A era dourada do acesso à música trouxe consigo a promessa de playlists para todos os gostos e momentos. O que antes era apenas entretenimento e não era visto com bons olhos em ambientes profissionais, hoje já é visto como uma ferramenta importante para estimular a atenção e o desempenho de equipes. Com as plataformas de streaming oferecendo um catálogo cada vez mais vasto e acessível, a música se tornou parte do cotidiano de muitos trabalhadores, incluindo cientistas, que buscam melhorar a performance no local de trabalho. Entretanto, psicólogos organizacionais reiteram a importância de avaliar com cautela os complexos impactos que a música pode ter nas atividades antes de dar o play.
A música afeta todas as regiões do cérebro e tem influência em processos emocionais, motores e cognitivos, uma vez que os neuroquímicos liberados pelo cérebro ao processar os sons podem impactar todo sistema nervoso. Pesquisas realizadas por Andrea Caputo, da Universidade de Turim, concluíram que o uso da música como ferramenta de estímulo emocional está positivamente relacionado à satisfação no trabalho, e sugerem um potencial impacto positivo na produtividade. Para chegar lá, contudo, não basta tocar qualquer playlist. É preciso estudar o ambiente e os efeitos (e consequentes riscos) da música como um todo.
O efeito musical no foco na atenção é determinado justamente pelas emoções geradas por cada som. Por isso, o ideal seria que os indivíduos pudessem participar da escolha do repertório mais apropriado para si. As preferências individuais e até mesmo memórias (positivas ou negativas) atreladas a determinadas músicas dificultam que haja um padrão de recomendações. Em geral, as recomendações comuns são, por exemplo, evitar músicas em tons menores (que podem gerar emoções negativas) e preferir músicas de até 60 bpm (batidas por minuto), equivalentes às batidas do coração, a fim de proporcionar maior tranquilidade e equilíbrio.
Em conclusão, a influência da música no local de trabalho é um campo de estudo intrincado e altamente personalizado. O uso estratégico da música pode ajudar no foco e na atenção, mas não deixa de ser um desafio, já que os indivíduos e contextos podem ser muito peculiares. Do ponto de visa de gestão de pessoas, é preciso ter cuidado para que uma iniciativa bem intencionada não vire um tiro no pé. Vale questionar: se o sucesso da estratégia está na personalização, fones de ouvido não deveriam funcionar muito melhor do que caixas de som?
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