O TikTok está com as horas contadas nos Estados Unidos. A ByteDance, dona do aplicativo, será proibida de atuar no país, a não ser que venda suas operações em até seis meses. Nessa corrida contra o tempo, interessados não faltam.
Afinal, a rede social de vídeos curtos está nas telas dos smartphones de mais de 170 milhões de cidadãos americanos e é o aplicativo mais baixado do mundo. Segundo o The Wall Street Journal, no terceiro trimestre do ano passado, a ByteDance, que é uma empresa de capital fechado, gerou uma receita de US$ 30,9 bilhões, com um um aumento anual de 43%.
Um dia depois da Câmara dos Representantes dos EUA aprovar, por 352 votos a favor e 65 contra, um projeto de lei que força o TikTok a se desinvestir da sua controladora chinesa ou, do contrário, ser banido de todos os dispositivos dos EUA, o ex-secretário do Tesouro durante o governo Trump, Steven Mnuchin, surgiu como um dos potenciais compradores. As declarações foram feitas em entrevista à CNBC, sem dar detalhes.
Antes mesmo da votação pelos deputados em Washington, o assunto foi tratado no evento de inovação SXSW, ocorrido em Austin (EUA) até o último domingo (10). Na ocasião, a pauta ainda tramitava em comitês da Câmara e o professor Scott Galloway previa que, “antes de ser banido, o TikTok será comprado pelo Ocidente”. “Há muito dinheiro em jogo”, afirmou.
Questionado durante uma gravação especial do podcast “Pivot” sobre uma potencial empresa interessada no TikTok, Galloway, que é professor de Marketing na Escola de Negócios da Universidade de Nova York (NYU) e autor de livros sobre as big techs, disse acreditar que a aquisição deve partir de “um consórcio de empresas ocidentais”. Porém, sem citar nomes.
Amigos, amigos; eleição à parte
Aliás, a aprovação da proposta pelos deputados foi uma rara decisão bipartidária no Capitólio. O assunto é um dos poucos que têm consenso na esfera política em Washington, em pleno ano de eleições presidenciais que caminha para um tira-teima entre Donald Trump e Joe Biden em novembro, sob a alegação de ameaça à segurança nacional.
”Muitos veem o TikTok como uma ameaça à segurança nacional dos EUA, uma vez que a lei chinesa exige que as empresas do setor privado respondam ao Partido Comunista Chinês”
Ian Bremmer, presidente do Eurasia Group, na newsletter diária GZero
Segundo o cientista político, os congressistas dos EUA temem que Pequim possa transformar os dados dos cidadãos americanos em “armas”, usando os algoritmos para influenciar o pleito deste ano, dividindo ainda mais um país já polarizado.
Porém, enquanto, de um lado, Biden já sinalizou que assinaria o projeto, se aprovado pelo Senado; de outro, Trump surpreendeu ao argumentar contra a proibição do aplicativo chinês, dizendo que isso beneficiaria o Facebook, “dobrando os negócios” da empresa de Mark Zuckerberg, “que trapaceou nas últimas eleições”.
Vale lembrar que o republicano liderou a ameaça original dos EUA contra o TikTok durante seu mandato. Mas a mudança de posição é um sinal de que o ex-presidente reconhece o enorme apelo da plataforma entre os eleitores mais jovens – muitos dos quais estão desencantados com Biden. Tanto que houve uma melhora na avaliação de Trump nas pesquisas.
Além disso, a mudança de opinião de Trump ocorreu dias depois de uma reunião com o megadoador republicano Jeff Yass, que possui uma participação de 15% na ByteDance. Já a disposição do líder da maioria no Senado, Chuck Schumer, de levar o projeto ao plenário do Senado, e como será a votação, permanece incerta.
Tiro pela culatra
A preocupação em torno do TikTok não é apenas com o ano eleitoral. Segundo a Eurasia, o risco está na coleta e transmissão de dados de cidadãos dos EUA para a China. Entre os exemplos, a newsletter da consultoria americana cita o histórico de navegação, localização e contatos dos usuários etc.
Ao que tudo indica, porém, ninguém sairá ileso dessa disputa quando o tique-taque do relógio parar. Segundo a Reuters, a possível medida para forçar a ByteDance a alienar os ativos do TikTok nos EUA pode levar a contestações judiciais por parte da empresa chinesa, que podem ser apresentadas em até 160 dias após a legislação se tornar lei.
Aliás, o TikTok lançou uma campanha alertando que o aplicativo corre o risco de ter suas operações encerradas nos EUA, o que poderia afetar também 7 milhões de pequenas empresas. Em reação, congressistas americanos receberam ligações e mensagens em tom de ameaça de cidadãos – adolescentes, principalmente – que estavam furiosos com a notícia.
Do outro lado do mundo, o episódio esquentou a guerra fria sino-americana, escalando a tensão geopolítica. O Ministério das Relações Exteriores da China afirma que os EUA nunca encontraram provas de como o TikTok põe em perigo a segurança nacional. “Mas nunca deixaram de ir atrás do TikTok”, diz.
Segundo o porta-voz, Wang Wenbin, os EUA têm um “pensamento de gangster” e recorrem “a atos de intimidação” quando não conseguem ter sucesso na concorrência leal e agem “roubando aqueles que parecem prosperar”. No entanto, as autoridades chinesas alertam que esse modo de agir pode acabar saindo pela culatra para os próprios EUA.
“Se o TikTok for banido, 170 milhões de usuários (especialmente os mais jovens) do TikTok vão se revoltar. Se tudo continuar igual, milhões de americanos podem continuar vulneráveis à manipulação estrangeira”
Ian Bremmer, presidente do Eurasia Group, na newsletter diária GZero
Dados do Pew Research Center mostram que um em cada três adultos americanos utilizavam o TikTok em 2023, o que representa um crescimento de 10 pontos percentuais (pp) em relação a 2021. Além disso, um terço dos adultos americanos com menos de 30 anos considera o TikTok uma fonte não apenas de entretenimento, mas também de notícias.
Veja também
- Se quiser falar com Trump, procure Elon Musk primeiro. O CEO do TikTok já sabe disso
- O TikTok está se tornando uma fonte popular de notícias para adultos americanos
- Sol de Janeiro, a empresa gringa que usa cores e praias brasileiras como estratégia de marketing
- TikTok enfrenta momento crucial que pode decidir seu futuro nos Estados Unidos
- A ascensão do CapCut, da ByteDance, ameaça a hegemonia da Adobe