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Qual a relação entre açúcar, gordura e bolsa?

Não perca de vista que suas decisões não são totalmente racionais.

Ideias
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Tempos atrás eu assisti a um documentário interessante: cataram um sujeito para um experimento curioso, que consistia na mensuração da atividade cerebral.

Primeiro colocaram o cidadão num tomógrafo (ou algo que o valha – desculpem-me aí os médicos e biomédicos, mas esse não é o meu métier) e então o fizeram comer açúcar. Certas regiões do cérebro mostraram atividade acima do normal.

Depois deram para ele alguma forma bastante pura de gordura – não lembro exatamente o que, mas suponhamos que fosse manteiga. Novamente, a reação foi de algum aumento de atividade.

Aí resolveram misturar açúcar com manteiga e oferecer à cobaia humana…

O cérebro do cara ficou parecendo uma árvore de Natal, de tanto que brilhou com aquela combinação.

Este é, basicamente, um segredo que a indústria de alimentos conhece muito bem: nossos cérebros gostam de açúcar, gostam de gordura e amam a combinação de açúcar e gordura. Não é por acaso que praticamente tudo que se encontra para vender dentro de embalagens em supermercados é riquíssimo em carboidrato e gordura.

Eu nunca soube de estudo semelhante com investidores do mercado de capitais. Mas tenho certeza que nossos cérebros também se iluminam quando compramos uma ação e ela sobe. E não tenho a menor dúvida de que o movimento contrário produz, se não dor, no mínimo abstinência dos ótimos neurotransmissores produzidos pelos gains.

A mensagem aqui é simples: se você não tomar cuidado, o mercado vicia. Talvez fizesse sentido que cada ordem no homebroker fosse precedida por aquela mensagem de tela azul “O Ministério da Saúde adverte: trade pode causar dependência”.

E, se tem potencial adictivo, não se pode descartar a possibilidade de suas decisões de investimento serem, em maior ou menor medida, influenciadas por isso. 

Como se contorna a situação?

Sou um defensor ardoroso de processos quando o assunto é investimento. Penso que todos se beneficiariam bastante de colocar no papel sua política de investimentos pessoais. 

Quanto eu vou ter de renda fixa? E de ações? E de FIIs? Qual é o percentual mínimo e máximo que eu aceito ter de cada ativo na minha carteira? Quais vão ser meus critérios de escolha de ativos? Quais são os requisitos que eu vou cumprir antes de enviar uma ordem de compra ou de venda? Vou estabelecer limites de perda e objetivos de ganho – e, se sim, como?

Na maioria das vezes as pessoas fazem alguma ideia de quais seriam as respostas. Mas não estabelecem um processo claro e, na prática, acabam fugindo bastante do que idealizam – mais ou menos como quem estabelece uma dieta mas não colhe resultados porque todo santo dia dá uma escapada… 

Isso quando o sujeito não vai simplesmente para o modo freestyle: comprei porque ouvi falar que era bom; vendi porque caiu; comprei porque subiu e eu achei que ia subir ainda mais.

Talvez você esteja pensando que minha proposta é uma chatice sem fim. Pois que seja! Ninguém disse que investir deveria ser divertido – eu até me divirto, mas certamente não da forma que a maioria: eu gosto de fazer análise, de ler resultado de empresa, etc. Gosto não se discute.

Mas o fato concreto é que construir patrimônio dá trabalho. Demanda esforço e disciplina. Não é atividade de lazer.

Minha proposta a você, hoje, é muito simples: abra sua carteira e liste os motivos pelos quais você tem cada uma das ações que a compõem. Motivos concretos – “Fulano disse que ia subir” não é um motivo concreto. Quantas posições resistem ao teste?

Diz aqui pra mim, com sinceridade: você está investindo de verdade ou brincando de investir?

Talvez você chegue à conclusão de que, mais do que investir, você gosta do jogo, da sensação, da adrenalina. É açúcar com manteiga na ponta dos seus dedos, de segunda a sexta-feira das 10 às 17 horas.

E, ao final dessa reflexão, pode ser que você conclua que está tudo bem em ser assim. No máximo poderão dizer que é uma diversão exótica.

Ou, talvez, essa reflexão abra seus olhos para medidas não tão divertidas que precisam ser tomadas para que sua jornada no mundo dos investimentos pra valer efetivamente se pague com o tempo.

Que tal? O que me diz?

Ricardo Schweitzer é economista formado pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Acumula quase 15 anos de experiência no mercado de capitais, principalmente como analista de investimentos. Após anos de trabalho junto a investidores institucionais (Adviser Asset Management, Fundação CEEE de Seguridade Social, Sicredi Asset Management, Banco Votorantim e outros), voltou-se ao investidor de varejo: atuou na Empiricus Research, na Inversa Publicações e co-fundou a Nord Research. Atualmente é analista CNPI, consultor CVM e investidor profissional.
Twitter: @_rschweitzer, Instagram: @ricardoschweitzer

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Este conteúdo é de cunho jornalístico e informativo e não deve ser considerado como oferta, recomendação ou orientação de compra ou venda de ativos.

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