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Kamala Harris pena para conseguir o apoio de homens. Trump tem o mesmo problema com mulheres

Essa divisão entre o eleitorado masculino e feminino atravessa fronteiras raciais e econômicas

Por CATHERINE LUCEY The wall street Journal
Publicado em
7 min
traduzido do inglês por investnews

A diferença de gênero passou a definir uma corrida presidencial paralisada, com um grupo de mulheres determinadas a votar em Kamala Harris por causa de seu apoio ao direito ao aborto, e Donald Trump cortejando os homens com uma retórica de supermasculinidade. 

A divisão afeta as estratégias de mídia dos candidatos e como eles abordam as questões mais importantes para os eleitores nas semanas finais da campanha.

Embora a divisão entre os sexos tenha se tornado uma questão sempre presente nas eleições modernas, ela parece ter se intensificado desde 2020, sendo percebida em muitos grupos raciais, educacionais e econômicos.

A vantagem de cinco pontos de Trump entre os homens nas eleições de 2020 aumentou para 10 pontos na pesquisa nacional mais recente do Wall Street Journal, no final de agosto. A vantagem de 12 pontos do presidente Biden entre as mulheres em 2020 tornou-se uma de 13 pontos para Kamala.

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Sarah Longwell, diretora executiva da frente Republican Voters Against Trump (eleitores republicanos contra Trump), chamou a eleição de 2024 de a mais baseada em gênero que ela já viu, principalmente entre os eleitores mais jovens. “Ninguém quer meninos contra meninas”, disse ela. “Ninguém quer um ambiente político onde seu gênero é o quesito mais importante na sua opção de voto.” 

Trump aparecerá na Fox News esta semana em uma reunião de campanha diante de uma audiência feminina, e na segunda-feira Kamala divulgou “planos de oportunidades” para homens negros, incluindo empréstimos comerciais, treinamento profissional e iniciativas de saúde. Ela participou de uma reunião de campanha na terça-feira com o apresentador de rádio Charlamagne tha God, popular entre os jovens negros. Kamala também participou de podcasts e do programa de Howard Stern e será entrevistada pela Fox News. 

As pesquisas mostram poucas evidências de que essas medidas estejam funcionando. Na verdade, com a tendência de homens negros e latinos a apoiar Trump, as pesquisas sugerem que os EUA estão se tornando um pouco menos divididos politicamente por raça e mais divididos por gênero. 

“Acho que os homens são muito focados na economia”, disse David Lee, principal pesquisador do comitê de ação política pró-Trump, o MAGA Inc. “Tem tudo a ver com economia e inflação.”

Embora as mulheres também se preocupem com a economia, o aborto pesa igualmente como uma questão em seus cálculos de votação. Em uma pesquisa recente do Wall Street Journal nos sete estados pêndulo, 27% das mulheres — mas apenas 8% dos homens — mencionaram o aborto como a principal questão que motiva seu voto para presidente. A descoberta reflete a ênfase que as eleitoras colocaram no direito ao aborto desde que a Suprema Corte derrubou Roe v. Wade em 2022. Um terço das mulheres disse que não poderia apoiar um candidato que discordasse delas sobre o aborto, em comparação com 18% dos homens que assim afirmam. 

A segunda mulher a ser candidata por um grande partido — e a primeira mulher negra —, Kamala evita principalmente referências abertas a seu gênero ou raça, em contraste com sua única antecessora, Hillary Clinton, que vestia o branco das sufragistas em momentos importantes. Contudo, o gosto de Kamala pela música e pela dança é popular entre as mulheres que participam de seus comícios, e ela se inclina para um conjunto de questões importantes para as mulheres, enfatizando seu apoio à “economia do cuidado” e ao direito ao aborto. 

Kamala criticou Trump por nomear três dos juízes que derrubaram Roe. “Está claro que eles simplesmente não confiam nas mulheres”, disse Kamala sobre Trump e os republicanos durante comentários sobre o direito ao aborto no mês passado em Atlanta. “Bem, nós confiamos nas mulheres.” 

Essas prioridades atraem eleitoras como Bri Ortega, de 27 anos, de Glendale, no Arizona, que afirmou estar apoiando Kamala em parte por causa do direito ao aborto. Ela disse gostar das políticas familiares que a candidata havia estabelecido, porque, “Realmente gosto que as pessoas tenham caminhos abertos para viver sua vida como quiserem, seja tendo uma família ou não tendo uma família, e sendo capazes de planejar o início de uma.”

Bri Ortega, que diz apoiar Harris por conta da posição da vice-presidente em sobre o direito ai aborto. Foto: Ash Ponders, para o WSJ

Os esforços recentes de Kamala para se conectar com os homens incluíram mencionar ter uma Glock e falar sobre as pessoas que prendeu quando era promotora distrital de San Francisco. E tomou uma cerveja no programa noturno de televisão de Stephen Colbert. 

“Acho que os republicanos a estão transformando em uma caricatura, e é importante que ela apareça, uma pessoa da vida real, falando sobre suas experiências”, disse Molly Murphy, pesquisadora da campanha de Kamala. “Mostrar a todos os eleitores que ela é durona é muito importante.” 

Os esforços de Kamala não comoveram o republicano Bill Lloyd, de 48 anos, de Chandler, no Arizona. “A coisa no programa de Colbert quando Kamala tomou a cerveja, deu muita vergonha”, disse Lloyd, que é coproprietário e administra as operações de uma empresa de paisagismo.

Bill Lloyd, apoiador de Trump, diz que aprecia o discurso firme do ex-presidente. Foto: Ash Ponders, para o WSJ

Trump — que há muito valoriza a imagem de durão — projeta uma persona masculina, falando sobre lutar contra inimigos e sugerindo que um “banho de sangue” poderia ocorrer se ele perdesse. Durante a Convenção Nacional Republicana, ele deixou o palco ao som da música “It’s a Man’s Man’s Man’s World” de James Brown e foi elogiado pelo ex-lutador e celebridade Hulk Hogan. 

Lloyd disse que aprecia a retórica dura de Trump. “Isso não me faz querer comprar uma arma e lutar pela minha vida e todas essas coisas estranhas e extremas”, disse ele. “Mas entendo, porque venho de uma longa linhagem de pessoas que defendem aquilo que acreditam. E se não fizer isso, a multidão passa por cima de você.”

Trump tem um histórico de fazer comentários depreciativos sobre mulheres, insultando a ex-presidente da Câmara, deputada Nancy Pelosi (democrata da Califórnia), e Hillary Clinton, juntamente com personalidades da mídia como Megyn Kelly e Mika Brzezinski. Em 2023, um júri federal o considerou responsável por abusar sexualmente a colunista E. Jean Carroll em uma loja de departamentos de Manhattan há 30 anos. Ele negou as acusações.

A opção de Trump pelo senador de Ohio JD Vance como seu companheiro de chapa também foi vista como um aceno para os jovens apoiadores do sexo masculino. Vance incomodou muitas mulheres com comentários sobre “mulheres sem filhos e com gatos”. 

A porta-voz da campanha de Trump, Karoline Leavitt, disse que o candidato “aborda diretamente as preocupações das mulheres sobre as crises de fronteira, inflação e política externa que enfrentamos. Se elas querem um presidente que restaure a lei e a ordem, que proteja sua família e que reduza a inflação, então Trump é a única opção”.

Recentemente, Trump disse às mulheres que seria seu “protetor”. Ortega não se comoveu. “Não sinto que preciso de um presidente protetor, só quero que alguém tome as melhores decisões para o país”, disse ela. 

Mesmo que seu apoio entre as eleitoras tenha diminuído, Trump afirmou que insultar Kamala iria de fato agradar às mulheres. Em um comício na semana passada na Pensilvânia, ele contou que um de seus assessores lhe disse: “Por favor, não a chame de burra. As mulheres não vão gostar.” Mas ele discordou. 

“As mulheres querem ver a volta de nosso país”, disse Trump. “Elas não se importam. As mulheres são mais duronas que os homens, certo?”

Escreva para Catherine Lucey em [email protected]

traduzido do inglês por investnews