir juros para trabalhadores endividados. A iniciativa representa outra oportunidade para o Banco do Brasil, que já detém a maior carteira de consignado para servidores públicos, de R$ 137 bilhões.
Crescimento
O lucro líquido do Banco do Brasil em 2024 foi de R$ 37,9 bilhões, 6,6% acima do registrado no ano anterior. Em 2025, a instituição projeta ganhos entre R$ 37 bilhões e R$ 41 bilhões, mesmo em meio a um cenário de juros menos favorável.
Questionada sobre possíveis pressões políticas para ampliação de crédito, Medeiros nega qualquer interferência. “O presidente Lula sabe que o crédito vai crescer de acordo com as condições de mercado”, diz. “Não há e nunca houve qualquer apelo para agir fora das boas práticas.”
Ainda assim, o banco negocia suas ações com desconto no mercado, em parte por receio de interferências do governo. “Somos acompanhados de perto por acionistas públicos e privados e seguimos protocolos rigorosos de governança”, diz ela, acrescentando que há certo “preconceito” em relação ao amplo volume de crédito rural. “A carteira de agronegócio tem garantias muito maiores, o que proporciona segurança ao banco e mitiga riscos.”