O presidente Donald Trump disse que estava aumentando a tarifa de aço e alumínio sobre produtos canadenses para 50% em retaliação à decisão de Ontário de cobrar uma taxa sobre a eletricidade enviada aos EUA.

“Isso entrará em vigor AMANHÃ DE MANHÃ, 12 de março”, disse Trump em uma publicação em suas redes sociais. A medida dobra uma tarifa de metais planejada de 25% definida para entrar em vigor logo após a meia-noite.

Trump disse que também “aumentaria substancialmente” as tarifas sobre peças automotivas canadenses em 2 de abril se o país não reduzisse as tarifas sobre laticínios e outros produtos americanos.

Essa alta iria “essencialmente encerrar permanentemente o negócio de fabricação de automóveis no Canadá”, disse Trump.

A medida é a mais recente escalada na disputa comercial de Trump com o Canadá, e corre o risco de perturbar ainda mais os mercados que registraram perdas constantes desde que o presidente avançou na semana passada com uma rodada inicial de tarifas sobre o Canadá e o México.

As ações dos EUA retomaram seu declínio depois que Trump disse que dobraria as tarifas; o índice S&P 500 caiu 0,3% às 10h17 em Nova York, enquanto o índice Dow Jones Industrial Average caiu 1%.

A ameaça é uma escalada da briga tarifária de Trump com o Canadá e a mais recente mudança em seus planos. No início de seu mandato, Trump impôs tarifas de 25% sobre todos os produtos do vizinho do norte dos EUA, apenas para posteriormente atrasar a mudança por um mês.

Quando as tarifas entraram em vigor na semana passada, o presidente dos EUA, em poucos dias, decidiu isentar produtos cobertos pelo USMCA, um acordo de livre comércio norte-americano que ele negociou durante seu primeiro mandato, após a queda dos mercados e a pedido dos fabricantes de automóveis dos EUA.

O movimento precede a próxima onda planejada de tarifas, prevista para abril, na qual Trump planeja definir uma taxa “recíproca” que ele considera equivalente às tarifas dos países, barreiras não tarifárias e certos impostos, incluindo o imposto geral de vendas de 5% do Canadá, que é aplicado a quase todas as compras domésticas. Trump tem reclamado regularmente sobre as tarifas de laticínios do Canadá, que são parte do sistema protegido de cotas de produção do país, conhecido como gerenciamento de fornecimento.

O Canadá respondeu às tarifas iniciais com uma série de medidas retaliatórias, incluindo uma sobretaxa de 25% sobre a eletricidade enviada para Minnesota, Nova York e Michigan de Ontário. O governo federal do Canadá também impôs tarifas sobre itens como suco de laranja americano, calçados e motocicletas.

O primeiro-ministro de Ontário, Doug Ford, um dos principais políticos conservadores do país, promulgou as tarifas de eletricidade em meio à indignação generalizada no Canadá pelo fato de Trump sugerir repetidamente que os EUA deveriam anexar o Canadá.

O presidente Trump “criou esse caos não apenas aqui, no Canadá, nos EUA e no México, mas em todo o mundo agora”, disse Ford à Bloomberg Television na noite de segunda-feira. “Ele concorreu com um mandato para reduzir a inflação, criar mais empregos, e fez o oposto total. A inflação está subindo, as fábricas de montagem fecharão se ele continuar com essas tarifas no setor automobilístico, as pessoas perderão seus empregos, a manufatura cairá e as pessoas terão menos dinheiro em seus bolsos.”

Trump também disse que declararia uma emergência nacional de eletricidade na região, prometendo que a medida permitirá que os EUA “façam rapidamente o que for preciso para aliviar essa ameaça abusiva do Canadá”.

Trump já declarou emergência energética nacional em seu primeiro dia no cargo, abrindo a possibilidade de usar subsídios especiais e pouco utilizados na lei federal de novas maneiras para impulsionar a construção de oleodutos, linhas de energia e outros projetos.

Nas áreas dos EUA que agora recebem eletricidade de Ontário, o governo Trump poderia usar poderes para pressionar as usinas de carvão a operarem mais, potencialmente agilizar novos projetos de geração ou permitir autorizações e construções mais rápidas de infraestrutura de transmissão elétrica.

Reflexos no Brasil

Desde a vitória de Donald Trump na eleição presidencial americana, especialistas confirmam a intensificação da “invasão” do aço chinês no Brasil, fenômeno que tem castigado a vida das siderúrgicas nos últimos anos.

Para o presidente global da Gerdau, Gustavo Werneck, se os Estados Unidos subirem as tarifas de importação – como prometeu o republicano durante a campanha –, o excedente de aço chinês vai buscar outros endereços. E o Brasil será, com certeza, um deles.

Segundo dados levantados pelo Instituto do Aço, o Brasil importou um volume de 451,1 mil toneladas durante todo o ano de 2023. Em apenas nove meses neste ano, o volume já está em 450,7 mil – mesmo com a taxação. A tarifa, na visão de Werneck, deveria ser de 35%, e atingir todos os produtos da indústria siderúrgica.

A Gerdau, globalmente, pode até se beneficiar desse cenário Trump. A companhia tem operações nos Estados Unidos e o México. E as políticas a serem adotadas pelo republicano devem estimular o investimento em produção na América do Norte – algo que já se viu no primeiro governo de Trump, entre 2017 e 2021. “A política de Trump deve puxar a demanda por aço, e isso pode beneficiar nossas operações”, diz.

A Gerdau registrou no terceiro trimestre lucro líquido de R$ 1,432 bilhão, 10% abaixo do registrado em igual período de 2023. O lucro antes juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda, na sigla em inglês) ajustado totalizou R$ 3,016 bilhões, também uma queda de 10% na comparação com o terceiro trimestre do ano passado.