Enquanto a renda fixa já programou a festa de casamento com os investidores no país, a renda variável virou uma espécie de namorada eterna. Parece que sempre aparece um motivo para adiar qualquer compromisso mais sério nos portfólios.

Os juros que caminham para atingir o maior patamar em 10 anos ao longo de 2025 têm grande culpa no cartório. A taxa básica pode chegar a 14,25% em março, conforme sinalização do Banco Central. Mas analistas e economistas veem a Selic acima de 15% até o fim do ano. Com isso, o mar dos investimentos não vai estar para ações neste ano e, provavelmente, por uma boa parte do próximo.

Além disso, a subida da Selic pelo BC vai desacelerar a atividade como forma de combater as pressões inflacionárias. Dentro desse cenário, as empresas vão apresentar, como efeito colateral da política monetária, um lucro menor. Resultados decrescentes tendem a manter a bolsa na berlinda.

Apesar do quadro pouco animador, o mercado de ações ainda mostra ter algumas oportunidades. É o que contam os responsáveis pela renda variável do ASA, Marcelo Nantes, e da AZ Quest, Welliam Wang. Os especialistas participaram da mesa redonda em vídeo sobre o cenário de renda variável para 2025 dentro da série Investir para Viver (assista a íntegra acima).

Saiba os principais pontos abordados pelos gestores

Cenário macroeconômico desafiador para as ações
Inflação e juros altos: A taxa de juros nominal no Brasil já supera os 15% nos títulos prefixados. Nesse nível, o juro real, quando se desconta a inflação, atinge mais de 8%. Esse patamar tão elevado cria um ambiente de pressão sobre a atividade econômica e o desempenho das empresas.
Riscos fiscais: A falta de ancoragem fiscal no Brasil gera desconfiança nos investidores e eleva o risco de desvalorização cambial, agravando as incertezas no mercado financeiro.
Impacto global: A política de juros altos nos EUA e a desaceleração do PIB da China também influenciam negativamente o mercado brasileiro.

Impactos na renda variável
Revisão de expectativas: A lucratividade das empresas listadas na B3 foi revisada para baixo em função do aumento de custos financeiros e da redução da atividade econômica.
Atração para longo prazo: O índice Ibovespa está descontado em cerca de 25% em relação à sua média histórica, oferecendo oportunidades para investidores com horizonte de longo prazo.
Setores de destaque: Empresas exportadoras, dolarizadas e do setor de infraestrutura são vistas como opções defensivas em meio à volatilidade.

Tendências internacionais e tecnologia
Bolsa americana: Apesar de valuations altos, ou seja, das métricas usadas na avaliação do valor futuro das empresas americanas, a economia dos EUA permanece resiliente, impulsionada por setores como tecnologia, saúde e inteligência artificial.
Setores promissores: As “sete magníficas” (empresas líderes em tecnologia: Apple, Amazon, Netflix, Microsoft, Nvidia, Alphabet e Tesla) continuam atraindo investimentos, especialmente em áreas como computação em nuvem e inferência em IA.

Estratégias recomendadas para investidores
Gestão ativa: Fundos de gestão ativa, com estratégias que podem incluir posições vendidas, ou seja, que ganham com a baixa da bolsa, como o long and short e o long bias, oferecem flexibilidade para capturar oportunidades e mitigar riscos, sendo indicados para quem busca diversificação e maior potencial de retorno.
Stock picking: Escolher ações com base em fundamentos, como empresas com alta geração de caixa, baixa alavancagem e capacidade de repassar inflação, é essencial no cenário atual.
Acesso às bolsas internacionais: ETFs temáticos e BDRs oferecem formas acessíveis de exposição a setores promissores no exterior. Os ETFs são fundos que seguem índices e têm as cotas negociadas nas bolsas como se fossem ações. O mercado americano oferece centenas de tipos de ETFs, que reproduzem desde grandes índices acionários como o S&P 500 e Nasdaq a referenciais segmentados, como setores de tecnologia e inteligência artificial. Já os BDRs são recibos de ações de empresas americanas negociadas na B3. Por meio dos BDRs, você pode aplicar por meio da bolsa local em papéis de gigantes dos EUA, como Apple, Microsoft e Alphabet, controladora do Google.

Importância do planejamento e diversificação
Alocação de longo prazo: Investidores devem equilibrar exposições entre renda fixa e variável, considerando o apetite a risco e os objetivos financeiros. Melhor, no caso da renda variável, ter um olhar de médio e longo prazos, sem esperar ganhos nos próximos trimestres.
O papel da disciplina: Garantir diversificação e respeitar os prazos de investimento é fundamental para evitar decisões motivadas por volatilidade ou emoção.

Para resumir
O ano de 2025 apresenta desafios para a renda variável, mas também traz oportunidades. Investidores dispostos a adotar uma abordagem voltada a escolha de ações com perfil defensivo, como de empresas pagadoras de dividendos e com baixo endividamento, além de buscar um olhar para além de 2026 podem se beneficiar de uma carteira defensiva, mas também posicionada para surfar uma eventual onda favorável, se e quando houver. Com um cenário fiscal ainda incerto, as decisões devem ser guiadas por uma combinação de análise macroeconômica, seleção criteriosa de ativos e horizonte de longo prazo.

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