Siga nossas redes

Negócios

Economia de guerra: o que é a reconversão industrial e para que serve?

O que pode ser feito com os parques industriais abandonados pela crise provocada pela pandemia da Covid-19.

reconversão industrial

As comparações com os períodos de guerra crescem, enquanto aumentam os esforços sociais para se cumprir as medidas de combate ao novo coronavírus. Em 3 de fevereiro na China, o primeiro chefe de governo a lidar com a doença, Xi Jinping, chamou em discurso oficial o esforço para dar fim à epidemia de “guerra do povo”.

Do outro lado do pacífico no início da crise em março, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, se classificava para repórteres da Casa Branca como “um presidente dos tempos de guerra [Wartime President]”, à medida que tentava diminuir a contaminação e os efeitos na economia. Para além do discurso político, a economia em tempos de pandemia guarda semelhanças explícitas com a economia de guerra.

LEIA MAIS: É recessão ou depressão o que vem por aí? Entenda o que cada uma significa

Na luta contra o vírus, os países impõem, às vezes por meio do Estado, um recondicionamento de sua produção. Determinam o que fecha, o que abre e o que se produz, exigindo até uma reconversão industrial. Ou seja, trocam a fabricação de um produto obsoleto ou sem demanda, pela confecção de um item essencial, como faziam em períodos de guerra para conseguir mais tanques ou munição – com a diferença de que agora são máscaras e respiradores.

O que é reconversão industrial

Mencionando um documento feito pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) com o Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, o presidente da União Geral dos Trabalhadores (UGT), Ricardo Patah, apresentou uma conceituação para a reconversão industrial. “Mudança rápida dos produtos de uma indústria, orientada por alterações de conjuntura, que trazem oportunidades de produção com alta demanda” diz o texto.

Não foge do conceito elaborado por Telmo Ghiorzi, diretor de relações institucionais da Associação Brasileira de Engenharia Industrial (ABEMI). “Os contextos é que vão definir como o termo é utilizado”, diz. A entidade que ele representa congrega empresas de engenharia de projeto, construção civil, montagens industriais, fabricantes de equipamentos e manutenção e de logística.

LEIA MAIS: Saídas para a crise: a era do controle de gastos está perto do fim?

Diferentes dimensões

Para Ghiorzi, um dos principais aspectos da reconversão, pelo menos quanto ao período de guerra, é a coordenação do governo. “Em uma sociedade em fase de reconversão, as iniciativas individuais das indústrias quase não existem. Não fazem sentido. É o governo, por ter informações privilegiadas sobre toda a economia, que consegue definir como vai se dar uma reconversão”.

Do lado dos trabalhadores, os sindicatos de certa forma concordam com essa colocação quando pleiteiam encontros com diferentes governadores para discutir a adaptação das empresas ao enfrentar a pandemia. Patah conversou com João Doria, governador de São Paulo, onde a entidade tem mais presença, para exigir certas garantias — como mais trens circulando para evitar aglomerações no transporte público — e também sugerir “empresas com os parques fechados pudessem ajudar na fabricação de máscaras e respiradores”.

Levando em conta que a ABEMI está em um elo produtivo diferente do emergencial — de fornecimento de infraestrutura, engenharia e logística —, Ghiorzi espera que a reconversão seja algo que continue para além da crise. “A indústria precisa ficar menos dependente da tecnologia de outros países, gerar empregos de alta qualificação e buscar uma reconversão mais a longo prazo.”

Casos nacionais

No Brasil, Patah tem percebido uma “sensibilidade muito grande” da classe empresarial. “É um momento muito grave pelo qual todos estamos passando. Nosso dever solidário é construir novas possibilidades”, diz em relação às adequações da produção. 

Na usina de Charqueadas (RS), a metalúrgica Gerdau produzirá um total de 400 litros de álcool 70%, que serão doados ao sistema de saúde pública do município. No Polo de Camaçari (BA), a Ford anunciou a produção de 50 mil máscaras de proteção facial. A Mercedes-Benz iniciou, em parceria com o Instituto Mauá de Tecnologia e profissionais da área médica, testes de um novo modelo de respirador utilizando como matéria-prima peças da indústria automotiva.

Já a empresa de engenharia elétrica WEG vai focar na produção de respiradores. O anúncio foi feito após a assinatura de um acordo de transferência de tecnologia com a empresa de equipamentos médico-hospitalares Leistung Equipamentos. A produção esperada de 500 aparelhos vai ser feita nas fábricas da Weg em Jaraguá do Sul (SC).

Exemplos internacionais

Fora do país, os exemplos são muitos. No Reino Unido, a fabricante de aspiradores de pó Dyson vai ajudar o sistema de saúde britânico com a confecção de respiradores pulmonares. Nos Estados Unidos, na semana do dia 13 de abril, a General Motors (GM) em parceria com a empresa de tecnologia médica, Ventec Life Systems, entregaram antes do prazo limite o primeiro lote de respiradores para a Agência Federal de Gerenciamento de Emergências.

Isso depois que o presidente Donald Trump cobrou a empresa pelo Twitter e usou a Lei de Proteção de Defesa, criada nos anos 1950, para obrigá-la a fabricar uma determinada quantidade de aparelhos. A norma serve para garantir a intervenção estatal em tempos de guerra, mais uma vez tornando verossímil a comparação do momento atual com a época dos grandes conflitos. 

https://twitter.com/realDonaldTrump/status/1243559373395410957?s=20

Abra sua conta! É Grátis

Já comecei o meu cadastro e quero continuar.