A assinatura de um acordo vinculante da Natura & Co (NTCO3) com a L’ Oréal para a venda da Aesop em um negócio avaliado em US$ 2,525 bilhões contribuirá para a desalavancagem da fabricante de cosméticos. A avaliação é de analistas, que apontaram que, agora, a companhia pode focar no seu negócio principal, a integração com a Avon.
Nesta terça-feira (4), a ação da Natura fechou em queda de 3,39%, a R$ 13,11, depois de passar parte do pregão em alta, chegando a avançar mais de 10%.
A empresa informou na véspera que a transação irá suportar a desalavancagem financeira da Natura &Co e posicioná-la para focar em suas prioridades estratégicas, especialmente na integração na América Latina, assim como na otimização geográfica da Avon Internacional e melhora continua da The Body Shop, com rígida disciplina financeira.
Ainda de acordo com a Natura, o preço será pago no fechamento da transação, esperado para o terceiro trimestre de 2023, e está sujeito às aprovações regulatórias usuais.
Para a Levante Investimentos, a venda da Aesop contribuirá para a desalavancagem da Natura, que atingiu uma alavancagem elevada no final de 2022, saindo de uma relação dívida líquida/Ebitda de 1,52 vez no quarto trimestre de 2021 para 3,49 vezes no encerramento do quarto trimestre de 2022.
“O elevado nível de endividamento no último trimestre está relacionado principalmente a um Ebitda menor em relação aos níveis históricos da empresa”, disse a casa de análise em relatório.
Expectativas de melhora de resultados
O Itaú BBA avaliou em relatório que a estrutura da transação foi positiva, destacando alguns pontos como: o preço pago pelo ativo ficando 26% acima do consenso de mercado; a venda completa do ativo e pagamento em dinheiro e prazos positivos, o que vai acelerar o processo de desalavancagem da Natura e melhorar a dinâmica de fluxo de caixa da empresa daqui para frente.
Na avaliação da Levante Investimentos, a transação permitirá à Natura &Co fortalecer sua estrutura financeira e operar com um balanço desalavancado, possibilitando, assim, que a companhia aprofunde o foco no seu plano de investimentos na América Latina, concentrando esforços no aprimoramento dos negócios da The Body Shop e da Avon International, de modo que seu plano de reestruturação deve contribuir de forma significativa para a melhora dos resultados do grupo.
Na mesma linha, a XP aponta que a transação acaba com as preocupações dos investidores quanto ao nível de alavancagem da companhia, e também permite que a empresa se dedique à integração com a Avon.
“Com o acordo, estimamos que a alavancagem proforma fique próxima de zero, considerando uma alíquota de imposto de 34% sobre o ganho de capital. Entretanto, destacamos que a companhia poderá usar créditos fiscais para arcar com o pagamento deste imposto, o que seria um risco positivo”, disse a XP em relatório.
Perspectivas para a ação da Natura
Segundo a XP Investimentos, em uma análise de sensibilidade para diferentes patamares de múltiplos com base no ano de 2024 para avaliar o potencial de alta da ação da Natura, e, mesmo assumindo que o papel tenha uma reavaliação de múltiplo para algo mais próximo dos pares de consumo discricionário brasileiro, dado que a companhia não possui mais um ativo premium de crescimento em seu portfólio, é estimado um potencial de alta de mais de 20% para os preços atuais.
“Embora esperemos que a perspectiva de resultados de curto prazo da Natura continue fraca, estamos otimistas em relação à integração da Avon e da Natura, enquanto vemos um valuation assimétrico para a companhia. Mantemos nossa recomendação de compra”, disse a XP em relatório.
Já o ITAÚ BBA mantém recomendação “outperform”, com valor justo para o ano de 2023 de R$ 18 por ação.
Compra da Aesop
Com atuação em 27 países, a Aesop foi adquirida pela Natura em sua totalidade em 2016, por US$ 100 milhões, com o objetivo de aumentar a presença em mercados globais, principalmente na Ásia, que possui alguns dos maiores mercados de beleza do mundo, como China e Japão.
Segundo a Levante Investimentos, desde que foi adquirida pela Natura, a Aesop tem apresentado um crescimento médio de receita de 20% ao ano, com margem bruta de cerca de 90%, a maior margem bruta dentre as marcas do grupo.
Entretanto, após as novas aquisições que a Natura &Co realizou nos anos seguintes, como a The Body Shop e a Avon, houve uma maior dificuldade em integrar as adquiridas à operação, se refletindo na piora dos resultados da companhia, que se agravou com a deterioração do cenário macroeconômico global, de modo que a venda da Aesop começou a ser vista como principal caminho para destravar valor das ações da Natura.
A companhia disse em outubro do ano passado que estava avaliando opções para destravar valor na Aesop, incluindo um possível IPO ou cisão. Mercados difíceis para novas listagens em 2022 levaram a empresa a pender para uma venda de participação.
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