*ARTIGO
Até recentemente, o Fundo Monetário Internacional (FMI) mantinha uma postura crítica em relação às criptomoedas, expressando preocupações sobre os riscos associados a esses ativos digitais. No entanto, nos últimos tempos, houve uma mudança significativa em sua posição.
Segundo relatório divulgado na última quinta-feira (22), a autoridade reconhece que proibir as criptomoedas não é a solução mais efetiva a longo prazo — não à toa, está trabalhando em uma plataforma global de moedas digitais de bancos centrais (CBDCs).
“Em vez disso [banir], as regiões devem se concentrar em atender aos fatores determinantes da demanda por criptografia.”
Essa mudança sugere uma abertura do FMI para explorar os potenciais benefícios que as CBDCs podem trazer — tecnologia cuja adoção é dominada por países das regiões da América Latina e do Caribe.
Por fim, o FMI também fez questão de destacar que seu atual posicionamento quanto aos ativos digitais é devido ao fato deles poderem fortalecer a usabilidade, resiliência e eficiência dos sistemas de pagamento, bem como aumentar a inclusão financeira.
América Latina em destaque
Notavelmente, quatro países da América Latina — Brasil, Argentina, Colômbia e Equador — foram classificados em 2022 entre os 20 primeiros na adoção global das CBDCs, sendo que Bahamas e o próprio Brasil estão entre os pioneiros na adoção da tecnologia.
Entre os destaques dessa iniciativa estão o interesse crescente em explorar as vantagens que as criptomoedas podem oferecer, como a notável redução dos custos das remessas transfronteiriças.
Isso porque, conforme o relatório do FMI deixou implícito, juntamente com a evolução e progresso das CBDCs mundo afora, surgem oportunidades para a criação de ecossistemas financeiros interoperáveis, ainda que centralizados.
Benefícios gerais, mas…
Os governos devem colaborar com especialistas e partes interessadas para garantir que os benefícios das moedas digitais sejam maximizados, enquanto os riscos sejam adequadamente mitigados.
As CBDCs, apesar de não serem criptomoedas por sua natureza totalmente centralizada, podem abrir novas oportunidades para os cidadãos não bancarizados, tornando os pagamentos mais acessíveis e rápidos.
Além disso, uma possível melhora de eficiência e transparência de transações, tal como o registro de dados através da criptografia, podem contribuir nas estatísticas nacionais para difundir a tecnologia e torná-la mais confiável.
Por outro lado, a implementação das CBDCs em escala global de forma interconectada levanta questões sobre a liberdade e autonomia financeira da população — e por que não dos próprios países.
Nem tudo o que reluz é ouro
Ainda que benéficas, a adoção das CBDCs enfrenta alguns desafios e riscos que podem impactar sua implementação e aceitação generalizada, entre eles:
- Falta de privacidade e alta vigilância: pelo completo controle governamental, as CBDCs trazem preocupações sobre privacidade financeira e monitoramento de transações.
- Regulamentação e conformidade: a implementação massiva exige uma estrutura regulatória sólida para garantir a conformidade com leis e regras, bem como combater atividades ilegais, como lavagem de dinheiro e financiamento do terrorismo.
- Exclusão financeira: ainda que beneficiem alguns, deixa de fora boa parte da população que não tem acesso à tecnologia, ou nem mesmo conhecimento e confiança nas moedas digitais.
- Dependência das instituições financeiras: as CBDCs podem criar maior dependência do sistema bancário e das autoridades centrais, tornando os usuários vulneráveis a falhas ou problemas sistêmicos.
O que esperar?
Por fim, a implementação das moedas governamentais em grande escala requer infraestrutura robusta para lidar com um alto volume de transações simultâneas, o que pode representar um desafio técnico significativo para certos países.
Mas à medida que países ganham escala na implementação das CBDCs, outras regiões ao redor do mundo podem se entusiasmar com essa tecnologia.
Gostando ou não dos fundamentos das CBDCs, racionalmente sua adoção pode trazer melhorias para o setor e para todo ecossistema das finanças digitais.
Ao que tudo indica, apesar de certos riscos e perigos, o futuro das CBDCs é promissor. A criação da plataforma global para CBDCs pelo FMI, por exemplo, representa um marco significativo na evolução do meio monetário e como a tecnologia tende a ganhar escala.
Mayara é co-autora do livro “Trends – Mkt na Era Digital”, publicado pela editora Gente. Multidisciplinar, apaixonada por tecnologia, inovação, negócios e comportamento humano. |
*As informações, análises e opiniões contidas neste artigo são de inteira responsabilidade do autor e não do InvestNews.
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