O mercado de ações tem vivido momentos de otimismo, com avanços em relação às vacinas contra a covid-19 e o aumento do apetite por risco em economias emergentes como o Brasil. Nesse contexto, Murilo Breder, analista da Easynvest, lançou uma carteira de ações focada em small caps para auxiliar o investidor a diversificar seu portfólio. A escolha dos ativos foi feita com base em bons fundamentos e com potencial de valorização de 20% a 30% em 2021.
Small caps são companhias com valor de mercado de até US$ 1 bilhão (R$ 5 milhões). Estas ações têm pouca ou nenhuma participação no Ibovespa, índice de referência da bolsa brasileira, e estão fora do grupo das 25 maiores empresas da bolsa.
Segundo Breder, entre as vantagens de investir em small caps estão as oportunidades de crescimento. Por serem companhias de menor porte, há muito espaço para a valorização em comparação com empresas grandes da bolsa. Em consequência, os retornos para o investidor também são maiores.
“A Ambev (ABEV3) tem 60% de participação no mercado de bebidas. É muito difícil que ela dobre de tamanho. Enquanto a Sinquia (SQIA3) é líder no segmento dela e tem apenas 4% de marketshare e pode dobrar de tamanho com facilidade”, exemplifica Breder.
Além do potencial de crescimento, outra vantagem é a diversificação na carteira. Estando fora do radar de muitos investidores, estes papéis não têm correlação com as chamadas blue chips da bolsa (as ações mais negociadas), auxiliando os mais arrojados a diversificar. Segundo Breder, todo investidor experiente deveria ter pelo menos 1/3 dos seus ativos aplicados em small caps.
Mas nem tudo são flores. Investir em small caps também tem seus riscos. Um deles é que são ações com baixa liquidez e maior volatilidade na comparação com grandes companhias da bolsa. Em consequência, o risco é maior e se desfazer dos papéis pode não ser tarefa simples.
Estas companhias também têm menos cobertura do mercado. Então, o processo de garimpar informações para facilitar a tomada de decisão sobre os ativos pode ser mais complicado para o investidor.
Pegando carona nesta dificuldade, Breder criou a carteira small caps, contando com um time de analistas na Easynvest focado nestas empresas há alguns trimestres. Eles avaliam o potencial de retorno dos papéis e conversam com os diretores e CEOs das empresas, com o objetivo de que a escolha seja um “tiro no alvo”.
A carteira é recomendada para investidores arrojados que tenham experiência com ativos na bolsa de valores. No entanto, o analista destaca que investidores de perfil moderado também podem usufruir da oportunidade, alocando aos poucos e experimentando o risco destas ações.
Os setores escolhidos
A carteira de small caps não tem um número fixo de ações, mas segundo Breder oscila sempre no patamar de entre cinco e 10 companhias. Elas fazem parte de cinco setores. Os de maior peso são energia (30%), agrícola (25%), tecnologia (25%) e construção civil (15%).
Entre os diferenciais está o formato de alocação estratégica, que segue a lógica dos fundos de investimentos em ações (FIAs). Breder explica que as companhias com maior percentual de alocação são aquelas nas quais ele tem uma convicção maior. Ou seja, as ações com uma melhor relação risco-retorno para aquele momento. Já as companhias que têm um peso menor na carteira são as de maior risco e menor convicção por parte do analista.
A carteira será rebalanceada todos os meses, assim como o peso das companhias. “Se uma determinada ação sobe de forma muito rápida e sem fundamento, vendemos parte da posição para rebalancear a carteira com ações que insistem em ficar para atrás, apesar de ter perspectivas positivas futuras”, afirma.
Outro diferencial da carteira é que, embora o objetivo não seja acumular proventos, muitas destas ações também pagam dividendos ao investidor.
A carteira também traz a recomendação sobre o preço máximo para o investidor comprar as ações. Por exemplo, no caso da Eneva (ENEV3) a dica é comprar o papel até no máximo R$ 64. Na terça-feira (8), ação encerrou o pregão custando R$ 55,89. “Muitas vezes a companhia é boa, mas o papel está caro. Esse limite de preço não se traduz em vender a ação, mas para quem ainda não comprou é melhor esperar”, diz Breder.
O levantamento complementa a carteira de ações de grandes empresas que a Easynvest elabora desde junho deste ano. “Diversificar é imperativo no atual cenário de juro baixo e instabilidade catalisada pela pandemia”, argumenta José Falcão, especialista em renda variável da plataforma de investimentos. “Agregar ao portfólio ações de grandes e pequenas empresas, recomendadas por especialistas, aumenta a proteção”, justifica.
Um time de futebol
O analista ainda compara a estratégia da carteira com um time de futebol brasileiro, no qual as posições são divididas em ataque e defesa. Desta forma, as companhias de agronegócio são as de perfil defensivo, enquanto o setor de tecnologia faz o meio de campo por ser um negócio resiliente. No ataque, estão a dupla Login (LOGN3) e Trisul (TRIS3), empresas de beta elevado e com possibilidade de retornos maiores.
No mês de novembro, o índice Small Cap (SMLL) acumulou valorização de 16,7%, enquanto a rentabilidade da carteira Small Caps Easynvest foi de 11,4%.
Veja abaixo 8 ações da carteira de small caps da Easynvest para dezembro:
Empresa | Código | Setor | Alocação | Retorno atual* | Comprar até |
Eneva | ENEV3 | Energia | 20% | +21% | R$ 64 |
Kepler Weber | KEPL3 | Agrícola | 15% | -2% | R$ 44 |
Totvs | TOTS3 | Tecnologia | 15% | -1% | R$ 32 |
Trisul | TRIS3 | Construção | 15% | +11% | R$ 15 |
BrasilAgro | AGRO3 | Agrícola | 10% | +30% | R$ 30 |
Copel | CPLE6 | Energia | 10% | +10% | R$ 76 |
Sinquia | SQIA3 | Tecnologia | 10% | +2% | R$ 30 |
Login | LOGN3 | Transporte | 5% | +5% | R$ 20 |
* Retorno calculado a partir do dia 1º outubro até o fechamento de 30/11
Escalação
A companhia com maior peso na carteira para o mês de dezembro é a Eneva (ENEV3), que responde por 20% da alocação. A empresa integra o setor de energia, um dos mais estáveis da bolsa e surgiu da reestruturação da OGX em 2013.
A Eneva é a maior operadora privada de gás natural e a terceira maior em capacidade térmica do país. Segundo Breder, ela possui fortes vantagens competitivas, como um complexo integrado no tratamento de gás e usinas de geração, além do uso da própria matéria-prima para alimentar suas termoelétricas. O custo de extração do gás também é muito barato, em média US$ 2,34 por MMBTU (unidade de referência) e bem inferior ao preço de extração do gás no pré-sal e gás natural (GNL).
Entre as oportunidades que podem ajudar a companhia a valorizar, o analista aponta a compra do polo da Petrobras, localizado na Bacia do Solimões (AM) em Urucu, que caso anunciado faria a empresa dobrar de tamanho. Além da mudança de matriz energética brasileira, o novo mercado de gás e oportunidades para a companhia explorar petróleo.
Ainda no setor de energia, a Copel (CPLE6) responde por 10% da carteira. Considerada um ativo bom e barato pelo analista, a empresa também distribui dividendos. Nos últimos 12 meses, a Copel pagou 3,0% em proventos. “Caso seu endividamento seja controlado, pode abrir espaço para pagamentos melhores”, analista Breder.
A companhia tem 59% da sua dívida atrelada ao CDI, se beneficiando da taxa Selic em patamares baixos. Sua alavancagem (dívida líquida/ebitda) também está diminuindo, no final de setembro estava no patamar de 1,3x. A Copel integra o Índice de Sustentabilidade Empresarial da B3 e recentemente foi incluída no índice Ibovespa para 2021.
Na defesa, estão as empresas agrícolas Kepler Weber (KEPL3) e BrasilAgro (AGRO3) que respondem por 15% e 10% da carteira Easynvest respectivamente. A Kepler Weber trabalha no segmento de pós-colheita, com equipamento para secagem e beneficiamento do grão. A companhia tem uma participação de mercado de 40% e segundo Breder, a taxa baixa de juros em 2021 deve impulsionar o armazenamento entre os produtores. Outra vantagem é a taxa de câmbio, que deve deixar os produtos da empresa mais baratos no mercado internacional.
A saída da Previ, dona de 17,5% das ações da companhia, também deve destravar o valor da empresa proporcionando ganhos na governança corporativa, comenta Breder.
No caso da BrasilAgro, cuja principal estratégia de valor é comprar propriedades rurais subutilizadas e não produtivas e introduzir práticas de manejo agrícola para aumentar a produtividade, ele enxerga forte potencial com o aumento da safra de soja e milho em 2021 que pode favorecer a companhia e suas exportações.
Outras vantagens são a proteção que a companhia garante ao investidor contra a alta do dólar por ser exportadora e a valorização das suas propriedades que estão bastante descontadas. Esta garantiria mais geração de caixa e distribuição de dividendos. Nos últimos cinco anos, a média de dividendos da BrasilAgro foi de 4,5%.
No meio do campo estão as companhias de tecnologia Totvs (TOTS3) e Sinquia SQIA3 com 15% e 10% de participação na carteira.
Ambas focadas na geração de softwares e plataformas de gestão e produtividade, a Sinquia domina as soluções voltadas ao mercado financeiro enquanto a Totvs oferece alternativas para diversos segmentos, entre estes: agronegócio, logística, manufatura, varejo, saúde, construção civil, educação e também financeiro.
Segundo Breder, estas companhias são concorrentes mas ao mesmo tempo complementares especialmente alinhadas com o objetivo da carteira de apostar no crescente setor de tecnologia brasileiro. A Totvs é líder absoluta no mercado de pequenas e médias empresas com participação de 50%, enquanto a Sinquia tem um market share de 3,8%.
Ambas empresas apostam suas fichas em aquisições: a Totvs tem um histórico de mais de 30 empresas adquiridas nos últimos dez anos e taxa elevada de renovação de clientes, 99% para o segundo trimestre de 2020. “Recentemente perdeu a disputa bilionária pela Linx para Stone, mas isso já é página virada para a ação”, afirma o analista.
Ja a Sinquia adquiriu 16 empresas desde 2005, e planeja uma nova aquisição nos próximos meses, que segundo Breder vai destravar o valor da companhia no curto prazo.
Por último, na linha do ataque estão a dupla Login (LOGN3) e Trisul (TRIS3), empresas que podem proporcionar retornos maiores.
Focada no sistema de navegação por cabotagem, a Login ainda não teve lucro líquido, mas segundo o analista a evolução do seu ebitda foi nítida nos últimos quatro anos. Em 2019, o ebitda ajustado foi de R$ 248 milhões. Entre as oportunidades para a companhia estão uma oferta de ações feita em novembro de 2019, quando captou R$ 634 milhões para expansão do negócio e a BR do Mar que está em votação no Congresso, e pode garantir o crescimento de 30% da Login.
Já a Construtora Trisul deve sair fortalecida no pós-crise, pela sua estratégia de focar nas regiões nobres de alta renda além de ter o menor prazo de entrega do mercado (30 meses). Desde seu IPO em 2007, a companhia só teve um único prejuízo, de R$ 40 milhões em 2010.
Veja também:
• 11 ações baratas da bolsa: vale investir ou é ‘furada’?