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Investir em empresas inovadoras nem sempre dá mais retorno, diz estudo

Profissionais altamente qualificados geram grande impacto na folha de pagamento destas mesmas empresas.

empreendedor

Você está em busca de uma empresa para investir. Estudando determinado papel, se dá conta de que se trata de uma companhia com uma força de trabalho altamente qualificada, repleta de cientistas e engenheiros. É um caso em que o crescimento é quase garantido, já que a mão de obra torna a empresa mais inovadora, conquistando cada vez mais participação de mercado, certo?

Se fosse um caso real, a resposta correta deveria ser: “depende”. Pelo menos é o que sugere um estudo britânico divulgado na semana passada. Produzido por Chieh Lin, Steven Toms e Iain Clacher, todos professores da Escola de Administração da Universidade de Leeds, o trabalho demonstra que se o investimento em pesquisa pode impulsionar negócios, também tem um lado negativo para os acionistas.

Eles examinaram primeiro as folhas de pagamento de quase 15 mil empresas durante 21 anos – de 1997 a 2018 – em 16 países, verificando qual o percentual destinado à remuneração de funcionários ligados à Stem, sigla em inglês para ciência, tecnologia, engenharia e matemática. No total, foram vasculhados 269 setores da economia, como transporte, manufatura e educação.

Notaram que o beta, a medida que compara a volatilidade de uma ação na comparação com o mercado em geral, aumentava entre 9% e 17% a cada 20% a mais de gastos com salários de técnicos e pesquisadores. Pode parecer contraditório, já que são as empresas mais inovadoras, que geralmente estão mais em evidência e, consequentemente, atraem mais consumidores.

A contribuição de cientistas e outras profissões relacionadas para a pesquisa e desenvolvimento no mercado é inegável. De carros elétricos aos aplicativos de mobilidade, passando por smartphones, redes sociais, ecommerce, em resumo, praticamente toda a inovação na economia passa pelas mãos deles, com reflexo nos lucros das empresas, principalmente aquelas consideradas de crescimento, nas quais as cotações refletem mais o potencial de lucro futuro do que o lucro atual.

Mas profissionais altamente qualificados também têm grande impacto na folha de pagamento destas mesmas empresas. Nos Estados Unidos, embora correspondam a 13% da força de trabalho, eles recebem 23% dos salários. Ganham em média US$ 91 mil por ano, praticamente o dobro do que os US$ 47 mil pagos aos trabalhadores não ligados à Stem. E não podem ser demitidos facilmente sem impacto nos novos projetos, tornando mais problemático ajustar o custo da mão de obra ao faturamento.

O impacto nos balanços futuros torna mais arriscado o investimento em empresas inovadoras. Mas o estudo, divulgado na semana passada durante a conferência anual da Academia Britânica de Gestão, aponta algumas exceções. Amazon e outros gigantes da tecnologia estariam imunes ao problema devido ao modelo robusto de negócios – só o lucro da Apple no segundo trimestre foi de US$ 21,7 bilhões – e à participação atual de mercado.

Mais um exemplo de que não há verdades absolutas em finanças. E isso não tem nada de inovador.

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