Alpargatas tem maior baixa do Ibovespa no semestre, e analistas indicam cautela

Com queda de 38,33% no primeiro semestre, a ação da Alpargatas (ALPA4), dona da marca Havaianas, se destacou como o pior retorno do Ibovespa em 2023 até agora. Especialistas destacam os resultados fracos apresentados pela empresa nos últimos meses, e destacam que, para os investidores, o momento é de cautela.

Em um cenário movimentado que incluiu renúncia de CEO, os primeiros meses de 2023 foram de resultados negativos para a empresa. No primeiro trimestre de 2023, foram vendidos 48,2 milhões de pares de Havaianas, uma queda de 13,4% na comparação com o mesmo período de 2022. 

“Vimos ainda um cenário desafiador de demanda dos consumidores, que combinada com a necessidade de ajustes de níveis de estoques dos nossos clientes, impactou diretamente o nosso volume de sell-in”, disse a empresa em documento de divulgação de resultados. 

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O resultado foi um prejuízo de R$ 15 milhões no período, excluindo efeitos extraordinários. Gustavo Cruz, estrategista chefe da RB Investimentos, aponta o número como “um prejuízo considerável”, acrescentando que a empresa “indicou que os próximos trimestres também vão ser ruins”. 

Flávio Conde, analista da Levante Investimentos, destaca que, enquanto outras varejistas como Arezzo (ARZZ3) e Grupo Soma (SOMA3) “continuaram com vendas crescentes e com margens se mantendo iguais, com Alpargatas não aconteceu isso”. 

“Os resultados dela, desde o ano passado, vêm caindo. A receita parou de crescer e as margens comprimiram. Isso fez com que toda aquela empolgação que chegou a acontecer com a Alpargatas em 2020 e 2021, quando a taxa de juros estava baixa e a empresa, bombando, comprando novas empresas, inclusive no exterior… Tudo isso passou.”

Flávio Conde, analista da Levante Investimentos

Segundo o balanço da empresa, no primeiro trimestre de 2023 houve queda de 1,5% na receita líquida na comparação com o ano anterior, enquanto a margem bruta recuou 4,4 pontos percentuais, a 43,1%.

Efeito OPA

Em maio, as ações chegaram a subir com mais força após a companhia informar que a MS Alpa Participações (empresa que pertence ao bloco controlador da varejista) comunicou que decidiu realizar uma oferta pública voluntária (OPA) para a aquisição de até 32 milhões de ações preferenciais da Alpargatas em circulação.

A MS Alpa é controlada pela Cambuhy Alpa Holding e pelo Alpa Fundo de Investimento em Ações, que integram o bloco de controle da companhia e que pertencem à família Moreira Salles.

Na ocasião, a Levante Investimentos divulgou relatório destacando que, “apesar da reação positiva, com a forte alta do ativo após o anúncio da oferta”, o momento ainda era delicado para as ações. 

“Continuamos enxergando um cenário desafiador para a Alpargatas, visto que temos observado, nos últimos trimestres, uma maior dificuldade da companhia em relação ao crescimento de volume, especialmente com a piora no cenário internacional, de modo que tais fatores podem continuar sendo detratores dos seus resultados”, disseram os analistas. 

Vale a pena investir em ALPA4?

Especialistas apontam que o momento é de cautela para a ação de Alpargatas. 

Fabrício Gonçalvez, CEO da Box Asset Management, aponta que “a possibilidade de cortes nos juros pelo Banco Central no segundo semestre traz perspectivas positivas” para o varejo, incluindo Alpargatas, que, segundo ele, “está bem posicionada para aproveitar a retomada”. 

Mas Cruz, da RB Investimentos, diz que o corte de juros “já foi muito precificado pelas demais ações do mercado, o que me faz desconfiar que nem isso mudará tanto a visão do mercado sobre Alpargatas”. 

Flávio Conde, da Levante, avalia que a ação ALPA4 “só vai recuperar as cotações ou parte dessa queda se a empresa começar a mostrar resultados melhores no segundo semestre de 2023 e, principalmente, em 2024”.

Segundo levantamento feito pela ferramenta Valor Pro com 5 casas diferentes, 4 têm recomendação neutra para ALPA4, incluindo XP, Terra, Guide e Ágora. Já o Safra tem recomendação de compra, com preço alvo de R$ 10.