Em 12 de janeiro, quando essa coluna ainda não existia, minha primeira participação no InvestNews foi para responder se donos de carros da Ford teriam dor de cabeça para vender seus veículos após o anúncio do fim da produção local da fabricante americana.

Minha resposta, na época, foi que, se a Ford “cuidasse” de seus clientes, isso dificilmente aconteceria.

Pouco mais de 2 meses depois, digo que errei. Não que a Ford esteja dando as costas para os consumidores. A empresa até fez uma campanha pedindo a confiança do público, apesar da enorme incerteza em torno principalmente da rede de concessionárias da marca.

Mas o mercado tem se mostrado implacável com alguns carros da Ford. Enquanto diversos modelos usados têm se valorizado, por conta da menor disponibilidade e consequente alta dos preços dos carros novos, o Ka, por exemplo, perdeu valor.

Concessionária da Ford/ Divulgação

O mais recente estudo Performance de Veículos Usados da consultoria MegaDealer mostra que o preço de venda de unidades usadas do Ka ficou 5% mais baixo em apenas um mês.

Isso em um momento em que o mercado de carros seminovos e usados vê os preços subirem pela falta de oferta de modelos novos.

A disparidade entre o Ka e os demais modelos fica evidente na comparação com a variação de preços de venda entre outubro e fevereiro do mesmo estudo da MegaDealer.

Nesse período, o Ka desvalorizou 2%, enquanto antigos concorrentes, como Chevrolet Onix e Hyundai HB20, fizeram o movimento contrário, com valorização próxima a 7,5%.

Se levarmos em conta outro estudo, desta vez da Agência AutoInforme, o hatch compacto com maior valor de revenda em 2020 foi o Hyundai HB20, com depreciação ANUAL de 9,2%. Ou seja, se seguir nessa toada, o Ka, ao final de um ano, deve sofrer uma desvalorização considerável.

Estoques no fim

Sem produção desde janeiro, o Ka ainda pode ser encontrado nas lojas, mas os emplacamentos mostram que os estoques já estão no fim.

Em fevereiro, foram apenas 1.488 unidades comercializadas em todo o país, segundo a Fenabrave. Ele foi o 30º mais vendido, muito distante dos meses anteriores ao fim da produção, quando brigava pela vice-liderança do mercado.

Mesmo em maio de 2020, pior mês de vendas desde o início da pandemia, o desempenho foi melhor, com 1.719 unidades emplacadas.

Até 21 de março, os resultados são ainda mais tímidos – menos de 1.000 exemplares vendidos.

O fraco desempenho significa que os estoques das lojas podem estar no fim – mas também que o público se desinteressou pelos modelos da empresa.

Nesse cenário, quando muitas lojas tentam queimar seus estoques, pode surgir uma oportunidade de o comprador barganhar um preço melhor. Só é preciso considerar que a desvalorização em um futuro próximo pode ser maior. Assim, a dica é válida para quem pretende ficar mais tempo com o veículo.

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