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Economia

Fraudes na quarentena: como não morder a isca?

Com as medidas de isolamento na pandemia, aumentaram as compras online e também o risco de ser vítima de ataques cibernéticos.

No dia 22 de março, Danielle Blaskievicz, moradora da cidade de Curitiba (PR) recebeu uma ligação de um funcionário do Hotel Fazenda Mazzaropi, localizado em Taubaté (SP). O motivo é que ela tinha sido contemplada em um sorteio do Instagram da empresa e teria direito a passar um final de semana grátis no local.

Danielle, que já tinha tentado reservar um pacote no hotel no final de 2019, não estranhou o contato. No entanto, quando o assistente pediu que ela clicar em um link e preencher alguns dados, para comprovar que era ela, o alerta disparou. “Eles pediram para preencher um formulário que chegaria no meu Whatsapp para receber um voucher, que só poderia ser utilizado após a quarentena”, relata.

MEDIDAS NA PANDEMIA:

Intrigada, ela procurou imediatamente o perfil do hotel no Instagram, enquanto permanecia na linha, e para a sua surpresa encontrou um post de dois dias atrás que alertava sobre este tipo de golpe. “Decidi seguir o jogo do cara e questionei quando o sorteio foi realizado. Ele afirmou que foi naquela manhã, então o confrontei falando do post da empresa. Eles desligaram na hora”, conta. Danielle registrou o ocorrido no Instagram do hotel, onde encontrou diversos outros relatos. “Suspeito que o hotel sofreu um vazamento de dados”, comenta.

A história de Danielle poderia ser a sua história, especialmente em tempos de quarentena. Pela sobrecarga dos meios eletrônicos, o número de fraudes aumentou. “Na primeira quinzena de março as pessoas aumentaram seu consumo de internet em 40%, tudo é feito de forma online, o que se tornou um prato cheio para os golpistas”, afirma Arthur Igreja, especialista em tecnologia e segurança digital. Ele destaca que situações como renegociar dívidas, ofertas de emprego, saque do FGTS, coronavoucher, e seguro desemprego são iscas perfeitas (phishing) para que crimes cibernéticos aconteçam.

Segundo levantamento do movimento Compre & Confie, no período de 24 de fevereiro até 18 de março, foram realizadas 13 milhões de compras online. Uma alta de 30,8% em relação ao mesmo período em 2019. Para Rafael Quaresma, especialista em Direito do Consumidor e diretor do Procon Santos, desde que a quarentena começou houve um incremento das queixas registradas. Algumas por fraude e outras por descumprimento nas datas de entrega ou condições dos pedidos de compras online.

Fraudes comuns

Os especialistas destacam quais são os golpes mais comuns para esta temporada:

  • Golpe da Maquininha: Acontece quando o vendedor afirma que a maquininha não processou o pagamento ou está com erro, e pega uma segunda maquininha. Porém, todos os dados do seu cartão e seu código de segurança já foram clonados na operação inicial.
  • Golpes do Whatsapp: O consumidor recebe um link no Whatsapp para preencher formulários com dados pessoais. Entre as iscas mais comuns estão: acesso gratuito ao Netflix, agendamento de teste do coronavírus na sua casa, Ambev enviando álcool gel, agendamento de vacina, envio de kit gratuito de máscara, prêmios e promoções.
  • Golpe do Coronavoucher: Um link é enviado pelo Whatsapp alegando que a pessoa precisa preencher um cadastro online para receber o benefício de R$ 600 do governo federal.
  • Covid-19 Tracker: a pessoa baixa este aplicativo para ter acesso a número de casos em tempo real do Covid-19 no Brasil. Após o download, o celular é bloqueado e aparecem ameaças que obrigam o consumidor a pagar um valor em bitcoin em troca de não espalhar fotos ou dados privados na web.
  • Golpe do cartão clonado: Um “atendente de banco” liga para a pessoa afirmando que seu cartão foi clonado, e auxilia o consumidor para realizar os bloqueios respectivos da conta. Na sequência envia um motoboy para pegar o seu cartão no seu domicílio.
  • Outras situações: Compras em sites de e-commerce de produtos que não existem, oferta de renegociação de dívidas de bancos pelo whatsapp ou redes sociais.

Dicas para se proteger

Para se proteger dos golpes, é preciso seguir algumas regras de ouro: nunca acesse um site que não seja https ou tenha o cadeado de segurança antes do endereço web. E nunca compartilhe seu CPF, RG, dados do seu cartão, senha ou código de segurança.

Quaresma aconselha que os consumidores não sejam passivos com as informações recebidas e sempre verificar. “Se você recebeu um e-mail ou whatsapp, verifique sempre em canais de atendimento oficiais. Nunca repasse se não tem certeza da veracidade”, diz. Com isso, além de evitar golpes o consumidor não espalha fake news.

Para quem pretende renegociar dívidas ou pagamentos, ele alerta que não são os bancos que vão procurar o consumidor e sim o contrário durante a quarentena. “Fiquem atentos, se não entrarem em contato com o banco a negociação dos pagamentos não vai ocorrer. Se um banco entrar em contato pelo Whatsapp para negociar dívidas, desconfie”, explica.

Para quem realiza compras por delivery, pagando online ou com maquininha, Quaresma recomenda colocar um adesivo no código de segurança do seu cartão (os três dígitos que se encontram no verso), desta forma ficará protegido contra eventuais roubos de dados.

“Para fazer a compra você só precisa da senha e não do código de segurança” aponta e acrescenta que em hipótese nenhuma alguém deve entregar seu cartão para outra pessoa. “O banco pode nos enviar os cartões pelos Correios, mas o consumidor nunca envia pelos Correios ou outras formas o seu cartão”, aponta.

Igreja aconselha manter os aplicativos do celular atualizados, porque versões antigas são mais propícias a falhas de segurança. A dica é para baixar aplicativos apenas de lojas oficiais (Play Store e Apple Store). O golpe do Covid-19 Tracker, por exemplo, aconteceu quando as pessoas baixaram o app que não era autorizado por estas lojas.

“Mude de tempo em tempo suas senhas. O Google possui um programa de checagem https://passwords.google.com/, que verifica com regularidade suas senhas e envia alertas caso alguma delas vazou ou se o site onde foram utilizadas foi vítima de ataques cibernéticos”, indica Igreja.

Meios de pagamento

Como a segurança digital durante a quarentena também depende de meios de pagamento fortes, as bandeiras de cartão foram obrigadas a reforçar os esforços, quando o assunto é fugir do phishing.

A Mastercard por exemplo, sofre há dois meses, em média, 70 mil tentativas de fraude por dia. A companhia afirmou ao InvestNews que trabalha para minimizar os riscos na experiência de compra, utilizando tokenização, inteligência artificial e EMV 3DS. Contudo, a bandeira recomenda aos consumidores: conferir se o e-commerce é confiável, mudar a senha com regularidade, e nunca compartilhar número do cartão ou código de segurança.

Segundo Adriana Umeda, diretora de Risco da Visa, a empresa tem monitorado frequentemente as ameaças para clientes e estabelecimentos comerciais.

“Trabalhamos com os principais players da indústria para revisitar processos que proporcionem eficiência operacional durante a quarentena. Estamos otimizando o índice de aprovações das transações e o nível de autenticação das compras online”, explica. A Visa também está trabalhando com soluções de segurança e anti-fraudes para pequenos e médios empresários, em parceria com a CyberSource.

Com uma rotina cheia de pagamentos online e pedidos delivery, surge a dúvida: é melhor pagar em crédito, débito ou boleto?

Igreja acredita que a melhor alternativa é pagar online, ou utilizando o cartão de crédito. Para isso aconselha:

  • Utilizar um cartão virtual temporário para cada compra. Este recurso já é fornecido por bancos tradicionais e digitais e só pode ser utilizado uma única vez.
  • Se tiver a possibilidade, desbloqueie seu cartão no aplicativo apenas na hora da compra, na sequência faça o bloqueio novamente.
  • Se você não tem cartão de crédito, prefira pagar em boleto. Antes verifique a procedência deste. Caso receba um boleto no Whatsapp, entre em contato sempre com canais oficiais para verificar a autenticidade.

Onde denunciar?

Se você foi vítima de um golpe, Rafael Quaresma recomenda fazer a denúncia por meio da plataforma oficial https://www.consumidor.gov.br/ . O prazo de resposta é de até 10 dias úteis.

Notifique também a bandeira do seu cartão de crédito (Mastercard, Visa, Elo ou outros), registre a queixa no seu banco e com os fornecedores do serviço/produto por meio do SAC ou Ouvidoria. Além de registar sua denúncia por estes meios, nada impede que você também registre a queixa no site do Reclame Aqui, ou no site do Procon da sua cidade.

Igreja recomenda fazer um Boletim de Ocorrência, caso seu cartão foi clonado, para se proteger de problemas judiciais. “Você nunca sabe onde seu cartão pode ser utilizado”, conclui.

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