Autossuficiência do país em refino prejudicaria Petrobras, dizem especialistas

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem defendido que o Brasil se torne autossuficiente em refino de petróleo, e que a Petrobras (PETR3 e PETR4) terá um papel central com esse objetivo. Especialistas apontam que este processo pode ser demorado e custoso para o país e que pode impactar negativamente a estatal.

Caso isso aconteça, será uma alteração relevante em relação às políticas atuais da Petrobras, mais focadas  na maximização de lucros de grandes campos de petróleo em águas profundas, o chamado pré-sal, e desinvestimentos em negócios que são apontados como menos lucrativos. Até por isso, a estatal vem fazendo venda de refinarias.

Atualmente, segundo a Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), a Petrobras conta com 12 refinarias das 20 existentes no país e já fez a venda de 3.

Brasil autossuficiente em refino de petróleo: é possível?

Um estudo feito pelo Ministério de Minas e Energia mostrou que a capacidade de refino de petróleo do Brasil deve crescer 7% até 2032, para mais de 2 milhões de barris ao dia, mas que a maior demanda por combustíveis ainda vai manter as importações elevadas.

O coordenador-técnico do Instituto de Estudos Estratégicos de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (Ineep), Rodrigo Leão, disse recentemente à imprensa que só a expansão pontual do refino não resolve o problema no médio prazo e que qualquer expansão por meio de novas unidades requer planejamento. Segundo ele, seria preciso começar agora para ficar pronto daqui a cinco anos.

A diretoria atual da Petrobras planejou quase US$ 11 bilhões para investimentos em refino nos próximos cinco anos, dentro dos US$ 78 bilhões previstos para investir no período.

O senador Jean Paul Prates, indicado para o comando da Petrobras neste terceiro governo de Lula, tem dito que esse movimento poderá acontecer por meio da expansão de refinarias já existentes e não, necessariamente, com a construção de novas unidades.

Petrobras x refino

A Petrobras foi fundada pelo então presidente do Brasil Getúlio Vargas em 1953 e,  durante 44 anos, chegou a ter o monopólio de várias atividades ligadas ao petróleo. Essa  exclusividade acabou em 1997 com a Lei do Petróleo, que permitiu que outras empresas que desempenhavam as mesmas atividades da estatal entrassem no mercado.

O grande porte da Petrobras e a presença do governo por trás dela são alguns dos fatores que acabam dificultando a entrada de novos fornecedores de combustíveis no país, seja pela concorrência na capacidade, quanto pelos preços.

Analistas da Genial Investimentos avaliaram que a possibilidade de o país se tornar autossuficiente em refino de petróleo teria peso negativo para a Petrobras, relembrando que o passado da estatal com investimentos na área foi positivo.

Refino de petróleo no Brasil

O refino é a área da indústria petrolífera que transforma o petróleo bruto em seus derivados, como gasolina, diesel, querosene, lubrificantes entre outros.

O Brasil, apesar de ser considerado autossuficiente em petróleo, ou seja, produz mais do que consome da commoditiy, ainda assim, importa combustíveis.

A produção no Brasil entrega por volta de 80% de tudo o que é consumido internamente. Os 20% restantes vêm de importadoras que complementam o mercado. 

Segundo a ANP, em 2022, o total de petróleo nacional refinado foi de mais de 89 milhões de metros cúbicos. Já o  volume de petróleo refinado com origem importada foi de mais de 10 milhões de metros cúbicos.

O Brasil depende do exterior no refino de petróleo, pois as refinarias do país não receberam investimentos suficientes para avanço tecnológico e  manutenção nos últimos anos, não dando conta de aumento da capacidade de refino.

São várias as  companhias retirando óleo e gás das reservas brasileiras ao lado da Petrobras. Mas no refino a estatal é praticamente a única que fornece combustíveis aqui no país.