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Negócios

Era dos ‘unicórnios’: por que o número de startups bilionárias deve disparar?

Especialistas explicam o que caracteriza o movimento das empresas avaliadas em mais de US$ 1 bilhão e os segmentos promissores para eles.

Unicórnio

Com modelo de negócio inovador, em meio a um mercado aquecido, um número crescente de startups brasileiras tem se tornado “unicórnios“, companhias avaliadas em mais de US$ 1 bilhão. O aplicativo de transportes 99 tornou-se o primeiro unicórnio no país, em 2019. Hoje, já são 20 unicórnios no Brasil e a expectativa é que cheguem a 100 no ano de 2026, segundo a Associação Brasileira de Startups (Abstartups). O que justifica esse crescimento?

Ana Paula Debiazi, CEO da venture builder Leonora Ventures, explica que algumas empresas já tinham a transformação digital em seus planos, como parte da tendência mundial, e a chegada da pandemia acabou impulsionando este processo. Debiazi ainda acrescenta que o Brasil começou a olhar para a chamada nova economia e isso fez com que as startups começassem a crescer rapidamente.

“Nós começamos a ver as empresas se movimentarem, para trazer mais inclusão digital para que possam aderir a ecossistemas. E a competitividade está se tornando mais ampla. Isso fez com que os unicórnios realmente aparecessem. E a pandemia veio para acelerar este processo. Aquelas que o fizeram se mantiveram e cresceram. As que não souberam se transformar, acabaram “morrendo”, diz a CEO da venture builder Leonora Ventures.

João Gabriel Chebante, especialista em corporate venture do Grupo FCamara, aponta que o crescimento rápido de unicórnios no país se deve ao interesse em empreender no segmento de tecnologia, associado a uma crescente oferta de investimento no setor nos últimos anos.

“Existindo capital, empreendedores e bons projetos, o ecossistema cresce e proporciona boas histórias. E ainda estamos começando, porque estas histórias são de projetos que começaram quando o ecossistema ainda engatinhava no país”, considera.

Chebante  aponta ainda que os novos unicórnios surgiram somente recentemente no país porque a quantidade de startups brasileiras era até então pouca, se comparada a de outros países mais desenvolvidos, mas, principalmente, porque havia pouco capital destinado ao início dos projetos.

Características de startup unicórnio

Segundo levantamento da CB Insights, atualmente, são mais de 900 unicórnios no mundo. No Brasil, são 20 as startups avaliadas em mais de US$ 1 bilhão, segundo a Associação Brasileira de Startups (Abstartups). Veja quais são:

Debiazi explica que as startups trazem a possibilidade de acelerar processos internos, com mais eficiência e redução de custos, além de facilitar entrada em novos mercados para as empresas consolidadas, gerando novas fontes de receita.

De acordo com a CEO da Venture Builder Leonora Ventures, quando as empresas querem desenvolver um produto novo, ou entrar em um novo segmento, normalmente se forma um setor de pesquisa e desenvolvimento, o que pode ser caro e levar muito tempo, além da nova estratégia poder dar errado.

“A startup vem para acelerar as mudanças, promover a entrada em novos mercados, tendo a agilidade de uma PME com a robustez e conhecimentos necessários para atender às demandas levantadas pela organização”, ressalta Ana Debiazi.

Chebante destaca que um unicórnio possui um forte ritmo de crescimento, não raro dobrando ou triplicando de tamanho a cada ano. Além disso, possui uma cultura forte entre seus funcionários e um modelo de negócio que redesenha seu segmento de mercado, liderando o seu setor ou nicho.

O especialista em corporate venture do Grupo FCamara explica que, geralmente, pelo fato de o unicórnio trazer um novo modelo, junto do seu forte ritmo de crescimento, acaba construindo uma consistente liderança no seu segmento de atuação, com uma barreira de entrada através da tecnologia e marca desenvolvida.

Ele lembra ainda que, para uma startup que atinge o patamar de unicórnio, dificilmente a sua saída é uma venda para outra empresa, justamente porque seu valor de mercado já a tornou cara demais para este tipo de movimento.

“Para gerar retorno aos investidores que alocaram recursos no ativo ao longo do tempo, a melhor forma de gerar liquidez é partir para o lançamento de ações na bolsa de valores, o IPO”, afirma Chebante.

Paulo Justino, CEO da FCJ Venture Builder, acrescenta que outro fator que caracteriza essas empresas é o seus fundadores, que são focados e capacitados, além da velocidade que a startup acaba ganhando a partir dos investimentos iniciais recebidos.

Ele destaca, no entanto, que o foco da startup não deve ser se tornar um unicórnio e que isso deve ser consequência. Para ele, a startup tem que focar em crescer e ser inovadora de mercado.

Importância do investimento em startups

Só neste ano, de acordo com a Associação Brasileira de Venture Capital e Private Equity (ABVCAP), o investimento em startup no Brasil passou dos R$ 33 milhões, sendo três vezes mais do que foi investido no mesmo período de 2020.

Ana Paula Debiazi, CEO da venture builder Leonora Ventures, explica que trata-se de um mercado novo que pode oferecer ganhos acelerados.

“A gente fala dos múltiplos em prazos de 3 a 5 anos que podem chegar a 9 ou 10 vezes o valor investido. O  investidor que quer entrar para esse mundo tem que entender que o dinheiro dele não vai estar ali paradinho, rendendo. Quando investe, o dinheiro dele será utilizado para ranqueamento, tracionar startup. Só que ele tem que buscar uma forma de mitigar o risco desse mercado”, alerta Debiazi.

Chebante destaca que o Brasil possui um mercado com grandes deficiências. Na avaliação dele, como investidor, existem grandes setores a serem destravados, como saúde, finanças, logística e varejo. Assim, para Chebante, há demanda para que projetos possam escalar e gerar grandes retornos aos empreendedores que alocarem recursos desde o início da jornada da startup.

Para o especialista em corporate venture do Grupo FCamara, a primeira coisa que todo empreendedor precisa pensar é desenvolver uma ótima equipe. E, para isso, mais do que capacidade técnica, é fundamental construir uma cultura forte, de querer resolver um problema e ter gana de execução. 

Justino destaca ainda que a startup precisa vender. “Ela não precisa dar lucro, mas precisa vender. Aquela startup que tem uma equipe focada, com objetivo claro e tem capacidade de gerar caixa, não falta investimento para ela. O dinheiro do investidor vai atrás disso. Já aquela que não pensa no cliente e pensa no investidor, ela tem mais dificuldade, sem dúvida alguma”, destaca o CEO da FCJ Venture Builder.

Segmentos promissores para novos unicórnios

O especialista em corporate venture do Grupo FCamara, João Gabriel Chebante, acredita que unicórnio é uma tendência que veio para ficar no país.

“Mais até do que unicórnios, vivemos um momento de transformação digital em praticamente tudo o que fazemos. Pedimos uma pizza por um aplicativo. Assistimos ao lançamento de filme sem sair de casa. Chamamos um táxi. Compramos uma casa sem visitá-la. Logo, o desenvolvimento de novos negócios com base tecnológica é uma premissa, não mais uma oportunidade”, destaca.

Para Chebante, as fintechs receberão boa parte dos investimentos nos próximos anos, pois ainda há uma concentração muito forte das atividades nos cinco principais bancos do país, mesmo com um forte crescimento dos bancos digitais e outras startups. Ele diz ainda ver com bons olhos uma aceleração em outros setores, como saúde, varejo, logística e energia.

Já para Paulo Justino, CEO da FCJ Venture Builder,  as healthtechs,  startups do segmento de saúde, e as agrotechs, do segmento do agronegócio, são as que têm grande potencial. A primeira, pelas mudanças e necessidades impostas pela pandemia. Já as do agronegócio, pelo fato do segmento ainda não ter se modernizado e automatizado na velocidade que poderia, proporcionando capacidade de crescimento e criando oportunidade para unicórnios.

Além das expectativas positivas para o setor de saúde e agronegócio, Debiazi também aposta nas startups ligadas ao ESG, sigla em inglês para “Environmental, Social and Governance” (ambiental, social e governança, em português), pelo fato de o assunto estar cada vez mais presente no dia a dia das empresas no Brasil, além de o país estar, na avaliação dela, com uma pauta muito forte de logística reversa e economia circular.

Empecilhos ao surgimento de novos unicórnios

Debiazi avalia que instabilidade política brasileira, que atinge a economia do país, pode ser um dos fatores que prejudique o aparecimento de novos unicórnios no Brasil.

Já Justino considera como sinal de alerta a legislação, ou seja, do surgimento de alguma proibição ou tributação, trazendo insegurança jurídica.

Para João Gabriel Chebante, mudanças muito bruscas e estruturais macroeconômicas podem afetar o surgimento de unicórnios no país. Mas, segundo ele, quem investe em uma startup hoje não está de olho em outubro de 2022, mas, sim, olhando o crescimento da startup visando uma saída em 2028 ou 2030.

Importância de um mercado de startups aquecido

Chebante  avalia que um mercado de startups em evolução mostra que o país está ganhando maturidade no desenvolvimento do ecossistema de inovação global, bem como de que seu mercado financeiro possui interesse em produtos mais sofisticados e financia a tecnologia de sua nação. Ao mesmo tempo, segundo ele, percebe-se o incentivo à formação de profissionais de gestão e de tecnologia, que agregam valor ao Produto Interno Bruto (PIB) de produtos e serviços, que geram proporcionalmente mais riqueza.

Debiazi ainda acrescenta que este cenário traz inovação e tecnologia de forma mais rápida para o país, tornando-se um grande polo e acelerando o seu se desenvolvimento.

Para Paulo Justino, as startups trazem uma geração de emprego e renda de alta qualidade, saindo do foco commodities que o país tem para ofertar outros produtos e tecnologia.

“A pandemia despertou o interesse de inovação das grandes empresas. A gente vai ver muito capital vindo de empresa, não só de fundo, investidor-anjos, mas as empresas estão aptas a se modernizarem através das startups, fruto da pandemia. Se não tivesse pandemia, esse processo ganharia força em 5 anos para fazer essa transformação que aconteceu em um ano e meio”, conclui Justino.

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Este conteúdo é de cunho jornalístico e informativo e não deve ser considerado como oferta, recomendação ou orientação de compra ou venda de ativos.

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