Quando ouvimos falar em criptomoedas genericamente, somos induzidos a achar que todo e qualquer tipo de token criptográfico representa a mesma coisa e/ou que são eles absolutamente intercambiáveis entre si. Mas isso não é verdade.
Existem ao menos 7 tipos de criptoativos distintos disponíveis no ecossistema de moedas digitais. Todos eles pertencem ao gênero “criptoativos”, mas são tão diferentes entre si que, para melhor ilustrar, subcategorizei em espécies distintas, de acordo com suas características.
A palavra “criptoativos” é, ao meu ver, a mais adequada para representar esse gênero, pois cada token criptográfico emitido utilizando-se tecnologias em blockchain denomina um diferente tipo de direito, como por exemplo processar dados em determinada blockchain, ao bem que determinado token denomina, etc. Portanto, são ativos na acepção clássica do termo.
Você verá que a percepção de valor desses ativos varia. Ela pode vir do fato de estarmos falando de um ativo digital irreplicável ou da regra de escassez do protocolo, por exemplo.
Tudo depende de qual espécie de criptoativo estamos falando: isso é determinante para se chegar a qualquer conclusão sobre o valuation de determinado criptoativo.
Veja, no momento em que escrevo, existem mais de 19 mil moedas digitais, ou criptoativos, que são genericamente denominadas simplesmente como criptomoedas. Mas quando consideramos a natureza de cada uma delas, chegamos a pelo menos 7 espécies distintas, com pelo menos 7 métricas diferentes de valuation.
1 – As criptomoedas ‘puras’
Nesse sentido, as criptomoedas “puras”, por assim dizer, são a acepção mais clássica de criptoativo.
Elas são emitidas por um Criptoprotocolo proprietário (ou seja, que prevê necessariamente mineração, blockchain e a criptomoeda em si como forma de recompensa àqueles que se dedicam a manter a rede segura), mas sem uma aplicação específica pré-determinada, a exemplo de Bitcoin, Dash, Monero.
Esses são, ao meu ver, os criptoativos mais difíceis de precificar, pois um valuation correto deveria valorar a rede criada utilizando critérios como seu grau de entropia, além de métricas relativas ao custo de se obter esses ativos, já que muitos deles utilizam-se de Proof-of-Work.
Todavia, ainda que seja difícil quantificar seu valor justo, nesses casos, como o custo de obtenção dos criptoativos pode muitas vezes ser mensurado, o simples comparativo entre esse valor e o valor de mercado nos permite aferir se determinado criptoativo está caro ou barato.
3 – As criptomoedas de plataforma
Há, ainda, as criptomoedas de plataforma, que nada mais são do que ativos digitais emitidos por um tipo específico de criptoprotocolo que se propõe como infraestrutura para criação de outras aplicações. Exemplo: o ethereum (ETH).
Esses criptoativos têm, portanto, um critério utilitário específico: são necessários para utilizar o poder de processamento daquela rede e também sua infraestrutura como plataforma de desenvolvimento. E quanto mais difundida a plataforma em questão, maior é a demanda por seus tokens e, com oferta constante, o preço deve subir.
Logo, para as criptomoedas de plataforma, uma boa maneira de se aferir o valuation de determinada iniciativa seria por meio de comparativos entre iniciativas semelhantes, a representatividade de cada uma e seus respectivos market caps.
Isso poderia levar à conclusão, por exemplo, de que o protocolo de Cardano, que ainda é uma grande promessa, não deveria valer mais do que criptoprotocolos que, apesar de terem pontos de falha, já entregam incontáveis soluções, como Solana. Portanto, talvez Cardano esteja excessivamente caro; talvez Solana esteja demasiadamente barato.
3 – Os utility tokens
Existem outros tipos de criptoativos que são chamados de utility tokens. Eles funcionam como uma espécie de licença de uso de uma aplicação descentralizada criada utilizando uma plataforma.
Esse tipo de criptoativo é criado por meio de um contrato inteligente e não possui sistema de Mineração nem Blockchain próprios. Diversos tokens emitidos por projeto dos chamados ICOs (Initial Coin Offers, ou oferta inicial de tokens) enquadram-se nesse conceito.
Nesse caso, precisamos entender que estamos falando sempre de 1 token representando 1 licença de uso, ou seja, um serviço a ser utilizado.
Assim, se considerarmos premissas de economia de escala em que, quanto maior for a contratação de determinado serviço, menor será seu valor unitário, os utility tokens podem não ser as melhores alternativas de criptoativos quando o assunto são investimentos.
4, 5 e 6 – Os security tokens, asset-backed tokens e stablecoins.
Contudo, existem outros casos em que o valuation do criptoativo não deveria ser nada mais nada menos do que o preço de seu ativo subjacente (ou underlying asset).
Esse é o caso dos security tokens (tokens de valores mobiliários), dos asset-backed tokens (tokens lastreados por ativos existentes no mundo real) e das stablecoins.
Apesar disso, é verdade que, em alguns casos, a liquidez reduzida ou riscos inerentes ao negócio (ex: ausência de auditoria que constate o lastro de 1:1 em determinada stablecoin) poderá fazer com que a cotação do ativo tokenizado tenha algum descolamento do seu ativo subjacente, porém esse último jamais poderá ser simplesmente desconsiderado na hora de precificar o valor justo desses ativos.
7 – Os NFTs
Por fim, temos a categoria mais complicada de precificar na minha opinião: as criptomoedas colecionáveis, geralmente representadas por NFTs. É que, nesses casos, a precificação tem por pressuposto o valor de um intangível (ex: o valor da arte digital), dificílimo de ser calculado utilizando-se parâmetros objetivos.
Nesses casos, o único recurso é a pesquisa de valores de ativos similares, de coleções de mesmos artistas e/ou com igual grau de raridade. Isso poderá dar algumas pistas com relação à forma como o mercado vai entender o preço daquele criptoativo.
*Helena Margarido é especialista em blockchain e moedas digitais e sócia da Monett |
As informações desta coluna são de inteira responsabilidade do autor e não do InvestNews e das instituições com as quais ele possui ligação.
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