Os esforços da montadora chinesa BYD no Brasil podem ser vistos pelos investimentos recentes como a aquisição da fábrica da Ford na Bahia e a parceria com a empresa de transporte por aplicativo 99 anunciada na última quarta-feira (5). Mas Alexandre Baldy, conselheiro da empresa no Brasil, diz que há outros projetos para expansão no país
“Com certeza teremos outros projetos para expansão no Brasil, sempre abrindo caminho, rumo à liderança do mercado automotivo no país e à construção de um futuro mais verde e sustentável. A BYD acredita no Brasil”, disse o executivo em entrevista ao InvestNews.
A BYD investirá R$ 3 bilhões em um complexo industrial em Camaçari, na Bahia, previsto para começar a operar no segundo semestre de 2024. O grupo afirmou que a produção nacional de veículos elétricos permitirá preços mais competitivos.
A gigante chinesa, principal concorrente da Tesla, desembarcou no mercado brasileiro em 2015, quando inaugurou sua primeira fábrica de montagem de ônibus elétricos, em Campinas (SP).
A companhia quer fabricar carros elétricos no Brasil já a partir do ano que vem. O objetivo é estabelecer uma cadeia de suprimentos completa no Brasil para a produção dos veículos – o que pode, inclusive, atrair outras empresas chinesas especializadas na produção de elétricos.
“A BYD enxerga o mercado brasileiro como o mais importante na América Latina e com enorme potencial de transformação”
Alexandre Baldy, conselheiro da BYD no Brasil
A BYD pretende iniciar a operação de três fábricas ao mesmo tempo: uma para a produção de chassis de ônibus e caminhões elétricos; outra focada em automóveis híbridos e elétricos; e a terceira focada no processamento de lítio e ferro fosfato para o mercado externo.
Segundo a companhia, a fábrica de automóveis híbridos e elétricos terá capacidade estimada em 150 mil unidades ao ano, podendo chegar a 300 mil. O investimento deve gerar mais de 5 mil empregos e pretende priorizar fornecedores locais, de acordo com a empresa.
A BYD vem ganhando cada vez mais espaço no mercado na produção de veículos elétricos. A chinesa, hoje a maior concorrente da Tesla, ultrapassou a empresa de Elon Musk no segundo trimestre de 2023 com vendas recordes de veículos híbridos e elétricos.
Perspectivas para carros elétricos no Brasil
Muito desse movimento se dá pelo barateamento dos automóveis e o aumento dos carregadores públicos e semipúblicos por todo o Brasil. O país ultrapassou a marca de 150 mil veículos elétricos em circulação, chegando a 152.453 em maio.
Segundo dados da Associação Brasileira do Veículo Elétrico (ABVE), foram registrados 6.435 emplacamentos em maio deste ano, na maior marca mensal de vendas de veículos leves eletrificados desde o início da série histórica – e o número tende a crescer para o mês de junho.
Ricardo David, sócio-diretor da Elev, empresa especializada em soluções para a eletromobilidade, acredita que este é o caminho para a eletrificação do país.
“Os dados deixam claro que o Brasil tem o potencial de se tornar um grande símbolo da eletrificação, principalmente considerando a nossa matriz energética limpa e o potencial que é disponibilizado pela eletrificação das frotas de ônibus. Ao meu ver, esse é o primeiro grande passo para um futuro que é irreversível e imensurável”, afirma.
A Volkswagen é outra empresa que já anunciou planos para investir no segmento de carros elétricos no Brasil. Na última semana, a montadora informou que pretende investir 1 bilhão de euros no país até 2026, como parte de uma estratégia de crescer 40% no país nos próximos anos.
A alemã também pretende lançar dois modelos totalmente elétricos no Brasil este ano. Até 2025, 15 novos veículos elétricos e híbridos deverão ser lançados no país.
A meta da Volkswagen é crescer 40% no Brasil até 2027. Na América do Sul, a montadora espera que sua fatia de mercado expanda 11% anualmente até 2030.
Segundo os dados da ABVE, no primeiro semestre deste ano, houve um aumento de 59% das unidades de carros elétricos vendidas em relação ao mesmo período de 2022. Os números consolidam o primeiro semestre de 2023 como o melhor da série histórica da ABVE.
“Em outros mercados do mundo, principalmente China e Índia, já vemos modelos elétricos sendo vendidos por valores abaixo dos seus concorrentes a combustão. Isso, combinado com o baixo custo de manutenção dos veículos elétricos, é uma verdadeira revolução para a indústria”, diz Ricardo David, da Elev.
Segundo o empresário, os investimentos recentes na produção de ônibus elétricos podem representar uma economia para os cofres públicos e tendem a ser um vetor para a diminuição do preço das passagens. “Os ônibus elétricos podem trazer uma economia de até 70% nos custos operacionais”, explica.
Incentivos ainda engatinham
O governo da Bahia anunciou na última terça-feira (4) medidas para estimular a produção local de veículos elétricos. Além da isenção do ICMS até 2032, prevista em lei, haverá isenção completa de IPVA para os carros que são fabricados e que circulam no estado, conforme anunciado pelo governador Jerônimo Rodrigues (PT).
Contudo, Ricardo David julga que o carro elétrico só terá a sua popularização quando o custo de entrada for revisto – atualmente, a maior barreira para expansão desse mercado. “O investimento hoje em um automóvel elétrico representa uma economia, a longo e médio prazo, para os usuários”, completa.
A BYD acredita que os órgãos governamentais trabalharão para conceder outros incentivos fiscais, como a revisão do PIS/Cofins e do IPI, de âmbito federal, cobrados para os carros elétricos.
“A política de incentivos deve contemplar tanto a produção quanto o consumo e algumas iniciativas já estão em pauta com o governo federal do Brasil.
O presidente Lula já expôs a possibilidade de estudar financiamentos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) com ‘uma linha factível’ para que o governo federal possa estimular a produção e a compra de carros elétricos, por exemplo”, diz Alexandre Baldy, da BYD.
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