Começar a investir é como conduzir um veículo pela primeira vez. Sem o domínio da direção, o condutor pode sofrer acidentes diante do primeiro obstáculo. Quem não conhece as regras do jogo pode ter dificuldades em lidar com imprevistos no meio do caminho. Já o condutor mais experiente certamente está familiarizado com esses percalços — enquanto o iniciante vai descobrir se aguenta lidar com eles ou se prefere seguir por caminhos mais previsíveis.
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Quando se trata de investir o próprio dinheiro, não é muito diferente: é preciso conhecer a sua tolerância a perdas antes de escolher seguir por uma estrada mais perigosa. É por este motivo que as corretoras de valores e instituições financeiras aplicam um questionário, conhecido como suitability, a todo cliente que vai começar a investir.
É obrigatório preencher este tipo de formulário desde 2015, quando entrou em vigor a instrução 539 de 2013, da CVM (Comissão de Valores Mobiliários) — o “xerife” que fiscaliza o mercado financeiro no Brasil. O resultado do suitability aponta até onde o investidor é capaz de suportar perdas do seu próprio dinheiro, temporárias ou não.
A carteira de cada investidor
Existem basicamente três tipos de investidor: conservador, moderado e arrojado. Claro que a linha que separa estes perfis é tênue e o perfil pode mudar com o tempo e o aprendizado de cada um.
Há produtos financeiros mais recomendados para cada um deles, mas isso pode variar bastante. Diversificar, no entanto, é uma regra recomendada para os três perfis. É possível montar uma carteira com todo tipo de produto (misturando aplicações de renda fixa, as mais seguras e com retornos mais modestos, e investimentos de renda variável, que ofereceram chances de ganhos mais generosos e sujeitos a riscos maiores).
O que muda, para cada perfil, é o percentual do risco que o investidor vai colocar dentro de seu portifólio. Essa proporção pode variar bastante, especialmente a depender do ciclo econômico e do patamar da taxa básica de juros (Selic). Mas um exemplo de estratégia pode ser o seguinte*:
- Conservador: 95% em renda fixa e 5% em renda variável
- Moderado: 80% em renda fixa e 20% em renda variável
- Arrojado: 60% em renda fixa e 40% em renda variável
*Os exemplos citados são ilustrativos e não configuram recomendação.
Quem é você no mundo dos investimentos
Conheça abaixos as características mais comuns dos três perfis clássicos de investidor e veja qual mais se adequa ao seu estilo de investir (lembrando que o texto abaixo não substitui o questionário de suitability da sua corretora):
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CONSERVADOR
Você é daqueles que escolhem o assento ao lado da saída de emergência no avião, mesmo sabendo que, caso algo dê errado, as chances de sobreviver serão mínimas? Se a resposta for sim, a segurança é seu bem mais precioso. Você sempre checa se recebeu cada centavo daquela aplicação de renda fixa no final do mês. Levar um calote de alguém? Este é o pior dos pesadelos. O investidor conservador quer investir com retorno garantido, livre de riscos, mesmo que isso implique em ganhar menos ou quase nada. Seu conhecimento sobre investimentos, via de regra, é básico, já que ele não tem tempo, nem paciência ou disposição para acompanhar notícias e tendências sobre os produtos financeiros. Seu objetivo é construir e proteger seu patrimônio., acima de tudo Quem se lembra dos mergulhos que o personagem da Disney tio Patinhas dava em sua “piscina” de moedas? Essa imagem fascina o conservador. Mas vale lembrar que, em tempos de inflação alta, guardar dinheiro em cofres não é a melhor estratégia para deixar seu dinheiro protegido.
Investimentos preferidos*:
- Tesouro pré-fixado
- CDBs
- LCA (Letra de Crédito do Agronegócio)
- LCI (Letra de Crédito Imobiliário)
- Letras de Câmbio
- Fundos de renda fixa
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MODERADO
Você se sente bastante confortável em investir de forma segura, mas também está disposto a se aventurar um pouco mais para obter retornos maiores no longo prazo? Então correr riscos tem um limite muito claro para você. Você avalia cada caso e pensa mais de duas vezes antes de escolher onde colocar seu dinheiro. Seu conhecimento sobre o mercado é razoável e já se aventurou em investimentos anteriores.
Conhecido como o maior investidor de todos os tempos, o americano Warren Buffett construiu sua fortuna com preceitos bastante simples: paciência e persistência. Dono de um patrimônio de mais de US$ 70 bilhões, segundo a revista “Forbes”, ele sempre recomendou guardar dinheiro e avaliar os riscos de cada negócio. Buffett é adepto da prática “buy and hold” (compre e segure, do inglês) no mercado de ações, que consiste em comprar um papel e esperar sua valorização no longo prazo. Outra figura que se enquadra neste perfil psicológico é o famoso investidor húngaro George Soros, que enriqueceu investindo em fundos de hedge (proteção). Em suas próprias palavras, “não há nada de errado em correr riscos, desde que não se arrisque tudo”.
Investimentos preferidos:
- Títulos pós-fixados
- Debêntures
- Ações que pagam dividendos
- Fundos imobiliários
- Tesouro Selic
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ARROJADO
Você não tem dor de cabeça ao correr mais risco para tentar obter uma rentabilidade maior? Talvez você já esteja ligado ao mundo dos investimentos há um bom tempo e conheça as regras do mercado. Via de regra, o investidor arrojado está bem familiarizado com as oscilações de curto prazo -e até espera que elas aconteçam. Sua paciência em esperar para obter ganhos no longo prazo é grande, por isso está disposto a perder dinheiro agora se houver chance de fazer fortuna amanhã. Até o investidor arrojado calcula bem seus riscos e sabe que quanto maior o voo, maior a queda. Por isso, até ele segue a conhecida máxima da diversificação que consiste em não colocar todos os ovos dentro da mesma cesta. Um bom exemplo de investidor que não se contenta com pouco é o arrojado (e também controverso) empreendedor americano Elon Musk. Não basta apenas comandar uma montadora de carros elétricos, a Tesla. Ele sempre partiu para o próximo desafio e se envolveu com a indústria aeroespacial, satélites e projetos de energia nuclear. Nem sempre deu certo. Mas, para ele, o importante é tentar.
Investimentos preferidos:
- Ações
- Fundos multimercados
- Fundos de ações
- Fundos cambiais
- Derivativos (opções)
*Os investimentos citados são ilustrativos e não configuram recomendação.