Você vem acompanhando há algum tempo uma ação. Uma queda súbita de preço colocou-a em um patamar convidativo. Mas você, olhando na tela o preço e outras informações em letras vermelhas, hesita. Apesar dos bons fundamentos, sua expectativa de que o papel pode se recuperar é pessimista. Acaba deixando de comprar só para ver a ação se recuperar em alguns pregões. Com bons fundamentos, segue subindo mais tarde.
Para alguns investidores, um erro de avaliação que afeta todo mundo vez ou outra. Mas podia ser diferente se o preço da ação tivesse sido escrito em azul, verde ou mesmo preto, sugere um estudo coordenado por William Basley, professor de Finanças na Universidade do Kansas. Dados exibidos na cor vermelha, segundo ele, estimulam o pessimismo e podem aumentar a aversão ao risco.
O estudo montou três experimentos. O primeiro perguntou a 150 voluntários se gostariam de apostar em loterias com diferentes probabilidades de ganhar ou perder dinheiro. Por exemplo, eles podiam apostar ou não numa loteria com 80% de chance de um prêmio maior (US$ 2) do que o prejuízo (US$ 1,50), que tinha 20% de possibilidade de acontecer. Ou o contrário, o valor a ser perdido era maior do que a ser ganho.
Mas não só. Os voluntários foram divididos em três grupos e cada um recebeu a informação sobre o risco de perda numa cor diferente – vermelho, preto e azul. Se a chance de ganhar e de perder era a mesma, os resultados deveriam ser mais ou menos iguais. Mas não foi assim. Entre os participantes que receberam a informação em vermelho, a vontade de apostar foi 11,4% menor do que nas outras cores. Foram mais pessimistas.
Em um segundo experimento, os pesquisadores quiseram saber se a cor vermelha também interfere na aversão ao risco. Para isso, exibiram a 290 voluntários dados sobre três ações, da Netflix, Hyatt Hotéis e Yahoo ao longo de um ano. Mais uma vez as cores foram diferentes. Um grupo observou as altas e quedas na cor preta. Outros, na cor azul e um terceiro grupo, as altas na cor verde e as baixas na cor vermelha.
Os voluntários, mais tarde, disseram aos pesquisadores qual seria o desempenho daqueles papéis no futuro, apresentando uma estimativa de preço máxima, uma mínima e uma média. Nos grupos azul, preto e verde, as projeções foram próximas. No caso do grupo que viu as informações em vermelho, as estimativas foram sempre mais baixas do que nos demais. O risco de perder dinheiro levou a previsões mais conservadoras.
Não é sem razão. Em nossa cultura, a cor vermelha está associada ao perigo e ao erro. Por exemplo, usam bandeiras vermelhas na praia para indicar que o mar está mais ameaçador. Em muitas escolas, a correção de erros nas provas geralmente é feita com a caneta vermelha. E, falando de investimentos, quando uma ação ou outro papel caem, todo mundo vai entender se alguém disser que fecharam no vermelho.
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Não quer dizer que as outras cores tornam as pessoas mais otimistas. O efeito parecia ser negativo e restrito às informações em vermelho. Para ter mais certeza, os pesquisadores fizeram um terceiro experimento, recrutando na internet 300 pessoas que não são capazes de distinguir cores. Um grupo que representa 0,5% da humanidade, de acordo com o trabalho.
Os dados usados foram os mesmos do experimento anterior. E com participantes incapazes de notar a cor vermelha, as projeções nos três grupos desta vez ficaram muito parecidas. Resultado que levou os pesquisadores a concluir: é preciso mais atenção à maneira como visualizamos e processamos informação financeira. Detalhes como uma cor podem parecer sem importância. Mas influenciam nossas decisões de investimento.
*Samy Dana é Ph.D em Business, apresentador do Cafeína/InvestNews no YouTube e comentarista econômico. |
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