No mundo dos investimentos é comum se deparar com frases como “depreciação é uma despesa não-caixa” ou “os ativos imobilizados precisam ser depreciados”.
Entretanto, a depreciação permanece uma das linhas contábeis menos compreendidas entre investidores iniciantes.
Na edição de hoje, buscaremos desvendar este mistério, explicando desde o regime de competência até o CapEx e a depreciação. Esperamos que você goste.
O que é regime de competência?
O regime de competência é um termo da contabilidade que descreve a maneira como as entradas e saídas de dinheiro de uma companhia são reconhecidas no demonstrativo de resultados.
Para as empresas que seguem este regime, as receitas e despesas relacionadas à venda de um bem só são reconhecidas quando “os benefícios e riscos deste bem são transferidos para o cliente”.
Em outras palavras, o momento em que o dinheiro entrou ou saiu da empresa não importa para a contabilização do lucro. O que importa é o instante em que o bem é concedido ao cliente.
Pense, por exemplo, em uma fabricante de canetas esferográficas.
Para produzir uma caneta, ela precisa comprar tinta, plástico, aço e latão. Todas essas compras podem ser feitas à vista ou a prazo, de modo que é possível que saídas de caixa aconteçam em momentos distintos.
O mesmo acontece na venda da caneta: a fabricante pode optar por vender a prazo ou à vista.
Entretanto, o instante em que o dinheiro saiu do caixa da empresa para pagar sua matéria prima e o ponto em que o dinheiro entrou em seu caixa após a venda da caneta não importam para o regime de competência.
As despesas e receitas associadas à venda da caneta serão reconhecidas quando ela for entregue ao cliente, independente das saídas e entradas de caixa.
Mas o que isso tem a ver com depreciação?
A depreciação é uma despesa que é reconhecida muito depois da saída de caixa associada a ela. Isso acontece porque ela é o resultado de um investimento, cujo retorno esperado é de longo prazo: o CapEx.
O que é CapEx?
CapEx é o acrônimo associado à expressão em inglês “Capital Expenditures”, que significa “gastos com capital” ou “investimentos em bens de capital”.
De forma resumida, esse termo é utilizado para descrever os investimentos que uma empresa faz em capital fixo, como máquinas, fábricas, veículos, equipamentos etc.
Diferentemente da matéria prima, entretanto, os benefícios associados a estes investimentos são de longo prazo. O “retorno” de uma máquina, por exemplo, não se traduz em uma única venda, mas em múltiplas vendas consecutivas efetuadas ao longo de vários anos.
Nesse sentido, no regime de competência, não faria sentido reconhecer toda a despesa relacionada à compra da máquina de uma única vez. É aí que entra a depreciação.
Quando uma empresa realiza um CapEx, não há reconhecimento imediato de despesa no demonstrativo de resultados. Em vez disso, a despesa total desse investimento é reconhecida gradualmente na forma de depreciação ao longo de vários períodos subsequentes.
O que é depreciação?
A depreciação pode ser interpretada como “a perda gradual de valor dos ativos fixos de uma companhia”.
Quando uma empresa compra uma máquina, por exemplo, este ativo perde valor ao longo dos anos: as peças ficam gastas, os parafusos enferrujam, surgem máquinas mais potentes etc. A depreciação busca capturar essa desvalorização no decorrer do tempo.
De forma mais objetiva, entretanto, a depreciação é simplesmente o reconhecimento gradual do investimento feito em um ativo fixo no passado.
As duas formas mais comuns para se calcular a depreciação de um ativo fixo são linha-reta e unidades produzidas.
No caso da depreciação em linha reta, estima-se a vida útil de um ativo em número de anos e se reconhece a despesa em partes iguais ao longo desses anos.
Suponha, por exemplo, a compra de uma máquina por R$ 100 mil cuja vida útil seja de 10 anos. Então, neste caso, a depreciação por linha reta seria de R$ 10 mil por ano.
Já no caso da depreciação por unidades produzidas, estima-se a vida útil de um ativo com base no número de bens que ele poderá produzir.
Se, por exemplo, a expectativa é de que uma máquina que custou R$ 100 mil produza 10 mil itens, então, para cada item produzido, deprecia-se R$ 10,00 (R$ 100 mil / 10 mil).
Há, ainda, outros tipos de reconhecimento de depreciação sobre os quais não entraremos em detalhe nesta edição.
A depreciação é uma das despesas menos compreendidas entre investidores iniciantes. Como vimos, ela representa o reconhecimento contábil de um investimento feito no passado por uma empresa.
A razão por trás desse método está no regime de competência, que determina que as receitas e despesas associadas à venda de um bem devem ser reconhecidas apenas quando este bem é transferido ao cliente.
Esperamos que você tenha compreendido um pouco mais sobre este importante conceito no mundo dos investimentos!
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As informações desta coluna são de inteira responsabilidade do autor e não do InvestNews e das instituições com as quais ele possui ligação.
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