Quer fazer novas amizades? Quanto dinheiro você tem?
Mais pessoas estão contando com academias, aulas de arte e outras atividades pagas para fazer amizades
Annabelle Havill gasta pelo menos US$ 500 por mês mantendo as três amizades mais próximas que fez desde que se mudou para uma nova cidade, há dois anos, com o marido e dois filhos. Isso inclui festas, clubes de livros e noites de vinho, com uma média de cerca de US$ 170 por amigo.
Felizmente, os amigos retribuem. “É muito mais caro ter amigos do que não ter amigos”, disse Havill, de 42 anos e que mora no condado de Fauquier, na Virgínia.
Fazer e manter amigos exige mais dinheiro e esforço do que antes. As pessoas que passam menos tempo em escritórios, escolas e grupos comunitários gratuitos agora estão gastando dinheiro para fazer amizades. O aumento dos preços em restaurantes e bares significa que um bate-papo com bebidas ou jantares pode começar a pesar rapidamente.
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Os americanos hoje têm menos conexões próximas do que décadas atrás, um fenômeno agravado pelo isolamento social da pandemia. Pagar por aulas de arte e academias para conhecer pessoas pode ser uma ideia cara. Leva cerca de 200 horas para formar uma amizade próxima, de acordo com uma pesquisa de Jeffrey Hall, professor de estudos de comunicação da Universidade do Kansas.
E o preço continua subindo: o custo das associações de clubes, mensalidades de aulas, ingressos para eventos e comida e bebida fora de casa aumentou quase 11% nos últimos dois anos, em comparação com o crescimento de 7,5% nos preços de todos os bens e serviços, de acordo com dados da Secretaria de Estatísticas Trabalhistas.
Pagando para sair
Jenny Orletski-Dehne, de 33 anos, morou a maior parte de sua vida na região de Detroit. Quando adulta, fez muitos amigos através de aulas de fitness e eventos de networking profissional. Ela gasta cerca de US$ 200 em mensalidade de academia, o que gerou algo em torno de 15 amizades, calcula.
“Paguei pela comunidade que encontrei”, disse Orletski-Dehne, que gerencia a organização empresarial Let’s Detroit. “Fiz grandes amigos dessa forma, mas é um hobby caro.”
Cerca de um terço dos frequentadores de academia dizem ter se matriculado para conhecer novas pessoas, segundo uma pesquisa da Statista realizada em 2021. E não são só academias. Mais da metade dos americanos diz ter pelo menos um amigo com quem participa de atividades ou hobbies, de acordo com uma pesquisa do American Enterprise Institute (AEI na sigla em inglês).
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Fazer amizades em ambientes do dia a dia — como trabalho e escola — é mais difícil quando as pessoas ainda passam muito tempo em casa.
“Há apenas uma tendência geral de queda da socialização em espaços públicos”, disse Dan Cox, diretor do Centro de Pesquisa sobre Vida Americana da AEI. “As pessoas optam por várias maneiras de se conectar e socializar para ter esse sentimento de pertencimento por meio de espaços comerciais.”
Mais gastos, menos retorno
Orletski-Dehne também buscou amigos em eventos de networking profissional. Desde a pandemia, ela notou que os participantes estão mais interessados em aumentar seus círculos sociais do que em procurar emprego. Mas ela fez apenas alguns amigos através dos eventos, que custam até US$ 25, contou.
Pagar por eventos únicos pode não ser a maneira mais eficaz de desenvolver uma amizade íntima, de acordo com Hall, que diz que as pessoas têm uma chance maior de expandir seus círculos sociais nos lugares onde passam mais tempo.
Os bairros costumavam fornecer uma rede social local, mas as pessoas não são mais tão próximas de quem mora perto. Cerca de 41% dos americanos disseram ter socializado com vizinhos pelo menos uma vez por mês em 2022, de acordo com a Pesquisa Social Geral, contra 61% em 1974.
Doug Copeland, de 59 anos, se mudou para um apartamento em Kansas City, Missouri, em janeiro de 2020 e descreveu sua relação com seus vizinhos como cordial. Quando era mais novo, fez amigos frequentando aulas de dança de salão com pessoas que moravam em seu prédio.
“Durante metade de sua vida você tenta fugir de casa, e na outra metade tenta encontrar uma casa e seu pessoal”, disse Copeland.
Copeland gasta cerca de US$ 500 por mês em aulas de soprar vidro, golfe, tênis e aulas na ACM. Ele ainda espera que uma amizade aconteça.
Para Havill, os US$ 100 a US$ 200 que gastava por mês em raquetes de pickleball, materiais de artesanato e reuniões para preparar biscoitos ou cerâmica não compensaram. As três amizades que fez aconteceram enquanto passeava com seu cachorro e observava seus filhos brincarem pela vizinhança.
Amigos com desconto
Marley Aikhionbare, de 22 anos, e Rowan Lester, de 20, têm como missão criar um lugar acessível para fazer amizades.
Dezessete por cento dos trabalhadores híbridos dizem ter um melhor amigo no trabalho, de acordo com uma pesquisa Gallup de 2022 com quatro mil trabalhadores. Os estudantes universitários estão mais solitários e isolados do que seus antecessores, um legado das restrições da era da Covid na vida no campus.
Depois de abandonar a faculdade, Aikhionbare sentiu-se isolado das pessoas de sua idade que estavam na escola. Não foi muito melhor para Lester, que está se formando agora na Universidade da Califórnia, em Santa Cruz.
“Sinto que ainda somos muito insulares e fomos treinados para ser assim nos últimos dois anos”, disse Lester.
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O objetivo da dupla: remover o constrangimento e os gastos para estabelecer uma vida social. Em fevereiro, eles organizaram um evento baseado na ideia de “terceiros lugares”, um conceito que se refere a um espaço que não o de casa nem o do local de trabalho onde as pessoas estabelecem uma comunidade. Os ingressos para o evento custavam US$ 10, mas um segundo evento previsto para o final de maio será gratuito.
“O que é preciso para criar um terceiro espaço verdadeiramente funcional é declarar que isso visa especificamente a socialização”, disse Aikhionbare. “Precisamos saber que temos permissão.”
Escreva para Katherine Hamilton at [email protected]
traduzido do inglês por investnews