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Nosso único desafio é fazer as escolhas certas

Gerd Leonhard, o principal futurista da Europa, mostra que os próximos dez anos serão decisivos para aproveitarmos as oportunidades que vão surgir com a expansão de tecnologias e a valorização de novas áreas no mercado.

Historicamente, muitas oportunidades surgem no mercado em cenários de crise como este de pandemia. Já temos visto, por exemplo, novos negócios no comércio online, a telemedicina se expandindo em meio às medidas de distanciamento social, novas relações sendo criadas com trabalhos remotos, entre outros avanços.

Esses são movimentos recentes, pois a grande questão no momento é saber como prosperar nos negócios em um mercado que passa por uma verdadeira revolução causada pela transformação digital e o uso de novas tecnologias.

MENTES BRILHANTES:

Foi com esse interesse em saber o que nos espera nos próximos anos que bati um papo sobre economia exponencial com Gerd Leonhard, CEO da The Futures Agency e reconhecido como o maior futurista da Europa sendo autor de cinco livros que abordam a relação da tecnologia com a humanidade, e as fronteiras entre a atuação dos humanos com as máquinas.

Para Gerd, os próximos dez anos serão de quebras de paradigmas, onde haverá mais mudanças do que as ocorridas em todo o último século. Por conta disso, esse período que se inicia será de enormes oportunidades devido a valorização de novas áreas da sociedade e a maior convergência de tecnologias com indústrias como Energia, Agricultura e Saúde. E aponta que será um período excelente para “nos reinventarmos”, onde o fundamental para nós será entender todo esse cenário de mudanças para fazer as escolhas certas.

Para o mercado brasileiro, por exemplo, ele cita o grande potencial em áreas com energia renovável, já que a questão em relação às mudanças climáticas estarão cada vez mais em evidência, e também em Saúde, onde a telemedicina terá grande demanda por conta das dimensões do nosso país.

Ao falar sobre como lidamos com as mudanças impostas pelas inovações e nos adaptamos hoje ao que fará a diferença no futuro, ele usa um conceito interessante que é “Gradually, then suddenly”, frase retirada de um diálogo da obra “The Sun also Rises”, de Ernest Hemingway.

Um bom exemplo é o home office, que há alguns anos já era adotado por algumas empresas mas que, de repente, se tornou algo usual e necessário para grande parte do mercado devido à pandemia, mas que será mantido no pós-crise.

Em sua apresentação “Os próximos 10 anos: Cenários e Previsões – Humanos e Máquinas”, o futurista alemão divide sua tese sobre as oportunidades que vão surgir relacionando a influência das tecnologias em nossa sociedade em dez pontos chave:

  • Futuro será exponencial e convergente, com temas surgindo e se tornando prioridade rapidamente (ex: diversidade e inclusão) e maior interação das máquinas com ações humanas a partir de tecnologias como Inteligência Artificial e Machine Learning;
  • Oportunidades geradas pela maior conectividade, onde as máquinas e dispositivos inteligentes têm papel essencial pela automatização – expansão de smart cities, smart building, smart banking, smart home, smart health, etc;
  • Momento de nos reinventarmos pois vamos passar por um período de grandes transformações. Se por um lado um negócio entra em crise, oportunidades vão surgir em áreas voltadas à educação, saúde, economia sustentável, mudanças climáticas etc… além de movimentos importantes voltados às minorias;
  • O impacto das mudanças climáticas em setores da economia como, por exemplo, em combustíveis fósseis que, segundo Gerd, não existirão mais até 2030. Por outro lado, a economia circular se fortalecerá em áreas como Alimentação, Infraestrutura e Energia, gerando US$ 10,1 trilhões em oportunidades de negócios por ano, e 395 milhões de novos empregos;
  • Surgimento de um novo capitalismo com a tecnologia sendo essencial para solucionar problemas da sociedade como mudanças climáticas, igualdade e diversidade, fome e pobreza. Os novos modelos de negócios estarão baseados em quatro pilares: pessoas, planeta, proposta e prosperidade;
  • Limites para usar a tecnologia para que ela não se torne prejudicial, onde os dados podem trazer muitos benefícios mas também ser usado como armas contra a sociedade. Para Gerd, é fundamental a criação de um Conselho de Ética Digital para que possamos aproveitar de maneira inteligente a eficiência das máquinas;
  • Na relação entre máquinas e humanos, temos como diferencial o conhecimento HECI (Humanidade, Ética, Criatividade e Imaginação), que é o que vai prevalecer em relação às habilidades que serão ocupadas pelas máquinas;
  • A automatização colocará um fim à rotina, mas não ao trabalho humano. Nos próximos anos, tudo o que não pode ser digitalizado e automatizado será valorizado pois as máquinas não têm habilidades como criatividade imaginação, ética, empatia, emoção e intuição;
  • O mais importante para as empresas não é ter novas tecnologias mas sim cultura e posicionamento dentro do negócio. A digitalização estará em todo o mercado e o diferencial estará no poder de resiliência, criatividade e agilidade da companhia no mercado;
  1. O futuro será melhor do que a gente pensa, mas é preciso construí-lo de maneira inteligente. E para isso, temos que investir nas mesmas proporções tanto em tecnologia quanto nas pessoas (educação, treinamentos, estrutura social, serviços sociais, saúde, etc).

Uma frase interessante do futurista alemão sobre os próximos anos é que “precisamos moldar o futuro para que não sejamos moldados por ele”. Dentro desse contexto, o que mais chamou a atenção em sua visão é que, mesmo em um mundo cada vez mais dominado pelas máquinas, o grande diferencial continuará sendo as pessoas e suas capacidades de pensar, criar e imaginar. Ou seja, independente das transformações ocorridas com o advento de novas tecnologias, se mantém imprescindível os investimentos em áreas que são base de nossa sociedade como Educação e Saúde pois a diferença está no próprio ser humano.

A pandemia tem acelerado a transformação digital nas mais diversas áreas da economia. Como você enxerga o mercado daqui alguns anos?

Uma coisa é certa: quando essa crise acabar nós não vamos mais voltar ao normal, ao que estávamos acostumados antes pois já mudamos nossa maneira de pensar. Hoje já temos novas expectativas e uma percepção maior sobre a importância das tecnologias para os negócios. Vamos ver nos próximos anos uma convergência muito maior das indústrias com uso de tecnologias em setores como energia, agricultura, saúde… a telemedicina já é uma realidade e vai se expandir mais ainda, sendo muito importante para países com grande demanda e das dimensões como o Brasil.

Antes, o futuro era linear, com o hoje parecido com o amanhã, mas agora as mudanças serão exponenciais, mais repentinas. Agora imagine daqui alguns anos com bilhões de pessoas conectadas com tecnologia 5G em todo o lugar, conexões entre máquinas e dispositivos, carros autônomos, estruturas inteligentes… Temos que estar preparados para isso pois nosso cérebro não é exponencial e nessas transformações as máquinas estão muito à nossa frente.

Desde o início do uso de novas tecnologias e a expansão dos processos automatizados se fala na substituição do trabalho humano pelas máquinas. Como você enxerga esse movimento nos próximos ano?

Nosso maior desafio não é as máquinas assumirem o controle de tudo, e sim nos tornarmos iguais a ela. Nos próximos anos, tudo o que não pode ser digitalizado e automatizado, passará a ser valorizado. As máquinas vão assumir atividades que são rotina e realizadas em repetição, o que não ocorre na criatividade, imaginação, ética, empatia, emoção, intuição… o diferencial humano está nessas habilidades. Até 2037, as oportunidades de trabalho serão reduzidas em áreas como manufatura, armazenamento, transporte, finanças e seguros, mas estarão em alta profissões onde há mais humanização, como saúde, comunicação, educação, ciências, etc.

Você é um crítico do Facebook, por ser uma ferramenta que, provavelmente, tem causado mais males do que benefícios. O que devemos fazer e como os países europeus estão lidando com essa questão?

O limite entre pessoas e máquinas está desaparecendo dia após dia. Como você avalia as discussões entre os governos no uso de dados pessoais e riscos cibernéticos para a sociedade?

Esta é a pergunta mais importante do momento porque as máquinas estão cada vez mais poderosas, todos os nossos dados estão indo para a nuvem. Isso pode ser bom se quisermos curar o câncer, nossa única escolha será colocar nossos dados na nuvem. É assim que a gente vai desenvolver a vacina contra o coronavírus pois temos inteligência artificial e dados na nuvem. Por outro lado, teremos que ter confiança na nuvem, com dados em segurança, pois eles podem se tornar uma bomba nuclear. Tem que ter um equilíbrio, com algum órgão supervisionando tudo isso. Isso é muito difícil, mas esse é o futuro e temos que ter esse compromisso.

Apesar das previsões e tendências para os próximos anos, é difícil prever o que vai acontecer realmente daqui 2, 5 ou 10 anos. Mas ter a oportunidade de ouvir um dos maiores especialistas sobre a relação entre as tecnologias e a humanidade, e grande visionário como é Gerd Leonhard, nos dá uma segurança muito grande em encarar esse futuro tão desafiador. E como ele mesmo diz, independente da área de atuação e do que possa vir a acontecer, teremos toda a ciência e tecnologia ao nosso alcance para o que precisarmos, nosso único desafio será fazer as escolhas certas.

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