Na tradicional carta anual aos acionistas, divulgada neste sábado (22), Buffett ressaltou que a maior parte do dinheiro da Berkshire continuará sendo investida em ações, mas admitiu que oportunidades de compra têm sido escassas. “Muitas vezes, nada parece atraente; muito raramente nos encontramos mergulhados em oportunidades”, escreveu o bilionário, sugerindo que a alocação de capital da empresa segue um ritmo cuidadoso.
O aparente comedimento de Buffett tomou forma em um mercado em alta acelerada, com o S&P 500 registrando mais de 20% de ganhos por dois anos seguidos. Na semana passada, porém, começaram a aparecer sinais de desgaste, impulsionados por preocupações acerca de uma possível desaceleração econômica, pela volatilidade associada às rápidas mudanças de política promovidas pelo novo presidente, Donald Trump, e pelas avaliações gerais das ações.
O megainvestidor também enfatizou a cautela da Berkshire ao manter um caixa robusto, mas afastou qualquer ideia de que a empresa esteja abandonando sua filosofia de longo prazo. “Os acionistas da Berkshire podem ter certeza de que sempre aplicaremos uma parte substancial do seu dinheiro em ações – principalmente americanas, embora muitas delas tenham operações internacionais significativas”, afirmou.
Transição
A carta deste ano também marcou um momento de transição, com Buffett, de 94 anos, reconhecendo que Greg Abel, atual vice-presidente de operações não seguradoras, deve assumir a liderança da empresa em breve. “Não demorará muito para que Greg me substitua como CEO e passe a escrever as cartas anuais”, declarou.
Com um histórico de aquisições estratégicas e apostas de longo prazo, os investidores agora esperam pelos próximos passos da Berkshire Hathaway e as razões por trás da construção de sua expressiva reserva de liquidez.
Impostos
Buffett afirmou que a empresa já pagou ao governo dos Estados Unidos mais de US$ 101 bilhões em impostos desde que ele assumiu o comando há 60 anos – mais do que qualquer outra empresa na história.
As declarações de Buffett surgem no momento em que o Donald Trump promete reduzir ainda mais os impostos corporativos, após ter cortado a alíquota para 21% em seu primeiro mandato, em 2017. Trump agora pretende reduzir essa taxa para 15%.
A Berkshire pagou US$ 26,8 bilhões em impostos apenas em 2024. Buffett destacou que esse valor, que ele descreveu como “recorde absoluto”, representa cerca de 5% do total de impostos pagos pelas empresas americanas no ano passado, sem contar os tributos estaduais e os impostos pagos a governos estrangeiros.
“Se a Berkshire tivesse enviado ao Tesouro um cheque de US$ 1 milhão a cada 20 minutos ao longo de todo o ano de 2024 – imagine 366 dias e noites, já que 2024 foi um ano bissexto – ainda assim deveríamos uma quantia significativa ao governo federal no fim do ano”, escreveu Buffett.
O valor pago pela Berkshire em impostos em 2024 superou a soma dos últimos cinco anos, em parte devido à venda significativa de duas de suas maiores participações.
Lucros e desempenho da Berkshire
A Berkshire Hathaway divulgou que seu lucro operacional do quarto trimestre disparou 71%, impulsionado por um aumento de quase 50% na receita de investimentos em seguros e pela melhora nos resultados da subscrição de apólices. No acumulado do ano, o lucro operacional anual subiu para US$ 47,4 bilhões, um aumento de quase 27% em relação ao ano anterior.
De uma têxtil em dificuldade a um conglomerado gigante
Na carta anual, Buffett relembrou que, quando assumiu o controle da Berkshire Hathaway em 1965, a empresa era uma indústria têxtil em dificuldades, que não pagava imposto de renda há anos.
“Esse tipo de situação pode ser compreensível em startups promissoras, mas é um alerta preocupante quando ocorre em um pilar da indústria americana”, escreveu Buffett. “A Berkshire estava a caminho da lata de lixo.”
Hoje, a Berkshire Hathaway é um gigantesco conglomerado, com mais de 189 empresas operacionais, uma carteira de ações avaliada em US$ 272 bilhões, além do caixa de US$ 334 bilhões no final de 2024, segundo o relatório anual.
Buffett atribuiu o sucesso da empresa, em grande parte, à economia capitalista americana, sistema que ele reconheceu ter falhas — “em certos aspectos, mais graves agora do que nunca” —, mas que também “pode gerar resultados extraordinários que nenhum outro modelo econômico consegue igualar.”
Uma mensagem para o ‘Tio Sam’
Buffett dedicou parte da carta ao governo americano, apelidado de “Tio Sam”:
“Algum dia, seus sobrinhos e sobrinhas da Berkshire esperam enviar a você pagamentos ainda maiores do que fizemos em 2024”, escreveu Buffett. “Gaste com sabedoria. Cuide daqueles que, sem culpa própria, acabam levando a pior na vida. Eles merecem mais.”
Com informações da Bloomberg.