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Por que é difícil estar na ‘crista da onda’ do mercado o tempo todo?

Não é raro que a experiência pessoal, vieses cognitivos ou o estado emocional nos levem a uma decisão irracional.

16/01/2013. REUTERS/José Manuel Ribeiro

Uma das consequências do trabalho dos economistas do comportamento – ou psiconomistas, termo mais atual – é questionar a lei da eficiência dos mercados. Todas as informações sobre um ativo estão nos preços – sugerem aqueles que defendem que os mercados são mesmo eficientes. De um barril de petróleo a um NFT, passando por ações, ouro ou qualquer outra coisa, o valor seria a expressão de tudo que se sabe sobre o papel.

Em quase seis décadas, desde os primeiros trabalhos de Daniel Kahneman e Amos Tversky, a economia comportamental se colocou a desmontar esta tese. Informações importam, mas muitas de nossas decisões são tomadas por impulso ou por medo de ficarmos de fora de algo – pense em quantas vezes entrou em um bolão da Mega Sena só para não deixar de ficar rico se todos os colegas de trabalho ou os amigos ficarem.

Gostamos de seguir as decisões da maioria, procurando as ações mais conhecidas mesmo se há outras com maior potencial de crescimento, decidimos diferente se o dia é de chuva e não de sol. Ou o contrário. Não é raro que a experiência pessoal, vieses cognitivos ou o estado emocional nos levem a uma decisão irracional. Os mercados seriam tudo, menos eficientes. Ou será que os mercados incorporam estes fatores e seguem eficientes?

É o ponto de partida de um curioso estudo que será publicado este mês no The Journal of Finance. Mesmo que não pareça, os mercados são muito mais eficientes do que muitos investidores ou mesmo economistas pensam, dizem os dois autores, Allan Timmermann e Harry M. Markowitz, ambos professores da Rady School of Management, da Universidade de San Diego.

Analistas, gestores e investidores estão sempre em busca de indicações que permitam adivinhar o desempenho futuro de determinado papel. Algumas gestoras americanas chegam a examinar fotos de satélite dos estacionamentos de lojas para antecipar se as vendas vão crescer. Ou sobrevoam de helicóptero os campos de petróleo para medir as reservas e acertar os efeitos no preço do barril.

Um nível tão detalhado de informação traz a vantagem de ajudar a projetar resultados futuros e montar posições, compradas ou vendidas. A chance de acertar é bem maior do que a de um investidor comum. É o momento conhecido como pockets, na gíria dos investidores, quando o mercado se torna previsível para quem possui dada informação.

No entanto, assim que os números se tornam públicos, com a divulgação dos resultados, as ações os incorporam aos preços. A vantagem de saber algo que o mercado não sabe não existe mais. E é quando, segundo o estudo, que examinou 63 anos de dados das bolsas dos Estados Unidos usando modelos analíticos e aplicando simulações, o mercado volta à rotina de imprevisibilidade.

Por isso, é tão difícil obter um desempenho acima da média dos demais investidores mesmo para os gestores mais experientes. Estar o tempo todo à frente do mercado em um tempo em que a informação está cada vez mais disponível já é difícil uma vez. Imagine o tempo todo…

Porém há outro detalhe. Entre altas e baixas, momentos de alta previsibilidade renderam, na média, 2% a 4% ao ano ao longo de décadas. Já os momentos de alta imprevisibilidade trouxeram lucros de 6% ao ano. Ou seja, ainda que compense acertar de vez em quando para onde vai o mercado, no longo prazo, as oscilações não importam tanto.

Um exemplo e tanto de previsibilidade.

*Samy Dana é Ph.D em Business, apresentador do Cafeína/InvestNews no YouTube e comentarista econômico.

As informações desta coluna são de inteira responsabilidade do autor e não do InvestNews e das instituições com as quais ele possui ligação. 

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