A crise sanitária instalada pelo vírus da covid-19 acelerou a prática de muitas tendências, mas também revelou expectativas, que na prática, se mostraram simuladas e insuficientes.
Na área de educação, a pandemia afetou mais de 1,5 bilhão de alunos no mundo. O fechamento de escolas e universidades obrigou o sistema educacional a recorrer aos modelos de ensino à distância. Alunos, professores e pais tiveram que se adaptar, em um curto espaço de tempo, ao uso de novas tecnologias de ensino e a interação através de plataformas.
As edtechs, empresas que utilizam novas tecnologias para desenvolver soluções inovadoras na área de educação, e seus respectivos investidores – angels, ventures e privaty equities – imaginaram estar diante de uma grande janela de oportunidade. Não à toa, os investimentos em capital de risco destinados às edtechs, entre os anos de 2018 e 2020, praticamente duplicaram – de US$ 8,2 bilhões em 2018 para US$ 16,1 bilhões em 2020.
Apesar do aporte maciço de recursos, as ferramentas virtuais falharam ou não apresentaram a abrangência de mercado proporcional as expectativas.
Alunos submetidos aos modelos de ensino online desenvolveram altos níveis de ansiedade, isolamento e baixa disposição para os trabalhos escolares, além de um grau de aprendizado evidentemente inferior. Ao mesmo tempo, professores reclamam do esgotamento causado pelo aumento das horas trabalhadas, a maior dificuldade de motivar e reter os alunos e a falta de estrutura de apoio.
A tecnologia da inovação moderna, caracterizada pela acessibilidade, também apresentou um modelo de ensino remoto particularmente difícil aos mais vulneráveis, especialmente aqueles com dificuldades de aprendizado e de acesso a recursos digitais, com ambientes domésticos inapropriados ou sem suporte.
Por fim, os pais tiveram que investir boa parte de seu tempo motivando e complementando o ensino remoto, além de gerenciar a agenda de atividades escolares de seus filhos.
A experiência vivida na área educacional, a partir da crise instalada pela covid-19, não apagou o enorme potencial da digitalização para a melhora do ensino, mas colocou em discussão a sua validação e abrangência.
Provavelmente, a inovação demandada pela sociedade e pelo mercado na área educacional não está condicionada a introdução de novas tecnologias, mas sim a introdução de novas estratégias pedagógicas, que devem incluir o desenvolvimento de competências cognitivas relacionadas.
Seja através de acessos digitalizados ou presenciais, as inovações genuínas dos modelos de ensino envolvem os quatro pilares da educação apresentados pela Comissão Internacional de Educação para o Século XXI (Unesco), aprender a aprender, aprender a fazer, aprender a conviver e aprender a ser.
Essas inovações genuínas, não foram provocadas ou impostas por novas tecnologias, como acessos virtuais, inteligência artificial ou realidade aumentada, mas por mudanças sociais e de mercado.
Inovações genuínas dos sistemas de ensino:
- Aprendendo a aprender: este tipo de aprendizagem é radicalmente diferente do processo utilizado no currículo convencional, que enfatiza a aquisição de informações codificadas, implica no domínio dos instrumentos de conhecimento.
- Aprendendo a fazer: neste contexto, os conteúdos e as tecnologias se tornam secundários, prioriza a educação técnico-profissional e o treinamento de habilidades comportamentais, relacionadas ao trabalho em equipe; construção de relações interpessoais significativas; gerenciamento de conflitos, avaliação de risco, adaptabilidade as repetidas mudanças do mercado de trabalho e da sociedade.
- Aprendendo a conviver: envolve o desenvolvimento de um comportamento social cooperativo, atenção ao compartilhamento, respeito as diferenças culturais, e competência em trabalhar para objetivos comuns.
- Aprendendo a ser: envolve aprender a ser humano, antes de ser tecnológico; determina um currículo voltado a realização pessoal de cultivar qualidades de imaginação e criatividade; adquirir valores universalmente compartilhados.
Um excelente 2022 a todos!
*Claudia Kodja, mentora da Liga dos Empreendedores da FGV, membro da Copenhagen Institute for Futures Studies e gestora executiva da Kodja Escola de Negócios. |
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