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O ‘bear market’ e a psicologia dos investidores

Fatores aparentemente sem importância, como a hora do dia ou a temperatura ambiente, influenciam em como avaliamos determinada informação.

No ano, o Ibovespa caía 7% no final da semana passada. Pior ainda no caso das bolsas americanas. O Dow Jones já recuava 14,5%, enquanto o S&P 500 caía 19,5%. E a Nasdaq acumulava 28% negativos desde o começo de janeiro.

No vocabulário do mercado, trata-se de um “bear market”, momento em que a tendência, ao contrário do que ocorre nos “bull markets” (de alta), aponta para a queda. Períodos negativos, como os positivos, fazem parte da rotina dos investidores, mas não deixam de causar ansiedade entre quem vê o prejuízo crescendo na carteira de investimentos.

Nestas horas, alguns acabam entrando em desespero, vendendo tudo e aceitando com amargor o prejuízo. Decisão de certo modo compreensível, já que pelo menos o prejuízo deixa de aumentar, porém que vai contra a lógica dos investimentos. Ninguém cria um portfólio só para vender tudo com prejuízo e não ter mais como se recuperar.

O que fazer, então? Uma saída é olhar, mais uma vez, para o estudioso favorito deste espaço, o grande Daniel Kahneman. Ganhador do Nobel de Economia de 2003, ele discute em seu livro “Rápido e devagar: duas formas de pensar” que o pensamento humano se desenvolve de duas maneiras. Uma é rápida e emocional, se valendo de “atalhos mentais” para reagir de maneira instintiva. O segundo sistema é fruto de cálculos complexos, levando a reações que exigem concentração e são mais lentas.

O primeiro sistema é ideal se precisamos agir no piloto automático, por exemplo, calculando a distância entre dois objetos próximos, fazendo contas simples, como quanto é 2 + 2, ou percebendo se há alguma ameaça imediata. No segundo caso, usamos o sistema mais lento para entender a história de um filme, estacionar o carro numa vaga apertada ou descobrir se determinado comportamento é socialmente aceito.

Em um momento de queda nas bolsas como o atual em que as sequências negativas podem se estender por semanas, chega um momento em que é como se nossa forma mais rápida de pensar simplesmente gritasse “livre-se disso para não perder mais”. E muitos investidores acabam se livrando, contabilizando as perdas e ficando no prejuízo. Ainda pode acontecer do mesmo sistema agir ao mais leve sinal de recuperação, ordenando compras precipitadas que depois podem ampliar as perdas.

Mas a crise atual exige, antes de qualquer ação, análises cuidadosas. Os mercados financeiros passam por uma combinação de fatores estressantes: o risco de uma recessão nos Estados Unidos, a desaceleração da economia chinesa, a alta da inflação no mundo e a Guerra na Ucrânia, com efeito sobre os preços dos combustíveis e dos alimentos. Ou seja, são o território ideal para a análise complexa, tanto na compra quanto na venda de papéis.

O que fazer? Há uma série de práticas que, sem reinventar a roda, podem ajudar nas decisões. Primeiro, diversificar. É difícil que todos os investimentos – ações, ouro, dólar, renda fixa – caiam ao mesmo tempo. Um portfólio equilibrado gera menos angústia diante da evolução do mercado. Também ajuda reduzir o ruído, tema, aliás, do último livro de Kahneman, junto com Oliver Sibony e Cass R. Sunstein.

Fatores aparentemente sem importância, como a hora do dia ou a temperatura ambiente, influenciam em como avaliamos determinada informação. Gastar tempo lendo a respeito das tendências de mercado e dos investimentos pode ajudar a fundamentar melhor nossos julgamentos e decisões, eliminando as interferências.

Também ajuda, desde o início, ao investir, saber qual sua tolerância ao risco, quando a perda poderá levar a decisões precipitadas. E, por último, tenha uma meta. Seu portfólio é para a aposentadoria? Então dificilmente a queda atual fará grande diferença quando chegar a hora de deixar de trabalhar. Pode inclusive ser a oportunidade de acrescentar bons ativos em um momento em que estão mais baratos do que vão custar no futuro.

*Samy Dana é Ph.D em Business, apresentador do Cafeína/InvestNews no YouTube e comentarista econômico.

As informações desta coluna são de inteira responsabilidade do autor e não do InvestNews e das instituições com as quais ele possui ligação. 

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