A Mosaico (MOSI3), dona dos sites de comparação de preços Zoom e Buscapé, tem enfrentado um cenário bastante desafiador. Desde que estreou na bolsa, em fevereiro deste ano, o preço das ações da companhia está bem abaixo da precificação da sua oferta inicial de ações (IPO, na sigla em inglês) em R$ 19,80 por papel. Em relação ao pregão da última terça-feira (28), o valor chega a ser 75% inferior.
Além disso, os números do segundo trimestre vieram fracos. A receita líquida da companhia caiu 19,9% no período em relação ao mesmo intervalo do ano passado, de R$ 58,9 milhões para R$ 47,2 milhões, enquanto o lucro líquido recuou 73,5% na mesma análise de comparação, de R$ 13,87 milhões para R$ 3,67 milhões.
Na ocasião, o Itaú BBA reduziu a recomendação para os papéis da companhia de compra para neutra e o preço-alvo de R$ 39 para R$ 13, após afirmar que os resultados trimestrais foram uma “surpresa negativa”.
O banco sinalizou não se tratar “apenas de uma fraqueza transitória, mas uma deterioração preocupante nas perspectivas de crescimento do negócio principal da empresa”, que é a comparação de preços.
Mas quais fatores têm feito a companhia patinar nos últimos tempos? O Investnews conversou com analistas que pontuaram os desafios enfrentados pela Mosaico e o que os investidores podem esperar daqui em diante. Confira:
*Número leva em conta fechamento do pregão do dia 28 de setembro
Cashback na mira
A pandemia acelerou o comércio eletrônico e a Mosaico colheu bons frutos em 2020. Mas, para o bem e para o mal, os números expressivos do segundo trimestre de 2020 tornaram a base de comparação mais difícil em 2021.
Além disso, o cenário mais competitivo para o e-commerce elevou o custo de aquisição de tráfego (como a compra de palavras-chaves no Google) e intensificou o cashback (quando o varejo devolve ao cliente um percentual do valor pago na compra de um produto), que, até então, não era oferecido pela companhia.
A empresa passou a oferecer a modalidade em maio deste ano, inicialmente, para clientes da plataforma Zoom e, em agosto, estendeu o uso para o Buscapé. Porém, até que o lançamento ocorresse, os usuários passaram a procurar o benefício em outros canais. “O consumidor continuou usando a jornada da Mosaico para pesquisar os produtos e comparar preços, porém, na hora de finalizar a compra, ele ia para outras plataformas, como a Méliuz ou o próprio site da loja, em busca de cashback”, explica Danniela Eiger, analista da XP Investimentos.
A dinâmica acabou afetando em cheio a Mosaico, que só é remunerada pelo parceiro varejista quando um cliente efetiva a compra de algum produto, após ser redirecionado por uma de suas plataformas. Para se ter uma ideia, o GMV (valor bruto de mercadorias) da companhia, que é um dos indicadores mais importantes para medir as vendas do comércio online, caiu 17%, de R$ 1 bilhão para R$ 902,7 milhões. No mesmo período, o GMV da Méliuz (CASH3) saltou 69% – de R$ 515 milhões para R$ 873 milhões.
Em relatório, o Itaú BBA também informou que a participação de mercado nas vendas online da Mosaico no Brasil encolheu de 4,2% no primeiro trimestre de 2021, para 2,3% no segundo trimestre de 2021.
Em balanço do segundo trimestre, a própria companhia reconheceu a situação ao dizer que o “recente movimento de lojistas e marketplaces de intensificar os eventos promocionais utilizando cashback e cupons”, em detrimento de ofertas com preços menores, a “desfavoreceu” no segundo trimestre, período em que estava “finalizando e ajustando as plataformas próprias”.
Na visão dos analistas, a implementação do cashback pela companhia, que tratou sobre o tema ainda em seu prospecto de IPO, ocorreu de forma menos acelerada do que o previsto. Marco Calvi, analista do Itaú BBA, estimava que 100% do GMV da Mosaico estivesse operando com cashback já a partir do começo do segundo trimestre deste ano, mas, até agosto, essa fatia era de 32%. “O que nos leva a uma visão mais conservadora sobre esta ferramenta, pelo menos no curto prazo”, afirmou.
Até agosto, o benefício já estava integrado a 390 lojas, dentre elas Apple, Samsung, Amazon, Extra, Casas Bahia, Carrefour e Fast Shop. Isso porque, além do programa próprio de cashback da Mosaico, a companhia identifica nas ofertas expostas no Buscapé e no Zoom os benefícios das lojas parceiras. A equipe do Investnews solicitou entrevista à companhia, que informou não ter agenda disponível.
Visão otimista sobre a Mosaico
Os analistas acreditam que o cashback poderá mudar os rumos da companhia. Até então, a empresa tinha dificuldades para engajar o público por meio de personalização de ofertas, já que uma parte significativa dos visitantes não se logava no momento de comparar os preços e, portanto, não podia ser identificada. Porém, para ter acesso ao benefício, o usuário precisa obrigatoriamente estar logado aos sites da empresa.
“Por isso, acreditamos que o cashback pode ser disruptivo para o case de Mosaico que vai conseguir identificar o consumidor e ter mais informação sobre ele”, explicou o analista do Itaú ao reiterar que, naturalmente, o banco poderá alterar a mudança de recomendação para os papéis com o avanço do cashback dentro das plataformas da Mosaico.
Embora o cashback seja o grande trunfo que pode avalancar a performance da companhia, outro desafio imposto à Mosaico é a mudança do perfil de compras pela internet. “Uma plataforma de comparação de preços tem um valor excepcional com produtos de ticket alto, como televisão e geladeira. Só que o e-commerce está migrando para categorias com ticket menor e recorrência de compra maior, como alimentos e roupas, o que exigirá uma certa adaptação para que a empresa consiga manter sua proposta de valor”, explica Calvi, do Itaú.
O analista alertou que a comparação de produtos de categorias menos comoditizadas (como roupas e até mesmo itens de alimentação) pode não ser tão interessante para o consumidor, já que podem variar de uma loja para outra. Dentre as iniciativas para driblar a situação, a companhia lançou em julho, dentro do Buscapé, uma plataforma de cupons e promoções que incluem diferentes tipos de lojas e produtos, inclusive supermercados.
Sem dar detalhes sobre a prévia dos números da Mosaico para o terceiro trimestre, a analista da XP afirmou que os resultados devem vir melhores. Além do cashback e dos cupons, Daniella mencionou que a publicação de conteúdos no portal Buscapé para ajudar o consumidor a tomar a melhor decisão de compra; a implementação do cartão de crédito Bcash e as iniciativas de live-commerce devem contribuir para melhorar o posicionamento da empresa.
“Para o quarto trimestre, que é sazonalmente mais importante por conta da Black Friday, a expectativa é que a companhia esteja praticamente pronta nestas iniciativas”, conclui a analista.
Preços e recomendações pelas casas de investimentos*
Banco de investimento | Recomendação | Preço-alvo |
Itaú BBA | Neutra | R$ 13 |
XP Investimentos | Compra | R$ 38 |
BTG Pactual | Compra | R$ 34 |
*Recomendações constam em últimos relatórios divulgados pelos bancos
Futuro da companhia projetado pelo Itaú BBA
Indicador | 2021 | 2022 | 2023 |
Receita líquida | R$ 235,3 milhões | R$ 347,3 milhões | R$ 493,8 milhões |
Lucro líquida | R$ 26,4 milhões | R$ 44,5 milhões | R$ 44,5 milhões |
Ebitda | R$ 18,9 milhões | R$ 8,9 milhões | R$ 8,5 milhões |
Sobre o IPO da Mosaico
A Mosaico estreou na bolsa em fevereiro deste ano. A companhia levantou R$ 1 bilhão em seu IPO. Na oferta primária, quando novas ações são emitidas e o dinheiro da venda vai para o caixa da companhia, arrecadou R$ 578,571 milhões. Na ocasião, a empresa informou que 11% da quantia levantada seriam destinados à quitação do financiamento celebrado com o BTG para a aquisição do Buscapé e 89% à ampliação da participação no mercado de comércio eletrônico.