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Negócios

Ação da Light chega a cair quase 20% após pedido de recuperação judicial

Empresa citou dívidas de cerca de R$ 11 bilhões.

A ação Light (LIGT3) fechou em forte queda nesta sexta-feira (12), depois que a empresa informou que entrou com pedido de recuperação judicial na 3ª Vara Empresarial do Estado do Rio de Janeiro, citando dívidas de cerca de R$ 11 bilhões. Após chegarem a despencar 19,13% na mínima do dia, os papeis encerraram o pregão cotados a R$ 3,85 – queda de 17,2%.

Em fato relevante, a companhia elétrica afirmou que os desafios de sua situação econômico-financeira se agravaram apesar de seus esforços recentes para equacioná-la.

Isso demandou a “tomada urgente” de outras medidas, disse a Light, para preservar “manutenção dos serviços prestados no âmbito das concessões de titularidade do Grupo Light, continuidade no estrito cumprimento das obrigações intrasetoriais, preservação de valor e a promoção de sua função social”.

O pedido à Justiça do RJ ocorre apesar da existência de lei que veda às concessionárias de serviços públicos de energia elétrica de recorrer aos regimes de recuperação judicial ou extrajudicial.

B3 retira ações da Light dos seus índices

Por conta do pedido de RJ, a B3 vai retirar as ações da Light dos índices IBRA, IEEX, IGTC, IGCX, IGNM, ISEE, ITAG, SMLL e UTIL ao preço de fechamento após encerramento do pregão de segunda-feira (15).

Empresa em crise

Ao final de 2022, a dívida líquida consolidada da Light era de R$ 9 bilhões, sendo que mais de R$ 3 bilhões tem vencimento previsto para 2023 e 2024. Entre os motivos para a piora recente de sua situação financeira, a elétrica citou o “agravamento do notório e peculiar contexto de segurança pública do Estado do Rio de Janeiro”, situação que a impede de atuar em alguns locais de sua área de concessão, levando a perdas de receita com furtos de energia, por exemplo.

Vista do Rio de Janeiro (Foto:  henriqueesteves1 / Pixabay)
Vista do Rio de Janeiro (Foto: henriqueesteves1 / Pixabay)

A Light encerrou 2022 com um prejuízo de R$ 5,6 bilhões, devido a efeitos não recorrentes contabilizados no último trimestre do ano passado, que impactaram de forma negativa o resultado. De acordo com a TC/Economatica, foi o pior resultado de todas as companhias listadas na bolsa de valores brasileira no período. Em 2021, a distribuidora havia registrado lucro de R$ 398 milhões.

Em meio a este cenário, a 3ª Vara Empresarial do Rio de Janeiro concedeu no dia 12 de abril medida cautelar pedida pela Light, que permite a suspensão temporária de cerca de R$ 11,1 bilhões em obrigações financeiras da companhia de energia. Segundo a Light, a liminar é válida por 30 dias, prorrogáveis por igual período.

No entanto, mesmo antes da medida, a empresa vem enfrentando uma série de desafios. Luis Novaes, analista da Terra Investimentos, pontua que, nos últimos 10 anos, a Light sofreu com:

  • Impacto negativo da crise hídrica de 2013 a 2016;
  • Disputas com o governo do seu estado de atuação;
  • Queda nos preços de energia em período recente;
  • Deterioração do poder financeiro da população.

“Esses fatores foram responsáveis pelo aumento significativo no endividamento e diminuição na geração de caixa, o que resultou em uma capacidade cada vez menor de honrar seus compromissos e percepção maior de risco pelos credores”, diz o analista.

Luan Alves, analista-chefe da VG Research, acrescenta ainda que a Light tem um problema estrutural, pois atua em uma das áreas de concessões mais complexas do país, com mais de 50% da energia fornecida hoje sendo furtada, e nem todo esse valor é remunerado em sua tarifa. Assim, de acordo com ele, na prática, parte dos furtos de energia são pagos pelo consumidor (via tarifa) e outra parte é pago pela empresa (base de acionistas). 

Phil Soares, chefe de análise de ações da Órama Investimentos, afirma que não se trata de um problema atual da empresa, mas vem ficando mais grave ao longo dos anos, sendo necessário lidar do ponto de vista regulatório.

“O poder concedente tem que endereçar de alguma forma, pois a insegurança pública impossibilita a operação de uma forma adequada na área de concessão da Light. Isso torna a empresa diferente, conforme se tem um desempenho financeiro decepcionante. Precisa plugar o gap no fluxo de caixa com endividamento e, por isso, o endividamento dela cresceu”, explica o chefe de análise da Órama.

Nesse cenário, Novaes destaca que os problemas que a Light enfrentou nos últimos anos não foram vistos em outras empresas do setor. Assim, segundo o analista da Terra Investimentos, por mais que o cenário seja desafiador para as corporações de modo geral, os efeitos foram significativamente menores as concorrentes.

(* com informações da Reuters)

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