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Essa transformação do mercado tem se acelerado ainda mais por conta da pandemia da Covid-19, e aumentado ainda mais a necessidade de entendermos o papel das pessoas dentro dos novos modelos de atuação das companhias. Foi com esse objetivo que conversei com uma das maiores visionárias em relação ao futuro do trabalho, a israelense Lital Marom, CEO da consultoria de inovação Unfold, e fundadora do The Academy of Tomorrow, projeto voltado à capacitação de líderes para os novos tempos do mercado.
Para encarar de frente as mudanças do mercado e conseguir se adaptar às novas ferramentas e funções que estão surgindo no mercado, Lital aponta três regras que são fundamentais para iniciar o processo de transição:
- não ter medo de atuar com tecnologia pois nem todos profissionais ou mesmo empresas conseguem integrar as inovações ao dia a dia do trabalho;
- não ter resistência a fazer coisas novas ou se arriscar em uma nova investida só porque a vida atual está indo bem;
- ter uma nova mentalidade para conseguir enxergar as oportunidades ou reformular os negócios.
O próximo passo é se
sobrepor ao trabalho das máquinas focando nas capacidades humanas. Enquanto as
tecnologias são definidas pela eficiência da Era Industrial, onde o foco é
fazer mais por menos, as pessoas precisam reinventar o trabalho usufruindo das
habilidades que são os nossos diferenciais, como imaginação, criatividade,
empatia e curiosidade. Só dessa forma é que vamos conseguir criar novos
trabalhos, desenvolver novas funções, impor novos valores e, acima de tudo,
construir uma nova sociedade que seja ainda melhor para as pessoas.
Nessa linha, Lital
prega muito a necessidade do aprendizado, onde as corporações – principalmente
as mais tradicionais – têm obrigação de incluir essa mentalidade no centro de
suas atuações. Pois enquanto as empresas mais antigas ainda têm seus valores
criados pelos próprios funcionários, que atuam divididos em departamentos, que
por sua vez estão separados por paredes ou divisórias, as novas corporações e
startups são abertas, conectadas, e, o mais importante, com mentalidade de
aprendizagem. Nelas, o foco não é produzir mais por menos, mas sim aprender
mais, mais rápido e mais a fundo.
Ela cita como exemplo
a Amazon, que nos primeiros anos de atuação era apenas uma empresa que vendia
livros para clientes. Era muito boa pois era ágil e com preços abaixo da média
do mercado, mas que atuava no modelo tradicional. Entretanto, a companhia se
tornou a gigante varejista de hoje depois que adotou uma nova mentalidade de
atuação dando origem à Amazon Marketplace, que permitiu que qualquer pessoa fizesse
parte e pudesse usufruir da plataforma. Além disso, automatizaram todo o
processo sem perder um único funcionário para a automação.
A gigante varejista
também é citada como exemplo por Lital para um fator que parece inusitado para
se obter sucesso no mercado que é o fracasso. O próprio Jeff Bezos, por
exemplo, afirma que a Amazon é “o melhor lugar no mundo para falhar” devido à
mentalidade aberta e voltada à aprendizagem que foi incorporada pela companhia.
Foi para auxiliar outras empresas a adotarem esse processo que a consultora
israelense criou a The Academy of Tomorrow, cujo pilar de atuação é colocar em
prática esses experimentos dentro das corporações visando a inovação dos
negócios.
E dentro desse
processo de reposicionamento das companhias há vários exemplos de sucesso. O
CEO da AT&T, Randall Stephenson, prega que qualquer pessoa da organização
precisa passar de cinco a dez horas por semana de seu próprio tempo aprendendo
novas habilidades. Caso contrário, a função do profissional será substituída
pelas novas tecnologias. O esforço nesse sentido é tamanho que a gigante
americana do setor de telecomunicações investiu mais de US$ 1 bilhão para dar
acesso a todos os seus funcionários a diferentes plataformas de aprendizagem.
Já o lendário ex-CEO da Unilever, Paul Polman, diz que todos os colaboradores
da companhia, independente do cargo, devem aprender novas habilidades e
desaprender as atividades antigas que não estão mais servindo para o mercado
atual.
Na conversa com Lital,
aprofundei mais esse interessante tema com algumas questões sobre as tendências
para a atuação das companhias globais, as novas habilidades que serão
necessárias para as lideranças e a importância da aprendizagem para esse novo
mercado.
Sabemos que algumas empresas globais criaram cargos executivos para cuidar especificamente do bem-estar e até mesmo da felicidade de seus funcionários. Você acha que isso é uma tendência?
Em sua opinião,
quais habilidades as novas lideranças das corporações devem ter?
O mais importante hoje
é entender que a definição da própria liderança mudou. Está começando a
desaparecer aquele tipo de líder que dizia o que fazer e todo mundo seguia. Um
líder hoje não é nada disso. O que faz a diferença hoje é elevar o desempenho
da equipe e todos o seguem porque acreditam nele e sabem que esse líder se
preocupa com eles. E essa equipe vai fazer o melhor trabalho que pode porque
também se importa com o líder. Essa dinâmica é muito diferente da que estávamos
acostumados, e esse novo jeito de liderar cria segurança psicológica. Ou seja,
em uma reunião não é só o chefe que fala silenciando todos que estão ao redor
da mesa. É dar a todos a oportunidade de dizerem o que pensam, dizer algo que
pode abalar o sistema ou a equipe, mas que foi dito porque essa pessoa se
importa com aquele problema. Estamos começando a aprender que as pessoas podem
abalar o sistema, e não é porque elas não se importam e querem criar tensão,
muito pelo contrário, é porque elas realmente se importam. Liderar é também
escutar e dar vozes a essas pessoas, isso é trabalho em equipe. E isso diz
muito sobre diversidade e inclusão, que são palavras que estão na moda mas
sempre tivemos esses problemas e precisamos resolver.
Lital, sabemos que o ambiente de aprendizagem nessas empresas mudou muito. Vimos em corporações, universidades, e o RH é o centro do treinamento e decisões de capacitação, parece não fazer mais sentido. Na sua opinião, quais são os novos horizontes quando pensamos em educação e aprendizagem corporativa?
Como as empresas
podem criar esses espaços de aprendizagem? Ou seja, fazer com que esses
funcionários sejam atraídos para esses espaços de aprendizagem. Como construir
isso dentro das corporações?
Para mim, trata-se de
criar espaço para isso. Você não pode esperar que seu funcionário seja um explorador
e procure por coisas novas, pois ele já tem várias tarefas no dia e é avaliado
por elas. Isso precisa ser realmente parte do sistema. E para mim isso é
permitir que as pessoas tenham acesso a todos esses cursos, que irão enriquecer
seus aprendizados, mas depois precisam trazê-los para o local de trabalho para
ser aplicados nos produtos e serviços, e serem testados com os clientes no
mundo real. Não adianta fazer tudo isso e depois não aplicar, isso não
funciona. Todas as grandes inovações ocorreram com empresas que ousaram a fazer
algo, e é assim que se trabalha. Startups e empreendedores sabem que o modelo é
esse, e foi assim que construí minhas empresas. Eu não pensei muito, apenas
criei e o mercado foi me ensinando. Precisamos sempre experimentar e colocar em
prática tudo o que aprendemos, não importa se é dentro ou fora da empresa.
Como vimos, a
aprendizagem de novas habilidades e aplicação desses novos conhecimentos no dia
a dia do trabalho serão fundamentais para o sucesso nos próximos anos. Em uma
sociedade que está sendo caracterizada pelas transformações exponenciais, Lital
deixou quatro lições para lidarmos com essas mudanças: ser imaginativo,
essencial para sermos mais criativos e inovadores; se tornar um polímata, para
aprender coisas diferentes e ter domínios amplos; ser mais conector, para ter a
capacidade de reunir os diferentes aprendizados para criar algo novo; e ser
amador, pois quanto mais a gente sente que sabe a resposta, mais distante
ficamos de resolver o problema. Essa é a base para não deixarmos as tecnologias
nos substituir.