Um crash do mercado é um evento dramático. Em março do ano passado, por exemplo, o Ibovespa chegou a marcar uma queda de 42% no ano, enquanto o S&P 500 nos Estados Unidos recuava 26%. Quando as ações caem nessa magnitude, muitos investidores batem em retirada. E em dias em que o circuit breaker é ativado, com o Ibovespa caindo 10%, como vimos no ano passado, vem o pânico.
Amin Zokaei Ashtiani (Universidade Luiss Guido Carli, na Itália) e os colegas Marc Rieger (Universidade Trior, na Alemanha) e David Stutz (do Commerzbank, banco de Luxemburgo) observam que, se percebem que o risco aumentou, as pessoas não hesitam em vender barato o que compraram caro. Estratégia devastadora para as finanças. Não só pelo prejuízo. Investidores nessa situação geralmente não voltam para a Bolsa depois.
Perdem também a chance de se recuperar quando as ações voltam a subir. E pior ainda: a tendência a abandonar o mercado depois de um crash é, segundo o estudo, ainda mais forte entre os mais pobres, pessoas com menor escolaridade ou pertencente a minorias. Fazem o contrário das pessoas mais ricas e mais escolarizadas, que tendem a comprar mais barato nas crises, aumentando suas posições e os ganhos futuros, em vez de vender.
Mas um grupo tende a ser mais resistente. Mesmo nas piores quedas, investidores que montaram seu próprio portfólio de investimentos são menos propensos a vender ações e outros ativos do que quem colocou o dinheiro em um fundo ou uma carteira criada por um gestor ou outra pessoa, segundo um estudo publicado este ano no Journal of Experimental and Behavioral Finance.
A resposta pode estar no “Efeito Ikea”. A fabricante sueca de móveis de design diferenciado é um sucesso mundial, beneficiada pela sensação de competência dos clientes ao montar seus produtos. Ao estudar o fenômeno com vários experimentos, o psicólogo Dan Ariely percebeu que, fazendo origamis ou esculturas de Lego, os voluntários atribuíam a seus trabalhos amadores o mesmo valor de obras de artistas consagrados.
Ashtiani, Rieger e Stutz queriam saber se o mesmo vale para investimentos. Para isso, 219 estudantes foram divididos em dois grupos e convidados a imaginar que ganharam 10 mil euros na loteria e agora vão investir o dinheiro. O portfólio consistia de ETFs de mercados emergentes. Um grupo podia escolher em quais ativos queria investir, enquanto os participantes do segundo grupo tiveram seus portfólios montados para eles.
Então todos foram avisados que, um ano depois, seus investimentos estavam valendo 20% menos. Eles agora podiam aumentar ou reduzir suas posições. Aumentando, poderiam ter mais prejuízo de momento, mas seus ganhos no futuro seriam maiores. Reduzindo, caía o risco de mais perdas, porém poderiam cair também os ganhos futuros.
Resultado: no grupo em que puderam escolher seus investimentos, três vezes menos pessoas – 10% contra 31% – optaram por vender os ativos de maior risco numa queda forte. Se o efeito-Ikea faz com que montadores amadores se sintam profissionais vendo o móvel pronto, um investidor que escolhe os próprios ativos tende a se sentir tão competente quanto um profissional do mercado.
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