A Votorantim S.A, holding que concentra os negócios da família Ermírio de Moraes, começou o ano sem solavancos — e isso, para um grupo acostumado a navegar ciclos longos há mais de um século, já é sinal de solidez.

O primeiro trimestre trouxe lucro e receita maiores, em um sinal que a diversificação do portfólio tem sido uma estratégia acertada do grupo. Enquanto algumas de suas 12 investidas tiveram um início de 2025 mais sensível, outras compensaram.

O retrato por dentro do portfólio revela um grupo em plena adaptação a ciclos diferentes: enquanto CBA e Nexa reverteram prejuízos e o banco BV batia recorde, Hypera e Votorantim Cimentos tiveram um trimestre mais pressionado, enquanto a Auren absorvia o baque dos preços mais baixos no mercado livre de energia.

Das 12 investidas da Votorantim, oito delas são de capital aberto. É uma carteira que mescla setores como energia, infraestrutura, finanças, commodities e indústria — e que gira conforme os ciclos. No primeiro trimestre de 2025, não houve novos aportes diretos da Votorantim nas controladas.

Foi também um trimestre em que a família Ermírio de Moraes ampliou seus investimentos na Hypera, uma das principais fabricantes de medicamentos do país, aumentando sua participação na empresa para 11%.

No fim de abril, o CEO da Votorantim, João Schmidt, e o acionista Claudio Ermírio de Moraes passaram a fazer parte do board da Hypera, em um acordo com João Alves de Queiroz Filho, mais conhecido como “Júnior”, o controlador da farmacêutica. Schimidt disse ao InvestNews recentemente que a Votorantim enxerga na Hypera uma “oportunidade estratégia”.

Bons resultados

A CBA (Companhia Brasileira de Alumínio), uma das empresas mais emblemáticas do grupo, começou o ano com o pé direito: lucro de R$ 335 milhões e alta de 38% na receita, em meio à valorização do alumínio e do dólar. Depois de dois anos de prejuízos, a CBA parece estar saindo de um ciclo negativo.

Já a mineradora Nexa reverteu prejuízo e entregou US$ 29 milhões de lucro no primeiro trimestre, com vendas crescendo 8% e eficiência operacional melhorando em meio à pressão de custos. O banco BV, por sua vez, cravou lucro de R$ 480 milhões, com crescimento de 49,6% impulsionado por carteiras de crédito e queda no custo de risco.

Sazonalidade

Na outra ponta, a Auren teve um trimestre de receita forte (R$ 2,95 bilhões), mas com lucro em queda de 64% (R$ 54 milhões), afetada por despesas não recorrentes e pelos preços menores no mercado livre. 

Já a Votorantim Cimentos entregou um prejuízo contábil de R$ 325 milhões, com queda de 14% no lucro operacional (Ebitda). O resultado refletiu a sazonalidade do setor, manutenções e revisões contábeis, mas a empresa reforçou sua estratégia de investimento e redução de emissões, mantendo o capex em alta e alavancagem sob controle.

Balanço

O grupo Votorantim fechou o mês de março com R$ 6,4 bilhões de caixa líquido, com a alavancagem (a relação entre dívida líquida e Ebitda) em 1,57 vez. O retorno das operações no trimestre, segundo a companhia, ficou acima do custo de capital médio (WACC, em inglês).

De janeiro a março, a Votorantim registrou lucro líquido de R$ 569 milhões, mais de três vezes do registrado um ano antes. A receita líquida avançou 14,8%, para R$ 12 bilhões, com Ebitda de R$ 1,8 bilhão.

“Temos um portfólio de empresas que operam em diferentes ciclos e geografias, o que nos dá equilíbrio. Mesmo com a pressão em algumas investidas, conseguimos manter geração de caixa e uma estrutura de capital saudável”, afirmou Schimidt, em comentário sobre os resultados.