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Negócios

O2 Filmes entra em corrida para acelerar ideias de filmes e séries com IA

CEO de uma das maiores produtoras independentes do país conta na CCXP como usa ferramentas generativas para o cinema e streaming.

Já estão a caminho projetos para roteiros de filmes e séries brasileiros concebidos com ajuda de inteligência artificial (AI) generativa. Empresas como a O2 Filmes passaram a utilizar chatbots para acelerar a criação de propostas para o cinema ou plataformas de streaming como Amazon Prime, Netflix e Globoplay, revelou o CEO da produtora, Paulo Barcellos.

Durante a Comic Con Experience (CCXP) 2023, em São Paulo, o executivo contou em painel, neste domingo (3), que formou uma equipe dedicada que utiliza o ChatGPT para eliminar etapas e encurtar o tempo entre a concepção de uma ideia e pesquisas para um roteiro – o que, de acordo com ele, levava muito mais tempo com trabalho humano. Às vezes, anos.

Divulgação

Barcellos disse acreditar que, em breve, a prática deva ser adotada por concorrentes e não será mais um diferencial para a O2, e sim uma ferramenta obrigatória para não ficar para trás. Ele não revelou quais produções já andaram com o auxílio da técnica.

“Sofisticar o projeto com essas ferramentas antes de chegar à etapa de venda nos dá uma vantagem enorme. E quando todo mundo começar a fazer, se você não tiver uma ideia super desenvolvida, vai ficar pra trás. É uma corrida que não sabemos se vamos ganhar, mas não vemos outra coisa que não seja correr”.

PAULO BARCELLOS, CEO DA O2 FILMES, NA CCXP 2023.

O uso do ChatGPT por empresas não é novidade, embora a ferramenta tenha sido lançada há apenas um ano. Pesquisa feita pela plataforma de comparação de softwares GetApp apontou que 78% dos funcionários brasileiros utilizam o chatbot criado pela OpenAI ao menos uma vez por dia como auxiliar na rotina de trabalho. 

Embora a IA generativa ainda seja mais usada para se ganhar tempo com pesquisa e gerar ideias mais sofisticadas no uso criativo, Barcelos enxerga que em poucos anos a tecnologia deve ser capaz de escrever sozinha não apenas bons roteiros e tradução, mas também eliminar a etapa de filmagens. “Talvez daqui a alguns anos o filme já vai sair pronto”, vislumbra.

Participantes de painel sobre uso de ia na cultura pop durante a CCXP 2023, em são Paulo.

Rodrigo Paiva, COO e VP de estratégia e operações da Microsoft no Brasil – empresa que detém 49% da OpenAI – afirmou durante o painel que a IA generativa já possui maior conhecimento que qualquer ser humano, por ter o contexto de perfis de diferentes idades e origens. “Todo mundo já sabe como construir a jornada do herói em um roteiro. Mas tem coisas que só a IA sabe e isso pode ser uma vantagem competitiva”.

Limites éticos e regulamentação

Ainda sem regulamentação, o uso disseminado da IA na cultura pop tem gerado controvérsias sobre seus limites éticos e criativos. A preocupação com a troca de artistas por robôs é apenas uma delas.

Em novembro, uma ilustração do livro “Frankenstein”, de Mary Shelley, foi desclassificada do prêmio Jabuti, o maior da literatura brasileira, após os organizadores do evento tomarem conhecimento de que a obra havia sido 100% gerada pelo Midjourney, uma ferramenta de IA generativa para imagens.

Preocupações sobre a substituição de profissionais têm alimentado embates como o visto na greve de roteiristas em Hollywood este ano, quando escritores e atores pediram regras mais específicas para o uso de IA nas produções. A primeira disputa trabalhista envolvendo o uso da tecnologia terminou com acordos para impedir, por exemplo, que chatbots sejam creditados como autores.

Miquela Sousa, influenciadora com 2,7 milhões de seguidores criada por IA. Crédito: Reprodução Instagram

Nas redes sociais, a ascensão dos influenciadores digitais gerados por IA também tornou-se uma realidade já estabelecida. Figuras que não existem na vida real, mas que acumulam milhões de seguidores e faturam com campanhas e marcas, sinalizam uma transformação no cenário do marketing de influência. Um exemplo é Miquela Sousa, personagem criado pela empresa Brud, do Vale do Silício, com 2,7 milhões de seguidores.

Já na televisão brasileira, uma propaganda da Volkswagen veiculada em julho deste ano reproduziu a voz da falecida cantora Elis Regina por meio de inteligência artificial. O feito acendeu o alerta sobre a necessidade de regulamentar o uso de IA nas produções audiovisuais. Com isso, o senador Rodrigo Cunha criou um projeto de lei (3.592/2023) que só permite o uso de imagens de pessoas falecidas com o consentimento da família.

Geração de valor com trabalho humano

A ilustradora e cartunista Ana Luiza Koehler questionou na CCXP se ainda será possível viver de arte em um futuro próximo, quando robôs devem evoluir a ponto de ser ensinados a produzir histórias em quadrinhos por conta própria, por exemplo. Ela acredita, no entanto, que obras essencialmente humanas, à medida que ficarem mais escassas, passarão a valer mais.

“Ainda há quem faça arte com suportes materiais como tela, papel ou pedra. Os desenhos originais são peças únicas, com falhas e indícios de defeito humano que podem passar a valer muito por sua raridade”, afirmou durante o evento.

De olho no uso disseminado de ferramentas generativas, a Comic Con Experience (CCXP) vetou o uso de inteligência artificial no Artists’ Valley, espaço dedicado à exposição do trabalho de ilustradores e quadrinistas. “É proibida a venda de artes criadas exclusivamente por AI (inteligência artificial) sem que o artista comprove que é o autor do material fonte”, diz o regulamento.

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