A regra de ouro dos investimentos é comprar barato e vender caro. Infelizmente, não é bem assim para grande parcela dos investidores, que costumam comprar caro e vender suas ações barato. Algo que é comprovado por uma série de estudos e está ligado, basicamente, à aversão à perda, o impacto psicológico que sentimos ao perder dinheiro.
Como demonstram Daniel Kahneman e Amos Tversky, exaustivamente citados neste espaço, o desconforto de perder dinheiro produz uma sensação de tristeza muito maior do que a felicidade de achar dinheiro. O que vale até quando a quantia encontrada é maior do que o dinheiro que foi perdido. É um comportamento que leva investidores a assumirem perdas diante do mal-estar causado por um prejuízo. E é um comportamento bastante estudado e documentado.
Só que nesta dinâmica existe um detalhe ao qual os economistas costumam dar pouca atenção: o momento da compra.
É comum ver uma oportunidade maior em um papel que está subindo depois de um longo ciclo de alta do que em um papel que está caindo. Em princípio, faz sentido. Se uma ação sobe é porque as perspectivas da empresa são positivas para o futuro. Se cair, pode-se pensar o inverso. Mas o potencial de ganhos de um bom papel comprado numa fase de baixa é muito maior. E, principalmente, o potencial de perdas do mesmo bom papel também pode ser bem maior dependendo de quanto se pagou nele.
Para boa parte dos investidores, a razão, como em muitos comportamentos equivocados, é o excesso de confiança, segundo um estudo de dois economistas e professores de universidades, Rui Yao (Missouri) e Shan Lei (West Texas).
Ao investigar dados de um levantamento nacional do Federal Reserve, o banco central americano, e do Departamento do Tesouro sobre as finanças de 4,8 mil consumidores entre 2001 e 2013, eles perceberam que pessoas com um ganho anterior são mais propensas a pagar mais caro por um papel do que quem enfrentou uma perda.
É o excesso de confiança em estado puro. Se tinham acertado antes, as pessoas tendiam mais a acreditar que as ações continuariam subindo mesmo que a possibilidade de ganhos, pagando mais caro, fosse relativamente pequena. Seu comportamento indica também que acreditavam ser mais aptas a escapar da queda, caso viesse. Um raciocínio que leva ao comportamento mais arriscado, principalmente entre investidores com menos vivência do mercado.
Para quem não experimentou o sobe e desce dos ativos, é mais fácil pensar que a alta pode ser eterna e um ganho anterior irá se repetir só porque já ocorreu antes. O problema é que cedo ou tarde a correção do mercado corroía muitos portfólios. Estes investidores então ficavam mais avessos ao risco, muitas vezes vendendo com prejuízo. E não importa se tinham uma renda mais alta ou mais baixa, o comportamento se repetia.
Já os investidores mais experientes, com maior conhecimento de mercado, não caíam tanto na tentação de pagar mais caro. Eram menos sensíveis ao risco, segurando os papéis por mais tempo. Aprenderam a esperar anos para ter retorno e eram mais propensos a lucrar, mesmo quando pagavam mais caro pelo ativo. Em resumo, conheciam mais a própria tolerância ao risco e tinham metas para os investimentos, às quais se mantinham fiéis.
É difícil se conter diante de um papel que está subindo ou manter a calma diante de uma queda. Mas saber quanto se quer ganhar geralmente aumenta o desejo de ficar o mais próximo possível do objetivo proposto. Nos torna mais focados em encontrar oportunidades. De preferência, pagando barato.
*Samy Dana é Ph.D em Business, apresentador do Cafeína/InvestNews no YouTube e comentarista econômico. |
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