União Europeia dá guinada à direita, um baque para governos francês e alemão
Presidente francês convoca eleições parlamentares após demonstração de força de partidos nacionalistas nas eleições da União Europeia
Os partidos de direita deram uma demonstração de força nas eleições da União Europeia, levando o presidente francês, Emmanuel Macron, a convocar eleições parlamentares e ressaltando a posição do chanceler alemão, Olaf Scholz, cujo partido está atrás de dois outros rivais, de acordo com projeções iniciais.
Os resultados de domingo (9) ainda aparentam deixar os principais partidos pró-UE garantindo o poder em Bruxelas. O grupo político de centro-direita que agora lidera o bloco parecia pronto para conquistar a maioria dos assentos no Parlamento Europeu, aumentando as esperanças da presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, de manter seu cargo para um segundo mandato. Ela forjou uma estreita relação de trabalho com o governo Biden.
Ainda assim, o partido de oposição de extrema-direita francês Rassemblement National (Reunião Nacional, RN) parece estar entre os maiores vencedores das eleições pan-europeias. O partido de Marine Le Pen parece prestes a se tornar o maior partido único no Parlamento Europeu. Projeções baseadas na contagem antecipada de votos na noite de domingo sugeriam que o Reunião Nacional havia obtido cerca de 31% dos votos, o dobro do apoio ao Partido Renaissance (Renascimento, RE), de Macron.
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Após os resultados franceses, Macron disse que iria dissolvendo o Parlamento e convocar novas eleições. Seu partido já não tinha maioria na Assembleia Nacional. O primeiro turno das eleições ocorrerá em 30 de junho, seguido por um segundo em sete de julho, disse Macron. Seu mandato como presidente termina em 2027.
“Decidi devolver a vocês a escolha do nosso futuro parlamentar por meio de uma eleição”, declarou ele.
O líder do Reunião Nacional, Jordan Bardella, disse que os resultados de domingo marcaram uma “derrota sem precedentes para as potências”, acrescentando que foi “o primeiro dia da era pós-Macron”.
Na Alemanha, o Partido Social-Democrata de Scholz também aparentemente enfrentou um desgaste. De acordo com as pesquisas nacionais de boca de urna, ele estava em terceiro lugar, atrás do partido de extrema direita Alternativa para a Alemanha e do vencedor claro, a aliança de centro-direita da oposição alemã.
As eleições, realizadas de quinta-feira (6) a domingo (9), foram para os 720 deputados do Parlamento Europeu. De acordo com os números da UE, até 370 milhões de eleitores podiam votar, embora a participação nas eleições seja geralmente modesta.
Embora os principais poderes do Parlamento Europeu sejam aprovar ou alterar regras, leis e acordos comerciais da UE, a votação, que ocorre duas vezes a cada década, oferece um indicador potente do humor político da Europa. São também esses parlamentares que aprovam a nova equipe de liderança da UE.
Os resultados de domingo apontam problemas para a capacidade da liderança da UE de perseguir suas metas ambientais e indicam que a pressão para endurecer as regras de migração aumentará. A votação também deve dar mais voz, pelo menos dentro do Parlamento, aos críticos nacionalistas e de esquerda do apoio da UE à Ucrânia.
Apesar do revés dos partidos pró-UE, eles parecem ter assentos suficientes para reunir a maioria dos legisladores e aprovar suas prioridades. Uma avaliação do agregador de pesquisas de boca de urna Europe Elects sugeriu que blocos políticos de centro-direita, centro e centro-esquerda garantiriam 407 assentos no novo Parlamento, ou 57% da câmara, de acordo com o serviço de imprensa do Parlamento Europeu com base em resultados nacionais provisórios. Os partidos nacionalistas de direita devem garantir cerca de 155 votos.
Embora os resultados empurrem a política europeia para a direita, as divisões entre os partidos nacionalistas e de extrema-direita da UE provavelmente atenuarão o impacto de seus ganhos. Alguns líderes de direita pediram uma aliança de todo o movimento, mas isso parece improvável.
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O desempenho sólido do bloco de centro-direita da UE reforçará as chances de Von der Leyen permanecer no comando. Primeira mulher a ocupar o cargo, ela precisa do apoio dos 27 líderes nacionais do bloco e aprovação no Parlamento Europeu para se manter no poder.
“Somos o partido mais forte”, disse Von der Leyen em um comício quando os resultados chegaram. “Somos a âncora da estabilidade e os eleitores reconheceram nossa liderança durante os últimos cinco anos.”
O resultado alemão parece destinado a injetar nova instabilidade no governo de coalizão, que se tornou conturbado agora que as eleições nacionais se aproximam em 2025. Houve algumas vozes na coligação de três partidos pedindo eleições antecipadas. O governo enfrentará novo teste político nas eleições regionais no final deste ano.
A decisão de Macron de convocar eleições legislativas é uma aposta, que depende da vitória de Le Pen no domingo, produzindo uma reação entre os eleitores que temem que o Reunião Nacional assuma o poder. No passado, centristas, esquerdistas e centro-direita forjaram alianças vencedoras contra Le Pen no segundo turno das eleições presidenciais.
Thibault François, deputado do Reunião Nacional e porta-voz de assuntos europeus do partido, disse que a decisão de Macron era inevitável.
“Ele não conseguiria governar depois de uma derrota dessas”, afirmou ele.
Entre outros resultados bem-sucedidos de partidos nacionalistas, pesquisas de boca de urna sugeriram que o Partido da Liberdade da Áustria ficou em primeiro lugar. Nos Países Baixos, o partido de Geert Wilders, político anti-imigração que venceu as eleições nacionais de novembro passado, conquistou vários assentos no Parlamento, segundo resultados finais, embora seu partido tenha ficado em segundo lugar, atrás de uma aliança verde de centro-esquerda.
Uma das líderes conservadoras mais poderosas da UE também teve um bom desempenho: o partido Fratelli d’Italia (Irmãos da Itália), da primeira-ministra italiana, Giorgia Meloni, deve ficar em primeiro lugar, com cerca de 28,5% dos votos, segundo o Parlamento Europeu, com base em resultados preliminares.
Meloni, que chegou ao poder em 2022 com uma forte plataforma anti-imigração, mas se reposicionou como uma conservadora convencional, minimizando suas raízes de extrema direita, está sendo cortejada pela centro-direita e pela direita dura para formar uma aliança em Bruxelas.
Na Polônia, o atual governo centrista obteve mais uma vitória sobre o governo conservador de direita anterior, após as eleições nacionais do ano passado. As forças nacionalistas tiveram um desempenho fraco na Suécia, Finlândia e Dinamarca. Os dois partidos de centro-esquerda e centro-direita da Espanha estavam muito à frente dos partidos mais radicais, de acordo com pesquisas de boca de urna.
O partido Fidesz, do veterano primeiro-ministro húngaro Viktor Orbán, ficou em primeiro lugar na votação de seu país, com 44%; porém, um novo partido de oposição formado por um ex-aliado de Orbán obteve boa pontuação, com 31%, de acordo com pesquisas de boca de urna. Após a maioria dos resultados, Orbán reivindicou a vitória.
“Parem a migração, parem o gênero, parem a guerra… parem Bruxelas”, disse Orbán.
Entre os maiores perdedores da noite estão os partidos verdes da Europa, que tiveram um bom desempenho há cinco anos devido às preocupações com as mudanças climáticas. Desde então, protestos de agricultores em todo o continente e temor dos eleitores relacionado aos custos das políticas verdes mudaram o humor político.
O Partido Verde mais poderoso do continente, o partido de coalizão júnior no governo de Scholz, obteve apenas 12% dos votos, contra mais de 20% em 2019.
Escreva para Laurence Norman em [email protected] e Noemie Bisserbe em [email protected]
traduzido do inglês por investnews