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Infiltrado na Limer

WEB3 é mais um espaço de agravamento das desigualdades?

Estudos e pesquisas revelam que desigualdades de raça, gênero e classe tendem a migrar da realidade não-virtual para a digital perpetuando seus aspectos negativos no ambiente digital

Globe Internet Icon Line Connection of Circuit Board

Pensar em futuro é pensar em digital. Para além do que vivemos e usamos em nosso cotidiano, existe a emergência contínua de avanços tecnológicos que vão sendo incorporados a nossa vida e, até, podem funcionar como extensões de nossos corpos. Há, ainda, espaços em plena expansão no digital, com potencial inexplorado. Nesse contexto temos oportunidades e potencial para crescer a partir da Creator Economy (Indústria de Criadores), no cenário da  Web3, que é uma nova fase da internet em plena expansão.

A partir do protagonismo do blockchain, que é uma tecnologia na qual dados são criptografados e armazenados em blocos que se interconectam carregando suas próprias informações e a de blocos antecessores, em cadeia. A partir da vivência de novas tecnologias, dos canais e da transparência que o blockchain permite, chegar a um novo mundo, cheio de possibilidades, com a cocriação entre marcas, pessoas criadoras e as suas comunidades. 

No âmbito do ESG, assim como em outros setores, torna-se impossível não colocar expectativas, fazer apostas e vivenciar essa nova era, sem deixar de refletir e agir para que – efetivamente –  a chegada de novas tecnologias também produza meios de democratização do acesso de grupos sub representados. Ao mesmo tempo, observamos a possibilidade do Creator Economy também ser um lugar de discriminação, de manutenção de privilégios e desigualdades.

No Brasil, segundo a pesquisa Youpix & Brunch, Creator e Negócios 2022, as mulheres são maioria no grupo de criadores (63,4%), mas são os homens que mais faturam. Segundo o estudo, 11,1% dos homens brancos faturam acima de R$20.000,00 enquanto as mulheres não-brancas que faturam o mesmo valor representam 1/3 do percentual dos homens brancos. Ou seja, se observa e documenta, a partir da pesquisa, a reprodução de desigualdades históricas num ambiente contemporâneo que se apresenta num viés futurista.

Como cantou Cazuza, “eu vejo o futuro repetir o passado, eu vejo um museu de grandes novidades”. E aí temos mais um exemplo dessa repetição quando aferimos que, no mundo das NFTs, mulheres recebem valores abaixo dos homens. Elas representam apenas 4% do total de vendas de NFTs globalmente desde fevereiro de 2020. Ou seja, homens são maioria nesse mercado como compradores e vendedores.

Podemos fazer um questionamento pertinente a esses dados: Que economia é essa? Para quem? Mesmo num ambiente de vanguarda transportam-se as desigualdades e problemas que impactam diretamente nas relações institucionais sobre as quais a agenda ESG se pauta? Como reverter essa situação de manutenção do status quo em espaços de inovação quando sabemos que há potencial para ruptura?

Nesse contexto, damos destaque ao lançamento da Nina Verso, avatar de Nina Silva, integrante do Movimento Black Money, na Web 3, que aconteceu em 11 de novembro. A partir de reflexões e questões sobre problemas de raça e gênero – que estão nos espaços institucionais – estarem migrando para a Web3, que deveria ter igualdade, a chegada da Nina Verso é uma quebra nessa reprodução indesejável.

Esse lançamento do avatar é uma aposta de que a Web3 materializa a possibilidade de democratização por permitir às comunidades tomarem decisões, engajarem e trazerem audiência para o que realmente for relevante. Nina afirma que “esse novo momento propicia uma melhor oportunidade de criatividade, de sermos realmente proprietários e proprietárias das nossas obras, dos nossos serviços materializados, da nossa criatividade e a serviço de algo muito maior.”

E é para isso que a Nina Verso vem e reafirma a coerência e necessidade urgente de inserção nesse cenário, reforçando que não é possível falar a partir de um conjunto de crenças e agir de outra maneira, ainda mais que o metaverso é uma integração de uma única realidade, que já existe. As relações vão ser cada vez mais virtuais e com tecnologias que se integram ao nosso dia a dia para ser instrumento de avanços, as novas tecnologias têm que vir para melhorar nossa realidade e não para reproduzir ou ampliar desigualdades.

A Nina Verso é uma extensão das ações da Nina Silva, CEO do Movimento Black Money, eleita a mulher mais disruptiva do mundo em 2021, pela Women in Tech Global Awards, e conselheira da startup Biobots, responsável pelo avatar, uma iniciativa com mais ênfase no digital, com uma linguagem mais amplificadas e se constitui num marco, pois a Nina é uma das primeiras pessoas negras a entrar nesse universo de humanos digitais, onde as pessoas pretas são raras, especialmente no Brasil.

Além disso, a maioria que coloca seu avatar nesse ambiente tem um perfil bem distinto da Nina Silva, pois são celebridades, marcas consolidadas, artistas, atletas, jogadores. Nesse cenário, são pouquíssimas pessoas do âmbito de negócios e da inovação de start-up, que pregam impacto positivo, que acabam conseguindo também ter essa articulação na área de avatares e influenciadores digitais.

A chegada da Nina Verso está fincada nessa problematização, mas também traz soluções a partir da economia de comunidade, com o objetivo de se utilizar das economias digitais para melhoria da nossa sociedade como um todo. Essa iniciativa também se alinha com o projeto EVE, do qual a fundadora do Movimento Black Money faz parte e que objetiva a democratização das NFTs para mulheres, assim como o acesso à Web3.

Sobre esse contexto da desigualdade que se perpetua até nos ambientes que projetam futuro e tem condições que propiciam democratização, a Nina Silva traz vários questionamentos: “Quem é que está realmente girando essa economia nessas novas oportunidades? Quem são esses avatares, quem são essas pessoas  influenciadores digitais? Criadores digitais estão se tornando suas próprias marcas e, talvez, derrubando grandes marcas, mas quem são? São os de sempre, que já tinham capital e estão se transferindo para o capital digital e no metaverso?”.

Isso é mais urgente quando pensamos que, nesse universo, para crescer precisa de investimento direto e isso facilita a inserção de quem já detém capital, abre as possibilidades de ser pioneiro e aumenta as chances de crescer no digital de quem já tem boas condições no analógico.

Diante desses dados, iniciativas e preocupações compartilhadas, o que verificamos é que essa pauta deve estar na agenda ESG, deve ser levada em conta em programas e iniciativas, ser integrada como parte do conjunto de desigualdades a serem enfrentadas, pois há empresas e pessoas que já estão nessa era. Mais uma frente de batalha para fazer inclusão, fomentar diversidade, em vez de aumentar o fosso que – aferimos – também se instala no digital.

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