Rechaçada pelos grandes bancos privados, a linha de crédito consignado do Auxílio Brasil começou a atrair um segmento do mercado financeiro mais voltado às classes C, D e E no país. Trata-se, no geral, de instituições financeiras que já tinham como principal pilar de seus negócios o crédito com desconto em folha. No grupo estão desde bancos de menor porte até varejistas como a Pernambucanas, que já estende faixas anunciando a modalidade na fachada de suas lojas.
Especialistas, contudo, alertam para o perigo da modalidade destinada à população mais vulnerável, já que um dos objetivos dos benefícios sociais é garantir a subsistência dessa famílias. Além disso, os juros da modalidade, mesmo com a suposta garantia de pagamento do consignado, devem girar em torno de 60% ao ano, mais do que o dobro do valor cobrado do consignado de aposentados do setor privado.
O Auxílio Brasil de R$ 600 só tem garantia de ser pago até o fim deste ano, apesar de o presidente Jair Bolsonaro ter prometido a continuidade do programa em 2023. O Orçamento federal para o ano que vem, porém, prevê um benefício de R$ 405. Para especialistas, mesmo sendo empréstimo consignado, há risco de inadimplência – por se tratar de um financiamento a vulneráveis, a Justiça poderia entender que os juros são abusivos, por exemplo.
Apesar dos riscos, Agibank e Banco Pan já decidiram operar com a linha. Mas o receio em relação a ela não se restringe aos grandes bancos, como Bradesco, Itaú e Santander. O BMG, por exemplo, chegou a anunciar a adesão ao crédito do Auxílio Brasil, mas acabou voltando atrás na semana passada. Além disso, as instituições ainda aguardam publicações do Ministério da Cidadania com as regras para a liberação dos recursos.
Receio de bancos
Especialista em crédito, o consultor Boanerges Freire afirma que não foi sem razão que os grandes bancos decidiram manter distância da linha. Segundo ele, além do risco de inadimplência, há também uma questão relacionada à imagem dos bancos. “O ganho que poderia haver não compensa”, aponta.
O tom dos presidentes dos dois maiores bancos privados do País, Itaú Unibanco e Bradesco, foi enfático em relação às restrições à operação desse crédito. “Nós entendemos que é melhor não operarmos essa linha. Entendemos que essas pessoas terão mais dificuldade quando esse benefício cessar”, disse o presidente do Bradesco, Octavio de Lazari, no mês passado. O CEO do Itaú, Milton Maluhy, foi na mesma linha e afirmou que esse “não é um produto adequado para um público vulnerável”.
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