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‘Todo mundo vai investir em criptomoedas no Brasil’, diz diretora da Hashdex
Investidores de ETFs da gestora já representam 27,8% do universo de 478,7 mil pessoas físicas que aplicam nesta classe de ativos.
Enquanto o mercado acionário se recupera após forte volatilidade, o universo de criptoativos ganha tração entre o investidor pessoa física, agora disponível na B3 por meio de ETFs (fundos de índice). Nesse contexto, a gestora de recursos Hashdex apostou suas fichas na popularização deste investimento no Brasil.
Da família de 50 ETFs de renda variável listados na B3, cinco são de criptomoedas: HASH11 (criptomoedas), BITH11 (bitcoin), QBTC11 (bitcoin) e os focados em ethereum, QETH11 e ETHE11. Destes, três saíram da Hashdex. O primeiro a ser lançado no Brasil foi o HASH11, em abril deste ano.
Ele replica o índice Nasdaq Crypto Index (NCI), com uma cesta de oito criptomoedas. Até outubro, o HASH11 era o terceiro ETF mais negociado na bolsa, com uma média de 140 mil investidores e R$ 2,8 bilhões em recursos sob gestão. De acordo a B3, em número pessoas físicas, o HASH11 figurava em setembro entre os 10 ETFs com maior número de investidores de varejo.
Em entrevista ao InvestNews, Roberta Antunes, chefe de expansão da Hashdex, afirma que o boom do mercado de criptoativos se deve principalmente à regulação brasileira, que percebendo os desafios de investir apenas por meio de exchanges (corretoras focadas em cripto), decidiu simplificar o processo, facilitando a exposição à nova classe de ativos.
Segundo Roberta, o Brasil é pioneiro e está muito à frente dos EUA no quesito regulatório. “A partir do momento em que surgem ETFs de criptomoedas no Brasil, o investidor pode usufruir do crescimento destes ativos, que é promissor, de forma simples e regulada”, aponta.
Roberta atribui o sucesso da Hashdex à evolução do investimento em criptomoedas no Brasil. Hoje, a gestora conta com 250 mil investidores e R$ 5,6 bilhões sob gestão, considerando seus três ETFs (HASH11; BITH11; ETHE11) e seis fundos. Dos 478,7 mil investidores pessoa física de ETFs cadastrados na B3 em outubro, 27,8% eram investidores de ETFs da Hashdex.
Na conversa a seguir, Roberta explica os planos de consolidação da gestora no mercado brasileiro e produtos que podem integrar a prateleira dos investidores no futuro. Confira:
InvestNews – A regulação de criptoativos brasileiros parece ter avançado se comparada aos Estados Unidos. Qual a realidade frente a países latino-americanos? O que ainda falta para consolidar o mercado brasileiro?
Roberta Antunes – Acredito que o Brasil deu um passo à frente nessa proteção do investidor. Muitos países não conseguiam entender criptoativos e ainda têm dificuldades de regular os ambientes de negociação destas moedas, além de diversas preocupações com manipulação de mercado. E acho que, nesse contexto, o Brasil foi um dos países que saíram na frente.
A Hashdex foi a primeira gestora do mundo a lançar um ETF de criptomoedas. Tivemos o lançamento de um fundo de índice em Bermudas, que também segue o Nasdaq Crypto Index (NCI), desenvolvido pela Nasdaq e a Hashdex.
Logo tivemos um ETF de bitcoin no Canadá e alguns dias depois lançamos o HASH11 no Brasil, que é oficialmente o primeiro ETF de criptomoedas no mundo. Este segue uma cesta de criptoativos que replicam o Nasdaq Crypto Index (NCI). Então eu acho que o Brasil está pioneiro na regulação de criptoativos.
Entendo muito essa questão da preocupação do mercado, tentativas para dar uma exposição segura e regulada ao investidor. No Brasil, os reguladores entenderam que a demanda por criptoativos estava aumentando, se consolidando como um ativo emergente, uma boa opção de descorrelação e foi isso o que levou a CVM e outros órgãos a apoiar a exposição a estes investimentos no ambiente regulado.
Eles perceberam que é uma corrente que está crescendo e a demanda por criptoativos vai aumentar, então avaliaram formas de apoiar o desenvolvimento da indústria. O Brasil já tem 5 ETFs de criptomoedas na bolsa, é um país pioneiro, muito à frente dos Estados Unidos, que está começando a se mexer.
InvestNews – ETFs de criptomoedas são vistos como opções mais seguras para o investidor iniciante. Por outro lado, perde oportunidades de um mercado que funciona 24 horas por dia, 7 dias por semana nas exchanges. Para qual investidor os ETFs da Hashdex estão destinados?
Roberta Antunes – A Hashdex acredita em um investimento em criptoativos de longo prazo. É um mercado em forte crescimento. A valorização recente dos criptoativos vai na contramão do mercado tradicional, totalmente descorrelacionado do mercado de ações, ouro, petróleo, mas é uma classe de ativos que ainda está começando.
Então o mercado de criptomoedas é muito volátil. Se olhar a volatilidade dos criptoativos mês a mês, chega a 60%. Então, se o investidor já fica descabelado com a bolsa caindo 3%, criptoativo é um investimento de fortes emoções.
Mas se você olha de longe, durante os últimos anos, o preço e o valor de mercado destes criptoativos foi crescente. Eu brinco que eles ‘caíram subindo’, embora a performance passada não seja garantia de retorno futuro, enxergamos uma oportunidade de investir em criptomoedas no longo prazo.
Então, de maneira geral, o investidor conseguir acertar o timing de compra e venda dos criptoativos é uma opção bem perigosa, muito volátil no horizonte de mês a mês, por isso a Hashdex trabalha com longo prazo.
Acreditamos que criptomoedas têm um espaço no portfólio de qualquer investidor, a diferença é o tamanho da alocação. O lançamento dos ETFs no Brasil facilitou a entrada do investidor comum neste universo, que investem em criptomoedas com um valor de em média R$ 500. O mercado se tornou acessível.
Mas também se abriu um caminho para que vários fundos de investimento e investidores institucionais consigam acessar o mercado de criptoativos. Muitos deles entenderam que criptomoedas podem trazer uma descorrelação interessante para a carteira. No passado, a regulação brasileira não permitia o acesso direto, eles acabaram aplicando via ETF.
Então, quando você pensa no HASH11, que é o terceiro ETF mais negociado na bolsa, um ETF cripto, já consegue dimensionar a demanda.
InvestNews – A Hashdex tem R$ 5,6 bilhões em recursos sob gestão e mais de 250 mil cotistas, com três ETFs e seis fundos. Pode explicar a evolução dos ETFs de cripto?
Roberta Antunes – A Hashdex tem três ETFs na bolsa, o HASH11 que acompanha o Nasdaq Crypto Index (NCI), cuja função é representar o mercado de criptoativos no longo prazo. É o terceiro ETF mais negociado na bolsa, 140 mil cotistas, e quase R$ 2,8 bilhões sob gestão.
Ele tem uma característica muito interessante que é dinâmico. A cada três meses, o NCI é rebalanceado. Novos ativos entram ou saem do índice quando atendem aos critérios de elegibilidade, que garantem no longo prazo a representação do mercado de criptoativos. É como se fosse um S&P ou um Ibovespa de criptomoedas.
Os 8 ativos que integram o HASH11 são Bitcoin (predominante pelo valor de mercado); Ethereum, Litecoin, Chainlink, Uniswap, Bitcoin Cash, Firecoin e Stellar Lumens.
A participação de cada ativo muda com a presença no mercado. No caso do HASH11, é interessante pensar que o índice foi lançado em abril de 2021 e, desde então, a rentabilidade é de 31%, diferente de outros mercados. Traz essa questão de descorrelação das criptomoedas, que nada tem a ver com as premissas do mercado financeiro tradicional.
Em agosto, lançamos mais dois ETFs que chamamos de single asset, que significa ETFs que acompanham apenas um ativo. É uma forma de dar ao investidor uma exposição segura e regulada a alguns ativos por meio da bolsa.
Nesta categoria temos o BITH11, que investe 100% em bitcoin, mas com a proteção que o mercado de capitais oferece, integrado na sua corretora e investimentos. O ETF tem mais de cinco mil cotistas e R$ 169 milhões sob gestão.
A mesma lógica para o ETHE11, que investe 100% em ethereum, um utility token muito importante para a internet 3.0. Tem se valorizado muito em 2021, com as mudanças de protocolo. O ETF tem mais de cinco mil cotistas e R$ 143 milhões sob gestão.
Então, para o investidor que quer comprar apenas bitcoin ou ethereum, tem estas ‘single asset’. Porque existem pessoas que são “bitcoin maximalistas”, que acreditam que o bitcoin é a criptomoeda vencedora, e que não faz sentido investir em outra. Para eles, existe o BITH11.
Tem também os apaixonados por ethereum, uma comunidade muito engajada com uma blockchain disparada em número de contribuidores. Essa comunidade está crescendo com o desenvolvimento de DeFi (finanças descentralizadas), smart contracts (contratos inteligentes). Para eles, existe o ETHE11.
E para aquele investidor que está começando, que busca diversificar e ter uma exposição ao mercado de criptomoedas como um todo, acredito que o HASH11 seja a melhor opção, porque garante um ganho com a capitalização deste mercado.
InvestNews – Recentemente, os EUA aprovaram o primeiro ETF com exposição a futuros de bitcoin. Mas a expectativa é que avancemos no mercado de bitcoin à vista. O bitcoin está negociado acima de US$ 60 mil e muitos acreditam que a criptomoeda chega a US$ 100 mil puxado pelo ETF norte-americano. Faz sentido?
Roberta Antunes – É importante lembrar que esta não é a primeira tentativa de ter um ETF de bitcoin no mercado norte-americano. As primeiras iniciativas ocorreram em 2013, com os irmãos Winklevoss. Pelo menos 10 pedidos de ETF de bitcoin foram feitos à SEC (Comissão de Valores Mobiliários dos Estados Unidos) sem sucesso.
Então, olhando nesse sentido, apesar das críticas do produto, a aprovação dos futuros de bitcoin é um grande progresso na regulação de criptoativos nos Estados Unidos. Tem a ver também com o novo CEO da SEC, Gary Gensler, que é um entusiasta do universo blockchain, e a expectativa é que com ele a regulação avance.
Antes dos futuros de bitcoin, o investidor dos EUA, só tinha duas maneiras de ter acesso regulado a criptomoedas: via fundos ou derivativos, negociados na bolsa mercantil de Chicago (CME). Estas opções tinham limitação a investidores qualificados – patrimônio superior a R$ 1 milhão – sem acesso ao público em geral.
Então, embora os EUA sejam conhecidos pela adoção de novas tecnologias, no mercado de criptomoedas foram ficando para atrás do Brasil, Canadá e da própria Europa. A justificativa era proteger o investidor de ativos muito especulativos, como o bitcoin, ou criptomoedas associadas a lavagem de dinheiro, por exemplo. Além da manipulação de preço no mercado. Essas eram as grandes preocupações da SEC.
Contudo, o grande desafio dos derivativos é que se trata de contratos futuros, ou seja um compromisso de comprar ou vender um ativo por um determinando preço em uma determinada data.
Então, no lugar de o investidor comprar e vender a criptomoeda, que é o que ocorre ao investir diretamente ou via ETFs, ele estava adquirindo esse compromisso. Por exemplo, se ele comprou um contrato futuro de bitcoin acreditando que a moeda chegaria a US$ 40 mil em um mês, e depois do prazo o ativo está valendo US$ 45 mil, ele recebe a diferença entre os valores acordados, no caso US$ 5 mil.
Mas não é a mesma coisa que comprar um ETF ou se expor diretamente ao bitcoin. Apesar de todas as ressalvas com o produto, a aprovação desse ETF de futuros de bitcoin é muito positiva para a indústria de criptomoedas dos EUA, prova que está amadurecendo. E pode ser o início para destravar outras iniciativas lá e mundo afora, dado que o que ocorre nos EUA é replicado no mundo.
É um passo importante, pode puxar o preço do bitcoin para cima, mas quando vai bater US$ 100 mil é uma questão que todos gostaríamos de saber. Mas estamos só no começo.
InvestNews – A Hashdex também protocolou um ETF nos EUA, o Victory Hashdex Nasdaq Crypto Index Fund, que segue o mesmo modelo do HASH11. A aprovação ficou mais simples?
Roberta Antunes – Acho que ainda tem um caminho pela frente, apesar de estarmos otimistas. A Hashdex trabalha com a Nasdaq e com a Victory Capital nos Estados Unidos, acreditamos que é um produto inovador, mas ainda temos alguns passos na regulação que são difíceis de prever.
A verdade é que a SEC não deu nenhuma expectativa de aprovação ainda sobre ETFs SPOT (do mercado à vista), que seriam ativos diretos. A indústria está otimista, somos um líder global na categoria, estamos puxando algumas iniciativas nos EUA, mas ainda não temos novidades.
InvestNews – Sobre a internacionalização, vocês estavam abrindo um escritório em Nova York e de olho no mercado de Ásia, Europa, Oceania. O que esperar desse processo?
Roberta Antunes – O nosso foco principal no momento é fortalecer nossa posição no Brasil, onde estamos pensando em oportunidades de lançar novos produtos.
Atualmente existem mais de 10 mil criptoativos, nem todos são bons, mas também estão surgindo projetos interessantes e a Hashdex quer estar na vanguarda do acesso a criptomoedas. Então temos uma grande oportunidade de desenvolver produtos no Brasil, também na área de educação, ensinando o investidor brasileiro sobre os riscos e oportunidades dos criptoativos.
Acreditamos no futuro, e parte disso é a distribuição de renda, que mais gente consiga ter acesso a estes ativos. Então depois do Brasil, nosso foco principal são os EUA, queremos fortalecer a nossa posição lá, junto com a Victory Capital, e com a Nasdaq.
Após essas etapas, estamos abertos a oportunidades em outros países onde a gente entenda que o mercado é relevante e a regulação de criptomoedas está amadurecendo. Fora os EUA, não tenho nenhum país específico para te falar, mas estamos estudando diversos mercados.
Em 2021, captamos US$ 20 milhões em uma rodada de investimentos, temos um grande apoio para este crescimento.
InvestNews – Novas alternativas surgem no mercado de cripto, apontadas por analistas como oportunidades. Entre elas, temos os primeiros fundos de NFTs (tokens não fungíveis), criptomoedas conhecidas como ethereum killers, Solana e Avalanche, e criptoativos de games. Vocês pretendem capturar este mercado com algum novo produto?
Roberta Antunes – Com certeza. Hoje, o Nasdaq Crypto Index (NCI) captura criptomoedas mais proeminentes, mas é um índice que cobre o mercado em geral. É possível que a Hashdex pense em alguns produtos novos para acompanhar esses investimentos em específico, tem muita coisa legal acontecendo no universo de games e NFTs.
O NFT (token não fungível) está passando de uma etapa em que era visto apenas como token de obra de arte ou colecionável para se tornar um utility token. Muitos NFTs dão hoje acesso a grupos, clubes, plataformas, produtos escassos. Então tem esse crescimento e vamos pensar em algo neste sentido.
A indústria de games também é muito interessante porque se você pensar quão caro é produzir um game, essa indústria muitas vezes está concentrada em poucos estúdios. Mas essas blockchains de games estão descentralizando isso, propiciando a oportunidade de um jogo ser construído por pessoas que estão em diferentes lugares do mundo, diferentes culturas, onde os jogadores são os próprios donos do jogo.
A blockchain acaba com todas essas barreiras. Mais do que pensar quanto essas criptomoedas valem hoje, é interessante entender o que essas inovações geram de oportunidade. Vejo essas duas indústrias, NFT e games, como uma porta para grandes avanços. A Hashdex está super otimista quanto a isso.
InvestNews – Do total de cotistas que investem em fundos de índice na B3, quase 30% investem em ETFs da Hashdex. Qual a meta para os próximos anos?
Roberta Antunes – Conforme a indústria de criptomoedas vai se consolidando, fica mais fácil para a Hashdex criar produtos que sejam seguros. Hoje, a gestora não pode criar ETFs de qualquer criptomoeda. Somos uma empresa regulada, auditada, então não podemos incluir moedas sem custódia, ou que não sejam negociadas em ambiente regulado.
Acredito que a tendência é que esses novos criptoativos ganhem estrutura, sejam aceitos em exchanges reguladas, e quando isso ocorrer eles vão se tornar elegíveis para os produtos da Hashdex. Estamos de olho nisso, em produtos novos com potencial e garantindo segurança ao investidor.
Acho que vai chegar um momento em que vai ser normal todo investidor brasileiro, na hora de pensar a sua alocação, incluir criptomoedas na carteira. Ele vai pensar em ações, CDI, renda fixa, e naquele 2% ou mais de criptos em um universo de longo prazo, até cinco anos.
Nesse sentido, acredito que todo mundo vai ser investidor de cripto, e os ETFs vão facilitar essa exposição.
Agora, tem um ponto importante, muitos investidores já são expostos indiretamente aos nossos ETFs, por meio de fundos multiestratégia, aqueles que possuem ações, criptomoedas e outros ativos.
Os gestores desses fundos compram ETFs da Hashdex, muitas vezes o investidor está exposto e não sabe. Tem muita mais gente hoje investindo em produtos da Hashdex do que a gente consegue contabilizar pela bolsa.
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