Promessa de Trump para criptoativos pode depender deste banqueiro do Arkansas
French Hill quer “tornar os bancos comunitários grandes novamente” e aprovar seu projeto de lei de regulamentação de criptomoedas
A promessa do presidente eleito Donald Trump de popularizar as criptomoedas pode ser cumprida pelo ex-dono de um banco comunitário do Arkansas que está tentando se tornar o congressista mais influente do mundo financeiro.
French Hill, do partido Republicano, está disputando a presidência do poderoso comitê da Câmara, que influi em Wall Street e que supervisiona reguladores financeiros, como a Comissão de Valores Mobiliários (SEC, na sigla em inglês) e o Departamento do Tesouro. O Comitê de Serviços Financeiros da Câmara dos EUA convoca executivos de bancos para deporem, investiga crises financeiras e há anos tenta redigir as leis que promoveriam uma regulamentação abrangente para as criptomoedas.
Ao contrário de muitos dos financistas na órbita de Trump que disputam o poder, Hill não conquistou suas credenciais trabalhando para um grande banco de Wall Street ou para uma empresa de private equity. Ele abriu um pequeno banco comunitário, fala com sotaque sulista e reedita o slogan trumpista dizendo que quer “tornar os bancos comunitários grandes novamente”.
Hill é considerado o azarão na disputa pela presidência do Comitê de Serviços Financeiros da Câmara contra o aliado próximo de Trump, o congressista Andy Barr, do Kentucky. Mas, quer Hill seja presidente ou não, seu projeto de lei sobre como regular as criptomoedas tem hoje a maior probabilidade de passar pelo novo Congresso controlado pelos republicanos e chegar à mesa de Trump. Sua compreensão dos detalhes tecnológicos e das complexidades do tema impressionou o setor de criptomoedas e ganhou apoio bipartidário.
Ele defende que as criptomoedas sejam consideradas uma classe de ativos própria, e não quer encaixá-las nas regras existentes para ações e títulos. E acha que o Congresso deveria investigar as agências do governo Biden por terem atacado o setor.
Hill quer que Washington pare de ter medo das criptomoedas ou, como ele prefere classificá-las, dos “ativos digitais”.
“Durante toda minha carreira, me interessei por tecnologia e finanças e pelo modo com que a tecnologia e as finanças reduzem os custos”, disse Hill em uma entrevista.
Raízes em Little Rock
Hill, de 67 anos, cujo distrito de Arkansas inclui partes de Little Rock, cresceu em uma família das finanças. Seu avô paterno abriu uma empresa de investimentos durante a Grande Depressão. Seu avô materno trabalhou na Federal Deposit Insurance Corporation (FDIC) no ano em que foi fundada, 1933.
No início de sua carreira, Hill foi funcionário do Comitê Bancário do Senado e trabalhou no Conselho de Política Econômica de George H. W. Bush e no Departamento do Tesouro.
Então, retornou a Little Rock e fundou o Delta Trust & Bank em 1999. Sua incursão bancária foi bem-sucedida, mas, em 2014, Hill colocou o banco à venda e concorreu ao Congresso.
“Acho que ele nunca tirou Washington de seu sangue”, disse George Makris Jr., CEO do Simmons First National, que comprou o Delta Trust.
Hill construiu silenciosamente sua influência em Washington e diz evitar os holofotes. Ele está longe de ser controverso. Quando seus dois filhos ainda estavam no ensino médio, ia para casa todo fim de semana para ficar com eles e sua esposa.
O líder da maioria na Câmara, Tom Emmer, chamou Hill de “bom amigo e excelente legislador”.
Frustrações burocráticas
A venda do Delta Trust ajudou a formar a opinião de Hill sobre a regulamentação bancária.
O negócio esbarrou na burocracia por causa de uma única agência em Eudora, no Arkansas. O Simmons não pôde comprar a agência por causa dos regulamentos sobre a concentração bancária. O processo que se arrastou girava em torno de uma filial na chamada “capital do bagre” do Arkansas, com cerca de dois mil habitantes.
“French sentiu na pele algumas das regras e regulamentos antiquados que impedem os bancos comunitários de prosperarem, especialmente nas áreas rurais”, disse Makris, o presidente do Simmons.
Em 2015, Hill ingressou no Comitê de Serviços Financeiros, do qual é vice-presidente agora, e procura pôr essas opiniões em ação.
Uma crise de depósitos bancários no ano passado fortaleceu as críticas de que alguns bancos são “grandes demais para falir” e têm apoio implícito do governo, enquanto os pequenos ficam vulneráveis e enfrentam dificuldades. As tentativas dos reguladores de corrigir o problema impondo requisitos de depósitos compulsórios mais altos estão em xeque agora, dada a resistência do setor e do Partido Republicano, que defendem que os encargos são injustos.
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“O que é necessário para regulamentar adequadamente o JPMorgan Chase não é o mesmo que para um banco de US$ 50 bilhões com sede em Little Rock ou em Dallas”, disse Hill.
Fã de criptomoedas
Em 2023, Hill assumiu a presidência do subcomitê de ativos digitais e começou a trabalhar na elaboração de um projeto de lei que pudesse livrar certas criptomoedas de grande parte da regulamentação de ativos mobiliários. Funcionários e lobistas dizem que o conhecimento e a compreensão de Hill sobre o mundo das criptomoedas são incomuns na política.
“Há alguns representantes com quem você fala sobre conceitos, mas com French, você fala sobre detalhes”, disse um lobista, citando a opinião de Hill sobre por que as cripto são valores mobiliários e não commodities.
A campanha de reeleição de Hill este ano arrecadou milhares de dólares do setor, incluindo contribuições da exchange de criptomoedas Coinbase e do investidor de risco Andreessen Horowitz.
O projeto de lei de Hill, a Lei de Inovação e Tecnologia Financeira para o Século XXI, ou FIT21, foi aprovado com a adesão de 71 democratas. Ainda não foi votado no Senado.
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Funcionários e lobistas em Washington disseram que o apoio bipartidário mostra a habilidade de Hill em alcançar o consenso. Com os republicanos agora prontos para controlar o Senado, e Trump prometendo apoiar o setor, o projeto de lei de Hill tem agora maior probabilidade de ser aprovado.
“Gosto de ser o chefe”
A presidência do comitê de finanças será determinada no início de dezembro pelo Comitê Diretivo, grupo de cerca de 30 republicanos que decide quem vai liderar cada comitê no novo Congresso
O principal concorrente de Hill é Barr, do Kentucky, que tem feito campanha como aliado próximo de Trump.
Nos corredores do Capitólio, a conversa gira em torno dos obstáculos de cada um dos candidatos.
No caso de Hill, alguns se perguntam se a decisão que tomou em outubro de 2023 de votar “presente” em uma votação nominal antecipada do congressista pela Louisiana, Mike Johnson, para a presidência da Câmara pode ser um problema. Ele acabou apoiando Johnson para a presidência no final daquele mês.
Para Barr, a especulação de que ele poderia concorrer à cadeira de Mitch McConnell no Senado caso o republicano do Kentucky se aposente daqui dois anos pode prejudicar suas chances, dizem alguns.
Hill está fazendo campanha abertamente, mas continuará longe dos holofotes se perder.
“Gosto de ser o chefe; gosto de estar na posição de liderança”, disse ele. “Mas também fico muito contente por trabalhar nos bastidores.”
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traduzido do inglês por investnews