Outubro começou repleto de expectativas para o bitcoin (BTC) – e não era para menos. Historicamente, esse costuma ser o melhor mês do ano para o mercado cripto. Mas a vida de vez em quando dá umas rasteiras – e as criptos não são exceção. Nesta sexta-feira (31), dia das bruxas, o ativo digital encerra o mês em queda de 4%, na casa dos US$ 109 mil.

É apenas a terceira vez em 13 anos que o tão falado “Uptober” fica na fantasia.

O mês até começou bem. No dia 6, por exemplo, o bitcoin disparou e atingiu US$ 126 mil pela primeira vez na história, o que aqueceu o coração dos “bitcoiners” (apaixonados pela cripto) e estampou manchetes no mundo todo.

A alta foi impulsionada pela incerteza em torno do shutdown (paralisação parcial) do governo dos Estados Unidos, o que levou parte dos investidores a buscar proteção em outros ativos, e a demanda institucional.

Mas a euforia durou pouco. Com o preço nas alturas, traders começaram a vender os ativos – e quem não venderia para garantir o ganho? Além disso, poucos dias depois, em 10 de outubro, Estados Unidos e China sinalizaram um possível recomeço da guerra comercial. Aí o mercado desandou.

O bitcoin despencou, levando junto investidores alavancados (aqueles que operam com dinheiro emprestado). O tombo foi pesado: US$ 20 bilhões em perdas em um único dia, segundo dados da Bitwise.

“A estrutura de mercado estava muito alavancada e com pouca liquidez, o que transformou a correção em uma sequência de vendas forçadas e aumento abrupto da volatilidade”, disse Danilo Moreno, analista da Investo, para o InvestNews.

Mais tensão e queda

Na semana seguinte, o cenário piorou. Cresceram as dúvidas sobre o conflito comercial entre as duas maiores economias do mundo. De um lado, Donald Trump criticava o controle chinês sobre as exportações de terras raras; do outro, Pequim prometia reagir. Nesse vai e vem, o bitcoin recuou para a faixa dos US$ 104 mil, enquanto o ouro voltou a brilhar como porto seguro.

Em meio à tensão, investidores institucionais também recuaram. Os 12 ETFs (fundos negociados em bolsa) à vista de bitcoin dos EUA, que servem de termômetro do interesse de grandes comparadores de cripto, registraram US$ 1,2 bilhão em saídas líquidas entre 13 e 17 de outubro – a segunda maior da história desses produtos, lançados em janeiro de 2024.

“O mês começou com forte demanda institucional, o que impulsionou o preço, mas essa alta deixou o mercado vulnerável a correções rápidas. Quando surgiram ruídos macroeconômicos e algumas notícias negativas no setor cripto, as liquidações forçadas e o ajuste de posições acabaram amplificando as oscilações”, disse Wander Guedes, gerente de operações da Transfero.

Nem o corte nos juros aliviou

Na segunda quinzena, as atenções se voltaram para a decisão do Federal Reserve (Fed, o banco central dos EUA). Os membros da instituição cortaram a taxa de juros em 0,25 ponto percentual, como o mercado esperava, e anunciaram o fim do aperto quantitativo (QT, uma ferramenta de política monetária usada para reduzir a liquidez) para dezembro.

Ainda assim, o bitcoin caiu, especialmente após o presidente do Fed, Jerome Powell, indicar que outro corte de juros pode vir só em 2026. Ele falou que a “política monetária não está em uma trajetória predefinida”. Nem o acordo entre EUA e China, feito nesta semana, ajudou a dar um gás na cripto.

“O mercado já esperava os cortes de juros de 25 pontos-base para dezembro. Mas o Fed sinalizou que talvez não corte em dezembro (o mercado não estava esperando por isso), isso gerou uma desalavancagem do mercado”, disse Marcello Cestari, analista de criptoativos da Empiricus Asset.

O que esperar de novembro

As perspectivas para novembro são de mais volatilidade, com o bitcoin ainda muito sensível aos fluxos de ETFs, às declarações do Fed e a qualquer evento que afete a confiança no ecossistema, segundo Guedes.

“Do lado dos riscos, vale monitorar de perto a alavancagem nas exchanges e possíveis saídas líquidas dos fundos spot (à vista), que podem gerar novas ondas de correção”, falou.

Já Pedro Lapenta, head de research na Hashdex, falou que embora a queda de preços tenha gerado incerteza, ela proporcionou uma oportunidade valiosa: o mercado agora opera de forma tecnicamente mais saudável, com o excesso de alavancagem reduzido, e isso pode ser positivo.

“Essa ‘limpeza’ ocorre exatamente no momento em que o interesse institucional se solidifica e o cenário macroeconômico se torna mais favorável. Essa confluência de fatores cria uma base sólida para o otimismo. Estamos observando uma clara divergência entre o preço de curto prazo e os fundamentos de longo prazo”, disse.