A Amazon instruiu centenas de milhares de trabalhadores a voltarem às suas mesas em tempo integral ou procurarem outro emprego. O único problema: em muitos escritórios, não havia mesas suficientes para todos.
A crise de espaço levou a gigante do comércio eletrônico a adiar a obrigatoriedade em dezenas de escritórios nos EUA, incluindo o de Houston, o de Atlanta e o de Nova York. Os trabalhadores designados para alguns locais ainda esperam instruções de quando poderão realmente ir ao escritório em tempo integral.
Outros que estão de volta não têm colegas de equipe no mesmo local. Eles se veem disputando vagas de estacionamento, um lugar para sentar e salas privadas para fazer videochamadas.
A Amazon tem defendido com veemência a volta dos trabalhadores ao escritório. A empresa alvoroçou todo o mundo da tecnologia em setembro com sua declaração de que seus 350 mil funcionários corporativos precisariam retornar ao escritório cinco dias por semana a partir de janeiro deste ano. Esses trabalhadores representam cerca de um quarto de seu número total de funcionários, que também inclui trabalhadores de armazéns.
Ter todos no escritório seria fundamental porque isso simplifica e melhora o ato de “colaborar, fazer brainstorming e inventar”, disse o executivo-chefe Andy Jassy aos funcionários na época. A Amazon contratou muito durante a pandemia, quando o trabalho era remoto, e se os trabalhadores deixarem o emprego porque não querem ir para um escritório, tudo bem para a empresa.
“Se não é para você, então tudo bem. Pode procurar outra empresa se quiser”, disse o CEO da Amazon Web Services, Matt Garman, em um evento do Wall Street Journal em outubro. “Mas para nós, essa é a melhor maneira de operar nossa empresa.”
Por ser um empregador gigante com dezenas de locais de trabalho, a implementação dessa política teve falhas.
Um grupo de funcionários na região da Bay Area (São Francisco e adjascências), onde a Amazon tem 18 escritórios, apresentou um plano à empresa pedindo um novo local nas proximidades. A companhia tem um déficit de pelo menos 800 estações de trabalho na região, de acordo com um funcionário ouvido pela reportagem.
Ele citou a falta de espaço e de estacionamento, além de deslocamentos que são muito longos. Segundo essa pessoa, quase 600 funcionários incluíram seus nomes em uma planilha para apoiar a proposta.
A Amazon afirmou que está trabalhando para garantir que todo o pessoal da Bay Area tenha mesas.
“A esmagadora maioria de nossos funcionários tem espaços de trabalho dedicados”, disse uma porta-voz da Amazon por e-mail. “Das centenas de escritórios que temos em todo o mundo, há apenas um número relativamente pequeno que não está pronto para receber todos de volta cinco dias por semana.”
Jeff Ferris, que trabalha na Amazon Web Services há mais de uma década em Austin, no Texas, disse ter tido dificuldade para encontrar estacionamento em seis de janeiro, seu primeiro dia de volta em tempo integral. “Fui barrado pela segurança da garagem”, escreveu ele no X. “Duas mil pessoas, 900 vagas de estacionamento.”
Como parte do plano de retorno ao escritório, algumas operações foram consolidadas em alguns locais. Uma grande divisão da Amazon Web Services, o principal gerador de lucro da empresa, ordenou que os funcionários se mudassem para um punhado de cidades nos EUA, Europa, Ásia e América Latina, de acordo com um e-mail de seis de novembro verificado pelo WSJ.
Na Europa, essas cidades eram Londres, Paris ou Munique. Alguns funcionários teriam sido obrigados a sair dos países onde estavam trabalhando. A empresa suspendeu a exigência na Europa depois que alguns funcionários reclamaram que isso violava as leis locais.
Elizabeth Robillard, que trabalha para a AWS em Portland, no Oregon, recentemente narrou no LinkedIn como foi sua primeira semana de volta ao escritório em tempo integral: Ela postou que se sentou em três mesas diferentes, não tinha colegas de trabalho diretos no mesmo local e teve que guardar seus pertences em um armário durante a noite ou levá-los para casa.
“Tão produtiva quanto antes? Não. Diálogos, comunidade, cultura, criatividade? Não”, escreveu ela em um post que já deletou. “Vale a pena? Não.”
Robillard não quis comentar.
Como é o caso de muitas empresas, os funcionários da Amazon no escritório ainda passam muito tempo em reuniões virtuais com outras pessoas que trabalham em locais diferentes.
A Amazon diz que está trabalhando para reunir mais equipes pessoalmente. “Embora tenhamos ouvido ideias de melhoria de um número relativamente pequeno de funcionários e estejamos trabalhando para resolvê-las, esses casos particulares não refletem o sentimento que estamos percebendo na maioria de nossos colegas de equipe”, disse a porta-voz da empresa. “O que estamos vendo é uma grande energia em nossos escritórios.”
Leala Smith, redatora técnica sênior, deixou a Amazon após dez anos em dezembro. Ela fora classificada como funcionária virtual por sete anos, mas foi informada de que não poderia continuar trabalhando remotamente.
Smith teria que viajar mais de cem quilômetros em cada sentido, dos arredores de Olympia, em Washington, para Seattle, ou solicitar uma isenção médica porque tem uma deficiência. Mas não tinha certeza de que sua isenção seria aprovada. Ela conseguiu um emprego totalmente remoto na empresa de software GitLab.
Jon Conradt, cientista de IA, deixou a empresa em julho, após 12 anos, para cofundar uma startup de inteligência artificial. Antes de 2020, disse ele, ninguém parecia preocupado com a presença no escritório da Amazon no norte da Virgínia, onde ele estava baseado. “Tínhamos uma grande flexibilidade. Ninguém se importava com o local em que trabalhávamos”, afirmou ele.
Escreva para Katherine Bindley em [email protected] e Preetika Rana em [email protected]
Traduzido do inglês por InvestNews
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