Por Elizabeth Howcroft e Hannah Lang
LONDRES/NOVA YORK (Reuters) – À medida que o tether comemora 100 bilhões de dólares em circulação nesta semana, a rápida ascensão da maior stablecoin do mundo destaca preocupações sobre possíveis riscos para os mercados financeiros mais amplos.
O token digital indexado ao dólar foi projetado para manter um valor constante, algo que o tether diz que faz mantendo reservas denominadas em dólares para cada token que cria.
Os operadores de criptomoedas dizem que os tokens são essenciais para movimentar fundos digitais rapidamente, sem usar o sistema bancário regulamentado.
“O tether desempenha um papel fundamental em nossas operações diárias, servindo principalmente como um mecanismo para movimentar recursos rapidamente entre locais de negociação”, disse Michael Hall, sócio fundador da Nickel Digital, gestora de ativos de criptomoedas com sede em Londres.
Os órgãos reguladores, no entanto, têm preocupações de longa data de que as reservas crescentes de stablecoins exponham o sistema financeiro mais amplo a riscos maiores, porque elas atuam como uma ponte entre o universo das criptomoedas e os mercados financeiros convencionais.
James Butterfill, chefe de pesquisa da gestora de ativos CoinShares, disse que o domínio do tether aumenta o risco sistêmico dentro das criptomoedas.
“Se o tether falhar por algum motivo improvável, isso levaria a um declínio dramático nos volumes de negociação”, disse ele.
Os órgãos reguladores dos EUA alertaram os bancos de que as reservas de stablecoin poderiam estar sujeitas a saídas rápidas de recursos, por exemplo, se os detentores se apressassem em trocar esses tokens de volta para a moeda tradicional.
A Tether não respondeu a um pedido de comentário. O presidente-executivo, Paolo Ardoino, disse em um comunicado em janeiro que a Tether está comprometida com “transparência, estabilidade e gestão financeira responsável”.
Os mercados de criptomoedas se recuperaram principalmente dos colapsos que viram os preços despencarem em 2022. O bitcoin saltou mais de 20% na semana passada e na terça-feira atingiu um recorde histórico, impulsionado pelo entusiasmo em torno dos fluxos de entrada nos ETFs de bitcoin à vista dos EUA.
O tether também está crescendo rapidamente. Cerca de 29 bilhões de dólares foram criados no ano passado, disse a empresa em um comunicado na terça-feira.
Maior impacto
O lobby das criptomoedas disse anteriormente que as stablecoins lastreadas em ativos não representam um risco sistêmico.
Mas com o tether agora detendo quase 100 bilhões de dólares em reservas em instituições bancárias tradicionais, Rajeev Bamra, chefe de DeFi e estratégia de ativos digitais da Moody’s Investors Service, disse que “qualquer coisa que dê errado com o Tether vai impactar essas instituições bancárias no final do dia”.
“Acho que o risco de concentração no tether é enorme”, acrescentou Bamra, referindo-se ao domínio do tether no mundo das moedas digitais.
A S&P Global Ratings classificou o tether como 4 em uma avaliação de estabilidade de stablecoin no ano passado, a segunda nota mais baixa em uma escala de 1 a 5, citando a falta de informações sobre custodiantes, contrapartes ou provedores de contas bancárias de suas reservas.
A Tether concordou em divulgar relatórios trimestrais de reservas após um acordo de 2021 com a procuradoria de Nova York.
No final de 2023, o último relatório da Tether diz que suas reservas detinham 63 bilhões de dólares em títulos do Tesouro dos EUA, 3,5 bilhões em metais preciosos, 2,8 bilhões em bitcoin, 3,8 bilhões em “outros investimentos” e 4,8 bilhões em “empréstimos garantidos”.
Paul Brody, líder global de blockchain da Ernst & Young, disse que um relatório de reserva não constitui uma auditoria completa das demonstrações financeiras.
Embora várias jurisdições estejam desenvolvendo uma legislação sobre stablecoins, a Tether não está atualmente sujeita a uma supervisão específica por um órgão autorizado ou regras sobre como ou onde pode investir suas reservas, disse a analista da S&P Global Ratings, Rebecca Mun, em uma entrevista no final do mês passado.
A Tether Holdings, registrada em Hong Kong e de propriedade de uma empresa registrada nas Ilhas Virgens Britânicas, afirma em seu site que é “totalmente transparente”, mas não fornece detalhes sobre onde suas reservas são mantidas.
Hall disse que a Nickel usa o tether “com cautela”, equilibrando a conveniência com o risco de perder sua paridade com o dólar.
Os operadores de criptomoedas que dependem do tether dizem que confiam no fato da stablecoin ter mantido sua paridade e processado bilhões de dólares em resgates durante períodos de turbulência no mercado de moedas digitais, como em 2022.
“Embora nenhum ativo esteja isento de riscos, especialmente no volátil mercado de criptomoedas, o histórico do tether o posiciona como uma opção comparativamente de menor risco dentro do espectro de ativos digitais”, disse Hall.
Veja também
- B3 lança novo índice derivado do Ibovespa, mas com peso igual para as empresas
- Quem é – e o que pensa – Scott Bessent, secretário do Tesouro anunciado por Trump
- CBA vende participação na Alunorte para a Glencore por R$ 236,8 milhões
- BRF compra fábrica e passa a ser a primeira empresa de proteínas a produzir na China
- Argentina anuncia licitação para privatizar hidrovia Paraguai-Paraná