Os juros reais medidos pelos rendimentos das NTN-B, títulos públicos atrelados à inflação, renovaram as máximas recentes e superaram o patamar de 8% diante da derrocada dos ativos domésticos pelo temor fiscal.
As taxas das NTN-B com vencimentos em 2026 e 2027 chegaram a 8,3% nesta quarta-feira (18), de acordo com dados compilados pela Bloomberg. No início do outubro, os papéis tinham remuneração inferior a 7%.
O movimento reflete a crescente incerteza fiscal depois da frustração dos investidores com o pacote de contenção de despesas apresentada pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad. Os ativos tiveram nova rodada de piora nas últimas semanas em meio às dificuldades do governo em avançar na Câmara dos Deputados com os projetos que contém as medidas fiscais.
LEIA MAIS: Ciclo vicioso: como o risco fiscal alimenta a alta dos juros – e vice-versa
“Juros em alta é a expressão última da desconfiança do credor”, disse Marcos de Marchi, economista-chefe da Oriz Capital. “O país está perdendo a capacidade de prever preços nominais à frente, como inflação, câmbio e juros, e por isso os credores acabam exigindo mais compensação em termos reais.”
As taxas de juros reais têm subido mesmo com o Tesouro cada vez emitindo menos papéis atrelados ao IPCA, acrescentou de Marchi.
Os juros reais desses papéis já dispararam cerca de 3 pontos percentuais no ano. As emissões de NTN-B somaram um volume de R$ 150 bilhões no acumulado do ano até dezembro, segundo o site do Tesouro. O volume de papéis vendidos em novembro, de R$ 15,2 bilhões, caiu para R$ 5,8 bilhões no último mês do ano até agora.
Ataque especulativo
Mais cedo, o ministro da Economia, Fernando Haddad, disse que o real pode estar enfrentando um “ataque especulativo” em meio à venda desenfreada de ativos brasileiros provocada por preocupações fiscais crescentes.
“Pode haver ataques especulativos, mas não quero fazer um julgamento sobre isso, porque o Ministério da Fazenda trabalha com fundamentos”, disse Haddad a repórteres em Brasília nesta quarta-feira (18), acrescentando que espera que a moeda se estabilize.
O real foi a moeda de pior desempenho do mundo nas últimas quatro sessões e caiu mais de 20% em relação ao dólar este ano, já que os investidores expressam um ceticismo cada vez maior em relação ao compromisso do presidente Luiz Inácio Lula da Silva em controlar um déficit fiscal crescente.
O real aumentou suas perdas para até 1,3% após os comentários de Haddad, e o dólar subiu para R$ 6,19. As taxas de swap também ampliaram os avanços, depois de caírem mais cedo, na esteira dos leilões do Tesouro para compra e venda de notas e títulos, em um esforço para reduzir a volatilidade.
Veja também
- Fed reduz juro em 0,25 p.p. e projeta mais dois cortes do mesmo tamanho em 2025
- Cresce aposta em mais cortes de juros pelo Fed em 2025
- Investidores adotam a política de ‘vender primeiro, perguntar depois’ quando o assunto é Brasil
- Juros futuros disparam com receio de que pacote fiscal não seja aprovado este ano
- Depois do boom, construção civil espera crescimento mais brando em 2025