Integrantes do Fed apontam que a inteligência artificial pode criar mudanças mais rápidas no trabalho, e consequentemente na economia, do que tecnologias anteriores – a exemplo do advento da internet.
Espera-se maior crescimento no PIB e aumento na renda com o uso de ferramentas como o ChatGPT. Isso já levando em conta a perda de empregos à medida que algumas funções sejam automatizadas.
Esses foram alguns pontos levantados no fórum anual de política monetária da Universidade de Chicago – que aconteceu na primeira semana de março e contou com a participação de nove dos 19 membros do Fomc (o Copom do banco central americano).
O tema importa para o Fed por um motivo simples: a missão da autarquia é basicamente promover preços estáveis e emprego máximo. Quando empresas implantam tecnologias que aumentam a produtividade, então, há consequências. A mais óbvia é o corte de postos de trabalho. A menos, um crescimento salarial consistente para quem seguir empregado, já que o output de cada trabalhador cresce.
E permeando tudo há um braço de ferro ideológico.
“Sobre a relação entre IA e mercado de trabalho, temos hoje duas visões opostas: a distópica, na qual todas as vagas de trabalho deixarão de existir; e a utópica, na qual a vida de todos vai melhorar”, disse Mary Daly, presidente do Fed de São Francisco, em um painel do evento.
“75% dos americanos estão mais próximos da visão distópica”, ela diz. “A história, por outro lado, mostra algo na linha da visão utópica – porque a tecnologia jamais reduziu o nível geral de emprego”.
Ela argumenta: o processo típico pelo qual as novas tecnologias são incorporadas nas operações das empresas — e que geram ganhos de produtividade — consiste primeiro na substituição de tarefas repetitivas realizadas por humanos; depois no aumento da carga de trabalho de cada pessoa; aí, por consequência, no surgimento de novos tipos de emprego. “E essas três coisas também podem acontecer simultaneamente”, reitera.
“À medida que inovações chegam, as empresas as adotam e começam a obter ganhos de eficiência”, segue Daly. “Estes investimentos muitas vezes começam pela substituição de tarefas que podem ser realizadas de forma tão ou mais eficaz com a nova tecnologia. Segue-se o aumento de empregos que combinam trabalho com tecnologia e, no fim das contas, surgem mais empregos”.
O problema é que pode haver um grande intervalo de tempo entre a “era” da substituição de mão de obra e a do nascimento de novas vagas. “Embora o Fed não tenha um papel na definição de políticas para ajudar trabalhadores diretamente”, diz Daly, “esta não será uma transição fácil ou indolor”.
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