Existe uma série de estudos apontando que investidores cometem muitos erros porque são confiantes demais. Exagerando na crença sobre os próprios conhecimentos do mercado, acabam cometendo erros que vão custar caro, literalmente, na forma de prejuízo.
Mas não é simplesmente por arrogância, como pode parecer. Na verdade, é um problema de memória, segundo um estudo recente, publicado pela Proceedings of the National Academy of Sciences (PNAS), publicação oficial da Academia Nacional de Ciências dos Estados Unidos.
Os dois autores, Daniel J. Walters ( Instituto Europeu de Administração de Empresas, na França), e Philip M. Fernbach (Leeds School of Business), ambos professores e pesquisadores do comportamento, queriam saber se os erros de muitos investidores poderiam ter a ver com a maneira como lembram de seus investimentos no passado.
Para isso, convocaram 900 deles, principalmente homens, selecionados através da internet para participar de três experimentos. No primeiro, os professores entrevistaram 401 investidores para estimar seu nível de excesso de confiança, coletar dados sobre o desempenho passado no mercado financeiro e determinar a frequência com que negociam.
Eles tinham que revelar quantas vezes esperavam ter um desempenho acima do mercado nos 12 meses seguintes. Depois, tinham de lembrar quais tinham sido os dois investimentos que tiveram o maior impacto sobre seus portfólios, positivo ou negativo, no ano anterior. Por último, foi pedido a esses investidores que verificassem seus demonstrativos e informassem qual tinha sido o real resultado.
Na verdade, não tinham sido tão favoráveis como eles se lembravam. Na média, o lucro tinha sido 4,3% menor em um caso e 7,1% em outro. E não só. Quanto mais positiva a memória, mais a pessoa tende a ser super confiante e mais vezes costumava comprar e vender ativos.
A segunda fase foi parecida com a primeira, mas desta vez 151 voluntários tiveram de recordar dez investimentos realizados em 2020 e, mais tarde, como o primeiro grupo, conferir nos extratos qual foi o verdadeiro resultado. A distorção foi ainda maior do que no primeiro experimento, com os investidores lembrando de um lucro 8% maior do que na realidade. E – mais uma vez – quanto mais falha a memória, mais eles estavam prontos a se arriscar.
No terceiro experimento, os pesquisadores quiseram verificar se de alguma forma poderiam intervir para reduzir o excesso de confiança. Pediram então que verificassem o desempenho no passado antes de projetar como achavam que seus investimentos iriam se comportar no futuro. Confrontados com os números reais, continuaram achando que poderiam superar o mercado, mas com metas muito mais modestas do que no primeiro grupo.
Perder dinheiro pela memória falhar já seria ruim. Mas, segundo o estudo, esses investidores também tendem mais a se endividar e a reagir com exagero a notícias sobre o mercado. Cometem mais erros básicos do que aqueles que confiam menos em si mesmos.
E no fim perdem muito mais dinheiro.
*Samy Dana é Ph.D em Business, apresentador do Cafeína/InvestNews no YouTube e comentarista econômico. |
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